15° Congresso Brasileiro de Clínica Médica e 5° Congresso Internacional de Medicina de Urgência e Emergência

Dados do Trabalho


Título

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA COINFECÇÃO DE PACIENTES COM HIV E LEISHMANIOSE VISCERAL NO PERÍODO DE 2015 A 2018 ATENDIDOS NO MUNICÍPIO DE MARABÁ- PARÁ

Fundamentação/Introdução

A síndrome da imunodeficiência humana adquirida, é uma doença transmitida por um retrovírus o qual é considerada um grande problema de saúde pública. Sua primeira descrição foi nos Estados unidos, no ano de 1981, o qual desde então a síndrome se espalhou tornando -se então pandemia. Na América latina o número de infectados por HIV chega a 1,7 milhões e a prevalência de infecções para o Brasil é de 34.500 novos casos por ano (CARVALHO, 2012).
Com o surgimento da Aids houve o aparecimento de manifestações clínicas atípicas, isso porque o paciente com imunodepressão está mais suscetível a contrair doenças oportunistas, já que seu sistema imune não responde de forma tão satisfatória. Uma dessas relações atípicas é a coinfecção do HIV com a Leishmaniose visceral, o qual tem aumentado, além também de haver um ressurgimento de doenças que já estavam consideradas controladas como é o caso da Tuberculose (ROCHA, 2012).
O aumento da coinfecção do HIV com a Leishmaniose visceral está diretamente associado ao processo de urbanização e as mudanças socioeconômicas o qual propiciou problemas de moradia, saneamento, desnutrição além da migração de populações humanas e caninas de regiões endêmicas para a cidade propiciando a entrada do parasito a novos ambientes (CARDIM,2013).
A Leishmaniose visceral é uma artropozoonose causada no Brasil pela Leishmania infantum, é transmitido pela picada da fêmea da espécie Lutzomyia longipalpis, descoberta em 1912, quando contaminada com o protozoário, além de infectar o homem afeta também outros mamíferos como é o caso dos cães, os quais representam o principal reservatório do protozoário, apresentando alta letalidade para quem é acometido por HIV (RODRIGUES, 2018).
O crescente número de HIV/AIDS acabou por modificar a história natural da Leishmaniose, pois a infecção por HIV apresenta uma chance de 100 a 2300 vezes mais de contrair a Leishmaniose do tipo visceral, o qual e considerada a forma mais grave da doença. Ao mesmo tempo a infecção por leishmaniose visceral propicia uma redução das respostas terapêuticas, o qual aumenta a chance de recidivas da Aids, além também de exercer um efeito sinérgico negativo sobre a resposta imune da célula (BARBOSA, 2011).
O parasita causador da Leishmaniose é intracelular, semelhante a infecção dos retrovírus que causa o Aids, o protozoário da Leishmaniose causa mecanismos de escape ao sistema imunológico como é o caso da inibição da estimulação dos linfócitos TH1, que são produtores de interferon 1 e gama que são responsáveis pela defesa celular; fazem a diminuição das células citotóxicas naturais que são as células NK (natural killer) que destroem as células infectadas (ABBAS, 2012).
Além disso o parasita reduz também a expressão dos antígenos do complexo de histocompatibilidade II, evitando dessa forma o reconhecimento pelo sistema imune das células que estão infectadas com os protozoários, favorecendo assim a sobrevida dos mesmos e permitindo a sua reprodução no interior das células, deixando com isso o indivíduo com HIV mais suscetível a coinfecção (SAMPAIO, 2002).
O número de pessoas infectadas com o vírus HIV no município de marabá, apresentou um aumento em 2017, com 215 novos casos que iniciaram o acompanhamento do CTA (Centro de testagem e aconselhamento de Marabá), além desse aumento no município, houve um crescente no número de casos no Brasil passando de 700 mil em 2010 para 830 mil em 2015 (BRASIL, 2017).
Concomitante a esse aumento no número de portadores de HIV no município de Marabá, tem-se o crescimento dos casos de pessoas acometidas com Leishmaniose visceral na região, segundo a Secretaria Municipal de Saúde da região, em Marabá foram registrado 86 casos de Leishmaniose Visceral em humanos em 2016, já em 2017 no período de janeiro a abril foi registrado 31 casos de Leishmaniose em humanos, sendo que 30 foram curados e um evoluiu para óbito. Nos últimos 3 anos já são mais de 120 casos da doença que pode levar a morte, evidenciando o alto índice da doença na região.
Tendo em vista tais números e as demais considerações que foram feitas acima, a importância em buscar-se traçar um perfil epidemiológico da coinfecção HIV e Leishmaniose visceral, quando associadas podem ocasionar o óbito. Esses dados servirão para elaboração de campanhas de prevenção, além também de verificar a área que está havendo um maior número de casos, para que dessa forma possa reduzir o número de afetados e de óbitos ocasionados pela coinfecção.

Objetivos

• Levantar dados referentes ao perfil epidemiológico dos coinfectados com HIV- Leishmaniose visceral no período de 2015 a 2018 no município de Marabá.
• Quantificar o número de pacientes coinfectados com HIV e Leishmaniose visceral no município de Marabá.
• Caracterizar os indivíduos acometidos com a coinfecção quanto a idade, sexo e escolaridade no período que foi infectado com Leishmaniose visceral.

Delineamento e Métodos

Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem quantitativa dos pacientes atendidos que possuem a coinfecção por HIV e Leishmaniose visceral e que foram atendidos no município de Marabá no período de janeiro de 2015 a abril de 2018.
Para a concretização do estudo será realizado uma revisão bibliográfica nas plataformas Scielo, Bireme e Pubmed, o qual os artigos mais recentes tiveram prioridade, principalmente os publicados nos últimos cinco anos, embora exista algumas exceções feitas a artigos mais antigos devido a sua relevância ao estudo. A partir desse material, foi elaborado as bases para os argumentos da pesquisa.
Os dados utilizados foram do sistema de informação de agravos e notificação (SINAN) fornecido pela Secretaria Municipal de Saúde de Marabá, no levantamento de dados foram analisados sexo, idade da faixa etária de 5 a 49 anos, e escolaridade dos pacientes coinfectados com HIV e Leishmaniose visceral e analisados o perfil de infecção anual. As subnotificações não serão contabilizados na análise final do perfil epidemiológico.
Para a análise estatística, os dados foram alocados em planilhas no Solfware Microsolft Excel 2010, com a elaboração de gráficos nos próprios programa. Foram realizados a estatística descritiva pela análise da média, desvio padrão e análise de variância e para comparação entre as proporções, foi empregado o teste Qui-quadrado. O nível de significância adotado nas análises foi de alfa de 0,05 (95%). Todas as análises foram realizadas com o auxílio do programa Bioestat 5.4.
Toda a pesquisa cientifica que envolve seres humanos sofre interferência seja ela direta ou indiretamente, o qual independente da metodologia e dos objetivos utilizados no trabalho, deve-se estar atento para assim melhor avaliar de forma crítica os danos que esses estudos podem causar na vida dos pesquisados.
Portanto este estudo utilizou informações de pacientes coinfectados com HIV e Leishmaniose visceral a partir de um banco de dados da Secretaria epidemiológica do município, o qual os nomes dos pesquisados não foram vinculados a ficha de notificação garantindo dessa forma a privacidade dos mesmos.
Os resultados obtidos do estudo serão de grande importância tanto para a comunidade cientifica, município e para os profissionais da área de saúde, pois podem melhorar o acompanhamento e o atendimento desses pacientes conhecendo o sexo, idade, e escolaridade do paciente que apresenta a correlação das duas patologias, para assim este profissional melhor intervir e oferecer qualidade de vida a esses.
O principal risco para a comunidade cientifica durante a leitura desses resultados é contabilizar um número de coinfectados inferior ao real, isso ocorre devido a possível existência de subnotificações que podem distorcer o resultado do trabalho, e por isso esses dados não foram alocados junto ao projeto.

Resultados

Foram confirmados 223 casos de Leishmaniose visceral (LV) no município de Marabá no período de 2015 a 2018 notificados pela Secretaria Municipal de Saúde. O ano com maior número de registro de casos foi 2016, com 90 notificações. Quando comparamos a proporção de casos na série histórica usando o teste do qui-quadrado, foi possível verificar uma forte diferença entre as frequências, ou seja, o ano de 2016 teve um aumento significativo (p<0,05). A média de casos nos 4 anos foi de 55.8 casos por ano, com desvio padrão de 39.6 e mediana de 63. O número de casos de LV registrados por ano, o qual se observa uma marcada tendência de crescimento de infecção por Leishmaniose visceral e consequentemente de coinfectados por HIV segue o mesmo padrão.
O aumento da quantidade de pacientes atendidos no município de Marabá e que foram confirmados com infecção por Leishmaniose visceral no ano de 2018 foram identificando 3% dos pacientes (n= 7) infectados no mês de abril, já que os outros meses seguintes ainda não havia tido nenhum caso notificado.
A quantidade de pacientes notificados e confirmados com a infecção de Leishmaniose visceral foi de 39% (n=223), sendo que a maior taxa das notificações para os descartados 57% (n= 327), que são aqueles que já passaram o prazo de 2 meses a 1 ano para fechar o caso de confirmação de Leishmaniose visceral e o sistema avisa que o mesmo deve ser encerrado. Os pacientes que tiveram os resultados para a Leishmaniose visceral Ing/Branco e o inconclusivo somam cerca de 4% do total.
No período de 2015 a 2018 foi registrado um total de 346 notificações e confirmados de pacientes com HIV atendidos no município de Marabá, com média de 7.2 casos por ano, mediana de 5.0 e desvio padrão de 7.2, sendo que no ano de 2018 foi analisado até o mês de abril.
Foram notificados um total de 11 casos de coinfecção HIV e Leishmaniose visceral no município de Marabá, o qual o ano 2017 foi o maior número de acometidos seguindo com isso a correlação com o aumento de incidência de Leishmaniose visceral e infectados com HIV nesse mesmo período. A média dos 4 anos considerando que em 2018 não houveram nenhuma notificação foi de 0.5 casos de coinfecção por ano, com desvio padrão de 0.6.
As características demográficas da coinfecção HIV e Leishmaniose visceral entre 2015 a 2018 teve uma predominância do sexo masculino com 55% comparado com o número de pacientes do sexo feminino atendidos no município de marabá que foi de 45% entre os anos de 2015 e 2017, já que no ano de 2018 não houveram nenhuma notificação até o mês de abril. A média das idades foi de 30.6 anos e desvio padrão de 12.7 anos, a faixa etária mais prevalente foi a de 30 a 39 anos com 45% e a segunda faixa etária com maior número de notificações foi a de 5 a 9 anos com 27%. E no que se refere a escolaridade 27% tem o ensino médio completo, destacando-se que 18% dos casos, essa variável era branco ou ignorado.

Conclusões/Considerações finais

Foram confirmados 11 casos de coinfecção de Leishmaniose visceral e HIV no município de Marabá no período de 2015 a 2018, o que representa 4,9% do total dos casos confirmados de Leishmaniose visceral no mesmo período. Desses, 45% dos coinfectados estavam em uma faixa etária entre 30 a 39 anos, em relação a escolaridade 36% dos pacientes apresentavam entre a 1ª a 8ª série do fundamental incompleto e a maioria foi do sexo masculino.
A distribuição espacial dos casos confirma que há uma sobreposição das áreas de transmissão devido ao processo de interiorização do HIV e a urbanização da LV que era comum no meio rural, além também do município ser uma área de intensa e rápida ocupação o qual propiciou o aumento da incidência de LV.
A vigilância epidemiológica deve ser uma prioridade para reduzir o número de coinfectados, através de um conhecimento das características dos pacientes que estão sendo mais acometidos elaborando com isso estratégias de manejo e controle baseado nessas evidências.
O levantamento de dados realizado no estudo irá contribuir para o melhor conhecimento das características dos coinfectados do município de Marabá para auxiliar no planejamento, monitoramento desses pacientes para dessa forma evitar complicações, e na avaliação de ações em saúde para dessa forma reduzir o número da coinfecção dos pacientes com HIV infectados com a Leishmaniose visceral.

Palavras-chave

Área

Clínica Médica

Autores

Gessica Kelem Carvalho Pantoja, Danillo Dos Santos Silva