15° Congresso Brasileiro de Clínica Médica e 5° Congresso Internacional de Medicina de Urgência e Emergência

Dados do Trabalho


Título

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E CLASSIFICAÇÃO DE RISCO DO PACIENTE ATENDIDO NA EMERGÊNCIA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO SANTA TEREZINHA POR TENTATIVA DE SUICÍDIO.

Fundamentação/Introdução

Suicídio pode ser definido como um ato realizado pela própria pessoa, no qual o objetivo final é terminar com a sua existência, de forma consciente e proposital, mesmo que incerto, utilizando de métodos letais. As tentativas, planos e pensamentos são, também, enquadrados em ideação suicida. Somando um milhão de casos anuais, o suicídio está entre as principais causas de morte no mundo, sendo considerado um importante problema de saúde pública, o Brasil encontra-se entre os dez países com altos registros de autodestruição, segundo averiguou a Organização Mundial da Saúde.
Entre os pacientes que tentam suicídio sabemos que o desejo comum gira em torno de três coisas principais: morrer, matar e ser moto. Hoje sabe-se que aproximadamente todos os pacientes que tentaram suicídio possuíam uma doença mental, na maioria das vezes sem o diagnóstico e sem o tratamento ideal para tal. Entre aqueles que morrem por autodestruição tem-se conhecimento que cerca de 50% a 60% nunca tiveram contato com um profissional da área de saúde mental durante toda a sua existência.
A partir de uma ponderação precisa da história do paciente, abrangendo a suicidabilidade e doença mental, iremos estabelecer o risco de suicídio e determinar a conduta a qual será utilizada para alterar o risco. Temos conhecimento, hoje, de que a prevenção ao suicídio é possível, tendo o tratamento daqueles atentaram contra a própria vida um fator fundamental para sua prevenção.

Objetivos

Objetiva-se por meio desse trabalho classificar o risco e traçar o perfil de todos os pacientes maiores de 18 anos atendidos no Hospital Universitário Santa Terezinha no período de 10 de agosto de 2018 a 31 de janeiro de 2019 por tentativa de suicídio, além de detectar presença de transtornos psiquiátricos nos pacientes que atentaram contra a própria vida, fornecer aos profissionais de saúde que atendem pacientes vítimas de auto agressão um subsídio para melhor avaliação, despertar a sensibilidade dos profissionais de saúde no atendimento à quem tentou suicídio e alertar a administração e corpo clínico do Hospital Universitário Santa Terezinha sobre a necessidade de protocolo de atendimento e suporte especializado para pacientes com tentativas de suicídio.
O presente trabalho foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da Universidade do Oeste de Santa Catarina sob o parecer de número 2.797.897.

Delineamento e Métodos

Trata-se de uma pesquisa do tipo transversal não intervencionista, que tem como público alvo todos os pacientes, maiores de 18 anos, os quais atentaram contra a própria vida, que foram atendidos por acadêmicos e médicos plantonistas do serviço de emergência do Hospital Universitário Santa Terezinha (HUST), de Joaçaba – SC, no período de 10 de agosto de 2018 a 31 de janeiro de 2019. A coleta de dados foi realizada por meio de dois questionários sendo um o epidemiológico o qual leva em conta dados como: idade (separada por segmentos 18-30, 31-45, 46-60, 61-75 e acima de 75 anos), escolaridade, (variando de ausência de escolaridade a doutorado, podendo ser incompleto ou completo), situação civil (solteiro, casado, viúvo, separado ou amasiado), região onde reside (urbana ou rural) e profissão (classificadas como: não trabalha, trabalhador rural, trabalhador comercial, trabalhador industrial, autônomo ou estudante), e também, por meio do questionário TASR padronizado para risco de suicídio que tem como variáveis o perfil individual, perfil durante a consulta e perfil sintomático de risco, em que os elementos pertencentes ao perfil serão respondidos por sim ou não. O perfil individual de risco avaliará os seguintes fatores: homem, idade entre 15-30 anos ou superior a 60, história familiar de suicídio, doença crônica, doença psiquiátrica, apoio social deficiente/isolamento social, abuso sexual/físico e abuso de substância, já o perfil sintomático de risco leva em conta os sintomas depressivos, os sintomas psicóticos positivos, a desesperança, a desvalorização, a anedonia, a ansiedade/agitação, os ataques de pânico, a raiva e a impulsividade, e, por fim, o perfil de risco na consulta aborda o uso recente de substância, a ideação suicida, a intenção suicida, o plano suicida, o acesso a métodos letais, o comportamento suicida prévio e as alucinações de comando violentas/suicidas. O perfil na consulta tem maior valor que o perfil sintomático que por sua vez tem maior valor que o perfil individual. Assim, os dados obtidos serão computados por meio do software Epi Info.

Resultados

Perfil epidemiológico
O perfil epidemiológico dos pacientes foi traçado a partir de questionário, o qual leva em consideração idade, estado civil, escolaridade, região onde reside e profissão. A variável sexo está presente no questionário de classificação de risco que foi utilizado, também, para traçar o perfil sociodemográfico do presente estudo.
Ao analisar o perfil epidemiológico dos pacientes incluídos nesse trabalho, constatou-se, em relação a faixa etária de idade, a maioria dos indivíduos enquadrados entre dezoito e trinta anos somando o total de oito pessoas, seguidos de cinco pessoas entre quarenta e seis e sessenta anos, quatro pessoas entre trinta e um e quarenta e cinco anos e apenas uma pessoa com faixa etária entre sessenta e um e setenta e cinco anos.
A partir do questionário TASR obteve-se a prevalência entre sexos, evidenciando onze mulheres e sete homens atendidos por tentativa de suicídio na emergência do HUST. Observou-se a presença de dezesseis pacientes moradores de área urbana e apenas dois moradores da área rural.
Em relação a escolaridade dos pacientes entrevistados teve maior número aqueles com ensino médio completo, somando sete pessoas, seguido de três pessoas com ensino fundamental incompleto e outras três com ensino médio incompleto. Em sequência, duas pessoas cursaram educação infantil incompleta e outras duas pessoas ensino fundamental completo, tendo apenas um entrevistado com ensino superior (graduação) incompleto, não apresentando nenhum paciente sem escolaridade, educação infantil incompleto, ensino superior completo, pós-graduação completo/incompleto, mestrado completo/incompleto ou doutorado completo/incompleto. Já em relação ao estado civil, oito pessoas estavam solteiras, seis pessoas casadas, três pessoas separadas, uma pessoa amasiada e nenhuma pessoa viúva.
A respeito da atividade laboral cinco pessoas não trabalhavam, cinco exerciam atividade como trabalhador industrial e, também, cinco pessoas trabalhavam na área rural, apenas um estudante, um trabalhador autônomo e um trabalhador comercial.

Classificação de risco
A classificação de risco foi realizada a partir do questionário TASR, o qual leva em consideração perfil individual do paciente, perfil de risco sintomático e perfil de risco na consulta. Após a avaliação dos questionários tem-se como número absoluto dezoito entrevistados, sendo eles classificados em alto risco, médio risco e baixo risco.
Todos os pacientes enquadram-se em alto risco por apresentarem variáveis presentes no perfil de risco na consulta e no perfil de risco sintomático. Nenhum entrevistado apresentou critérios para médio risco ou baixo risco, visto que os dezoito participantes da amostra apresentaram algum quesito perfil de risco na consulta e perfil de risco sintomático.
Em relação ao perfil de risco individual notou-se a presença de equivalência entre as pessoas entre quinze e trinta e cinco anos e aquelas que não estão presentes nessa faixa etária, já maiores de sessenta e cinco anos está presente apenas um dos entrevistados. Dos dezoito participantes da amostra, quatro declararam presença de história de suicídio na família, cinco entrevistados da amostra declararam a presença de doença crônica e outros dez o diagnóstico de doença psiquiátrica presente. Quatro pacientes declararam falta de apoio social ou isolamento social, três confirmaram histórico de abuso sexual ou físico e cinco de abuso de substância.
Na análise do perfil de risco sintomático nota-se a maior prevalência dos sintomas depressivos, abrangendo toda a amostra (dezoito entrevistados), seguido pelos sintomas de ansiedade e agitação em dezessete pacientes. Dezesseis entrevistados referem sintomas de impulsividade, quinze pessoas com sintomas de desesperança e raiva, quatorze com sintomas de desvalorização e treze apresentam anedonia. Nove apresentam sintomas psicóticos positivos e, também, sintomas de pânico. E um dos questionários não foi preenchido o item anedonia, assim como, um questionário não foi preenchido a variável desvalorização.
O perfil de risco na consulta, ao ser estudado, mostra-nos a intenção suicida presente em quinze dos pacientes da amostra, empatado com a ideação suicida. Já o uso recente de substâncias, o plano suicida, o acesso a métodos letais e o comportamento suicida prévio estão presentes em treze dos entrevistados. Apenas oito dos participantes desse estudo referiram alucinações de comando violento/suicida.

Conclusões/Considerações finais

A partir desse estudo concluímos que o perfil epidemiológico do paciente atendido na emergência do Hospital Universitário Santa Terezinha é definido por mulheres, entre 18 – 30 anos, residentes de área urbana, solteiras, presença de atividade laboral ativa ou inativa e com ensino médio completo. Em relação a classificação de risco, todos os entrevistados enquadram-se em alto risco, com histórico de doença psiquiátrica, presença de sintomas depressivos, possuindo ideação e intenção suicida, justificando a necessidade de capacitação no atendimento especializado a este paciente, logo, julga-se necessário a presença de protocolo de atendimento e tratamento dos indivíduos em razão da gravidade do risco apresentado.
Ao analisarmos a prevalência de tentativas suicídios na oitava regional de saúde (Joaçaba-SC), nota-se um número abaixo do esperado comparado as estimativas de suicídio no Brasil e no mundo, visto que o trabalho contava com a colaboração dos profissionais médicos e acadêmicos plantonistas da emergência e não os idealizadores do projeto, pressupõem-se que alguns casos de tentativa suicídio passaram pelo local sem o preenchimento do questionário. Por tratar-se de um trabalho aplicado na emergência de um hospital referência na região, entende-se que o ambiente muitas vezes tumultuado de um pronto atendimento deste porte dificulte a coleta de dados.
Por fim, sabemos que o suicídio é uma realidade presente também em cidade do interior do país, e acreditamos na necessidade de tratamento adequado e seguimento pós alta hospitalar, já que a recidiva de tentativa é alta em nosso meio. A presença empatia, apoio e humanização ao tratamento desses pacientes é imprescindível no momento de admissão hospitalar, visto que se trata de uma medida desesperada de alívio da dor, a qual não cabe ao profissional da saúde julgar, apenas acolher e buscar compreender a situação, procurando oferecer o melhor atendimento possível.

Palavras-chave

Área

Clínica Médica

Autores

GABRIELA MORET, EDUARDO FILIPE DE OLIVEIRA MORAES, TADIANE LUIZA FICAGNA