15° Congresso Brasileiro de Clínica Médica e 5° Congresso Internacional de Medicina de Urgência e Emergência

Dados do Trabalho


Título

ACOMETIMENTO PULMONAR E ARTICULAR SECUNDÁRIO A SÍNDROME DE LEMIERRE: RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA

Introdução/Fundamentos

A tromboflebite séptica da veia jugular interna (TVJI), também conhecida como Síndrome de Lemierre (SL), é uma condição rara, porém com alta morbimortalidade. Ela se caracteriza tromboflebite da veia jugular interna e embolismo séptico, na história de infecção recente da orofaringe, além de sinais radiológicos e isolamento de patógenos anaeróbicos, principalmente o Fusobacterium necrophorum. É uma doença que está ressurgindo devido à utilização irracional de antimicrobianos e, portanto, a resistência microbiana então gerada [1].
Neste artigo, relatamos um caso de Síndrome de Lemierre, e assim realizamos uma revisão bibliográfica confirmando e justificando a raridade dos casos, além de sua metodologia diagnóstica e terapêutica.

Objetivos

Relatar e discutir o caso de tromboflebite séptica com acometimento secundário pulmonar e articular em uma paciente com histórico de carcinoma de nasofaringe associado ao vírus Epstein-barr.

Caso

Paciente do sexo feminino, 13 anos de idade, com antecedente recente de carcinoma de nasofaringe associado ao vírus Epstein-Barr (estadiamento T4N2M0), linfadenectomia e esvaziamento cervical linfonodal à esquerda, biópsia de orofaringe e traqueostomia. No seu pós-operatório de esvaziamento cervical linfonodal esquerdo, inicia com quadro de mialgia intensa, secreção purulenta em ferida operatória (FO), lesões infectadas em membros inferiores e sinais de choque, evoluindo com petéquias pelo corpo, dificuldade respiratória e oscilações do nível de consciência. Neste momento, iniciou-se antibioticoterapia com cefepima e vancomicina.
Durante o processo de intubação orotraqueal (IOT), broncoaspirou e evoluiu com parada cardiorrespiratória por hipóxia durante cerca de 15 minutos, revertida com sucesso, além de traqueostomia realizada posteriormente. Após realização de doppler venoso das veias jugulares, observou-se material hipoecogênico não compressível distendendo as veias jugulares internas, então a paciente foi anticoagulada por enoxaparina em dose plena.
Aos exames laboratoriais, notou-se uma leucocitose severa (47.033/mm³), com predomínio de segmentados (92%) e elevação da creatinofosfoquinase (633,2 U/L) e da mioglobina no plasma (756,3 ng/mL). Durante 15 dias, foram realizadas novas hemoculturas, cultura de cateter, secreção traqueal e swab da secreção da FO e anal, com todos resultados negativados. Neste momento, estava em uso de Vancomicina, Amicacina, Meropenem, Metronidazol, Ganciclovir, Enoxaparina e vitamina K – por 3 dias, devido a reação transfusional -, além de diminuição de sua leucocitose (15.100/mm³).
À tomografia computadorizada (TC) de pescoço inicial, notaram-se áreas de coleções cervicais bilateralmente e edema de glote. Passados 10 dias, foi realizada nova TC, que evidenciou aumento das coleções cervicais (medindo até 12mL), que se estendiam até a coana esquerda, além de tromboflebite das veias jugulares internas.
Pela TC de tórax inicial, notou-se áreas de consolidação, caracterizados por êmbolos sépticos que, após 10 dias, em nova TC, aumentaram em número e tamanho, além da presença de derrame pleural bilateral.

Após 20 dias do quadro inicial, foi realizada a drenagem das coleções cervicais e, posteriormente, se queixou de intensa dor no quadril esquerdo, sem melhoras com medicação, movimento-dependente. Realizada TC da articulação coxofemoral esquerda, se notou derrame articular, intensa sinovite e coleção periarticular anterior, diagnosticada como artrite séptica do quadril e foi realizada drenagem da região.
Após 28 dias da sintomatologia inicial, a primeira hemocultura foi positiva, com crescimento de Klebsiella pneumoniae, com múltipla resistência antimicrobiana, incluindo aos carbapenêmicos. Neste momento, instituiu-se a antibioticoterapia múltipla por Amicacina, Vancomicina, Meropenem, Anfotericina B, Sulfametoxazol+trimetropina profilática e Nistatina profilática. Após 27 dias de uso destes, a Vancomicina, a Amicacina e o Meropenem foram suspensos e, após 14 dias, a Anfotericina B foi suspensa.
Após 42 dias de internação, a paciente recebeu alta hospitalar. Sua hemocultura pareada foi negativa e a leucometria estava dentro dos parâmetros da normalidade. Com 60 dias de alta hospitalar, a paciente se encontra assintomática, além de ausência de particularidades na nasofibrolaringoscopia e ultrassonografia cervical.



Conclusões/Considerações finais

A SL é uma entidade rara, com múltiplos diagnósticos diferenciais, de difícil tratamento e com alta morbimortalidade. Embora com múltiplas complicações e diagnóstico tardio, a paciente aqui relatada se encontra assintomática e bem do ponto de vista clínico.

Palavras-chave

Área

Clínica Médica

Instituições

Centro Universitário Assis Gurgacz (FAG) - Paraná - Brasil

Autores

Luiz Henrique Barros Santos Pontelli, Gabriel Angelo Garute Zenatti, Jerusa Marquardt Corazza, Olavo Kyosen Nakamura, Aline Carla Rosa, Peterson Fasolo Bilhar