15° Congresso Brasileiro de Clínica Médica e 5° Congresso Internacional de Medicina de Urgência e Emergência

Dados do Trabalho


Título

Mielopatia como apresentação inicial no Lúpus Eritematoso Sistêmico: Relato de Caso

Introdução/Fundamentos

Mielopatia é uma condição caracterizada por paraparesia, déficit sensitivo e disfunção esfincteriana, sendo uma das raras manifestações neurológicas descritas no Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), presente em apenas 1-2% dos pacientes. A sua associação com o LES se torna um desafio diagnóstico devido a sinais e sintomas inespecíficos que podem se confundir com diagnósticos mais comuns, como, por exemplo, infecção do trato urinário (ITU). Por isso, existe a necessidade de uma rápida tomada de decisão nesses casos, com a exclusão de causas infecciosas e instituição de terapia imunossupressora na tentativa de um melhor prognóstico, o que reforça ainda mais a importância da suspeita do seu diagnóstico, principalmente nos casos de evolução rápida (horas/dias).

Objetivos

Discutir um caso de apresentação atípica do LES, chamando atenção para os confundidores em seu diagnóstico.

Caso

RG, 35 anos, sexo feminino, deu entrada em unidade de emergência com retenção urinária aguda há 1 dia, sendo realizada sondagem vesical de alívio e liberada. Retornou outras duas vezes sem melhora, na última, decidido por internamento para elucidação diagnóstica. Negou febre ou outras alterações urinárias. Referia associado apenas paraparesia à direita. Devido persistência do quadro e presença de piócitos em sumário de urina foi levantada hipótese de cistite como etiologia, realizando Ceftriaxona por 5 dias, sem melhora da retenção, permanecendo em uso de sonda vesical de demora. Como antecedentes relatou episódio há 2 meses de artrite simétrica em cotovelos, punhos, joelhos e tornozelos, exantema difuso sem prurido, febre baixa e anemia grave necessitando de transfusão sanguínea, quadro atribuído à Chikungunya (CHIK). Apresentava epidemiologia negativa para esquistossomose e negou outras comorbidades ou uso regular de medicações. Ao exame físico chamava atenção apenas paraparesia em membro inferior direito, exame limitado por dor, sem outras alterações neurológicas. Evoluiu após término da antibioticoterapia com episódios febris, sendo escalonado antibioticoterapia para Meropenem por suspeita de ITU nosocomial. Durante internação foi submetida ao exame do líquor (LCR), sem anormalidades. RNM coluna lombar, torácica e cervical sugeriram mielopatia de origem indeterminada à nivel de T4-T5, T6-T7 e T10. Demais exames demonstraram anemia normocítica e normocrômica, fator anti-núcleo (FAN) positivo com padrão nuclear homogêneo (>1:640), anti-DNA positivo (1:40), Anti-SM positivo, C3 e C4 consumidos, Anti-SSA positivo, Anti-RNP positivo. Culturas e sorologias foram negativas, incluindo IgG para CHIK. Tratamento com metilprednisolona venoso (1000 mg/dia por 5 dias) foi iniciado, com recuperação da capacidade de diurese espontânea após dois dias do seu término. Teve alta em uso de Prednisona 1 mg/kg/dia e orientação para acompanhamento ambulatorial.

Conclusões/Considerações finais

Em virtude da dificuldade de reconhecimento de sinais e sintomas clínicos específicos, a manifestação de mielopatia no LES se torna um desafio diagnóstico, muitas vezes atrasado pela semelhança do quadro com condições mais comuns. Embora raro, apresenta elevada morbimortalidade e pode estar presente independente da atividade de doença, podendo ocorrer como manifestação inicial ou mesmo após vários anos do diagnóstico, devendo, portanto, ser lembrada dentre os diagnósticos diferenciais e instituído terapia imunossupressora com brevidade, pensando no prognóstico dessa condição rara, porém grave.

Palavras-chave

Área

Clínica Médica

Autores

Gabriel Fernando Dultra Bastos, Raíssa Karen Moraes Dantas, Maria Aniele Pereira Lima