15° Congresso Brasileiro de Clínica Médica e 5° Congresso Internacional de Medicina de Urgência e Emergência

Dados do Trabalho


Título

Peculiaridades epidemiológicas, efeitos e atualidades da Polifarmácia: Uma revisão de literatura.

Fundamentação/Introdução

Ao longo dos séculos foram verificadas importantes modificações nas características demográficas e nos processos envolvendo a morbimortalidade ao redor do mundo. Dentre essas alterações que ocorreram na sociedade, podemos destacar algumas variáveis importantes como a redução da fecundidade e da mortalidade por doenças infecciosas que, por consequência, acabaram elevando a expectativa de vida, mas também ascenderam os números das mortes por mazelas crônicas. Levando em consideração que a polifarmácia é definida como o uso de 5 (cinco) ou mais medicamentos, é válido ressaltar que essas mudanças sociodemográficas e epidemiológicas supracitadas acabaram por favorecer uma nova perspectiva para o uso de fármacos.
Com o aumento da longevidade, nota-se uma crescente na prevalência de tratamentos medicamentosos de longa duração, bem como na multiplicidade de fármacos utilizados por um mesmo paciente. Essa condição é notoriamente constatada em indivíduos idosos, dado que estes acabam cursando com alguma cronicidade patológica que necessita ser tratada em um determinado período de suas vidas.
O grande temor envolvendo a polifarmácia gira em torno dos seus potenciais efeitos colaterais negativos nos pacientes, sobretudo nos idosos. As complexas interações medicamentosas, que muitas vezes não são completamente conhecidas, são as principais causas dos processos envolvendo a morbimortalidade. Nota-se essa situação quando se verifica que quantidades significativas de admissões nos centros de urgência e emergência pelo mundo são atribuídas a complicações farmacológicas. No Brasil, a Pesquisa Nacional sobre Acesso, Utilização e Promoção do Uso racional de Medicamentos (PNAUM) vem como uma indispensável iniciativa, por parte do Ministério da Saúde, com o intuito de instruir o planeamento do tratamento farmacológico principalmente aos idosos, bem como elencar protocolos médicos para o controle nacional de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) em todo o território nacional. Essa ação governamental acabou traçando as peculiaridades regionais, sociodemográficas e de saúde para estabelecer parâmetros de correlações importantes entre a polifarmácia e as mais destacadas polimorbidades.
A Lei nº 9.782 de 26 de Janeiro de 1999 criou, no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) responsável por promover a proteção da saúde da população pelo controle sanitário da produção e comercialização de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, bem como do monitoramento de medicamentos do mercado, buscando sempre a boa qualidade, eficácia e segurança. Outrossim, há algumas morbidades frequentes nos pacientes. Destacando-se as patologias cardiovasculares e metabólicas que comumente se fazem presentes em indivíduos idosos, muitas prescrições médicas acabam atingindo e, até mesmo, ultrapassando os limites de cinco ou mais esquemas farmacológicos para uma finalidade terapêutica.
Tomando como base as principais interações medicamentosas, percebe-se que os eventos negativos mais prevalentes dentro do cenário apontado perpassam pela elevada nefrotoxicidade, alto risco hemorrágico e descompensação cardíaca. Efeitos colaterais esses muito comuns nas prescrições indevidas de anti-inflamatórios não esteroides, por exemplo.
Os mais diversos e complexos efeitos colaterais, as facilidades na aquisição de medicamentos e, destacadamente, prescrições terapêuticas que se enquadram no conceito de polifarmácia, constituem-se como fenômenos que se fazem indispensáveis a estruturação de estudos e discussões para a melhor compreensão e um manejo mais adequado dessas situações.

Objetivos

Verificar na literatura, em nível global e regional, as peculiaridades epidemiológicas atuais e relevantes acerca da polifarmácia. Além de investigar os atuais desafios da Atenção Básica no manejo da polifarmácia, apurar as principais drogas adotadas, assim como suas manifestações patológicas em pacientes que fazem uso da polifarmácia e Investigar a influência médica no contexto atual da polifarmácia.

Delineamento e Métodos

O estudo se caracteriza como uma revisão integrativa da literatura. Sendo esse tipo de estudo apropriado para fins de uma maior fundamentação teórica sobre um determinado assunto. Dessa forma, este trabalho foi realizado a partir da compilação das principais informações, presentes na literatura médica recente, acerca da polifarmácia.
Foram incluídos apenas os estudos recentes que abordam os aspectos da temática da polifarmácia, indexados nas principais bases de dados da área da saúde (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde – Lilacs; Scientific Electronic Library Online – Scielo; Medical Literature Analysis and Retrieval System Online – Medline; Cochrane Library; etc.) adotando os descritores MESH: “polypharmacy”, “side effects”, “risk”. Além disso, os trabalhos foram classificados como fontes atuais somente aqueles que possuíram um tempo de publicação de até 10 (dez) anos desde sua indexação até o ano de elaboração do presente estudo. Na seleção dos trabalhos, foi contabilizado uma amostra final de 23 artigos.
A análise estatística e representação gráfica dos resultados dos estudos escolhidos foram feitas por meio da utilização das ferramentas dos softwares: Excel, Word 2013 e Bioestat 5.3.

Resultados

A faixa etária dos pacientes foi objeto de atenção em praticamente todos os estudos selecionados. Apesar da preponderância de casos de polifarmácia envolvendo adultos e idosos, alguns pesquisadores apontam para uma prevalência média de 40% de polimedicados infantis na Ásia e América do Norte, principalmente pelo uso de psicotrópicos. Entretanto, as análises dos estudos escolhidos foram, de sobremaneira direcionadas à população adulta e idosa (na faixa etária de 45 e 64 anos, em média), dado às pertinentes relações estatísticas entre as doenças crônicas e a polifarmácia.
Tratando-se de prevalência, foram notadas algumas semelhanças entre estudos: em uma análise, abordando especificamente a atenção primária brasileira, atestaram uma prevalência de 9,4% de polimedicados em seus achados, enquanto que um outro estudo realizado em 2019 mostra uma proporção de 8,7% de sauditas que se enquadravam nos critérios de polifarmácia. Valendo-se apenas do estudo brasileiro, os autores destacaram que cerca de 5% dos pacientes polimedicados da atenção básica acabam sofrendo alguma reação adversa que, por conseguinte, procuram por serviços de emergência ou hospitalizações.
Sob um aspecto regional, foi realizada uma pesquisa na cidade de Manaus (Amazonas, Brasil) que destacou uma prevalência de 19,3% dos pacientes idosos entrevistados dentro “dos cinco ou mais esquemas medicamentosos”. Ainda nesse estudo, as variáveis de sexo, faixa etária, classe social e estado civil não obtiveram relevância estatística. Porém, foi verificado que à medida que esses idosos tinham uma piora do seu quadro clínico, a prevalência da polifarmácia aumentava. Uma gama de estudos afirma que desde o final do século passado até os dias atuais, as doenças crônicas foram aumentando suas manifestações em quantidade. A resistência dos agentes etiológicos, a dinâmica da sociedade, iatrogenia e outras inúmeras variáveis permitiram com que os padrões de doenças crônicas fossem se modificando ao longo do tempo. Nesse sentido, um estudo de 2018 elenca o perfil epidemiológico de adultos maduros que estão enquadrados do que se entende como polifarmácia. Os esquemas terapêuticos múltiplos e de longo prazo tiveram que surgir para conter a progressão das doenças crônicas.
Um outro estudo aponta justamente para essa realidade de polimedicados idosos de uma área urbana do nordeste brasileiro. Os autores constataram uma prevalência de 11% de polifarmácia em cerca de 342 pacientes em uso de medicamentos naquela ocasião.
Em grande parte dos artigos selecionados, pôde-se notar o destaque a uma questão crucial no que diz respeito aos pacientes polimedicados: as reações adversas medicamentosas. Em um dos artigos, os autores apontam para uma prevalência de polifarmácia em seus achados de 44,6%, além de 72,3% de interações droga/droga e a presença de 42,1% de medicações potencialmente inapropriadas. Nesse sentido, alguns autores direcionam para eventuais casos de iatrogenia por prescrição de esquemas terapêuticos indevidos e prováveis sequelas sistêmicas decorrentes disto.
Ademais, outros trabalhos evidenciaram um fato interessante ao verificar que em pacientes idosos com mazelas crônicas em uso da polifarmácia, por automedicação e/ou por fármacos prescritos por médicos, a perspectiva de sobrevida após cinco anos de polimedicação foi de 77,2%, enquanto que para os não polimedicados foi de 85,5%. Salienta-se que a polifarmácia pode agir como um verdadeiro preditor de morbimortalidade, principalmente em pessoas idosas.

Conclusões/Considerações finais

Com este estudo, foi possível evidenciar que está ocorrendo um aumento na prevalência da polifarmácia em nível global, sobretudo em regiões onde há numerosas manifestações de doenças crônicas, destacando-se as cardiovasculares e metabólicas principalmente em idosos. Apesar da faixa etária idosa dominar os casos de polifarmácia, o aumento da polimedicação em jovens, com o uso de psicotrópicos, e adultos, com esquemas terapêuticos crônicos semelhantes aos dos idosos, refletem a dinamicidade dos fenômenos epidemiológicos ao longo das gerações. Além disso, os efeitos negativos da polimedicação, causados em sua maioria por reações e interações farmacológicas, estão influenciando de maneira direta na redução da sobrevida de pacientes, especialmente os idosos. Outrossim, vale destacar o alavancar do número de atendimentos a pacientes em centros de emergência e hospitalização com o fenômeno da polifarmácia, aumentando os custos nestes serviços. Desse modo, é de fundamental importância a aplicação e fiscalização de protocolos terapêuticos medicamentosos racionais aos pacientes de maneira a reduzir os processos de morbimortalidade relacionados à polifarmácia, principalmente de causa iatrogênica.

Palavras-chave

Área

Clínica Médica

Instituições

Esamaz - Pará - Brasil, UEPA - Pará - Brasil

Autores

Letícia Cunha Andrade, Ramon William Silva Rezende, Danielle Moreno Fernandes Furtado, Tayana Nascimento Silva, Darley Maciel Silva, Heruenna Castro Silva Conceição