15° Congresso Brasileiro de Clínica Médica e 5° Congresso Internacional de Medicina de Urgência e Emergência

Dados do Trabalho


Título

Efeitos Socioeconômicos no Tratamento e Prevenção da Sífilis Gestacional

Fundamentação/Introdução

Introdução
O tema escolhido para o estudo foi “Os efeitos socioeconômicos no tratamento da sífilis gestacional”. A sífilis gestacional é uma infecção sexualmente transmissível (IST) facilmente controlada em casos de tratamento precoce. No entanto, essa patologia, por ser uma doença de fácil controle já deveria ter sido erradicada. Todavia, na última década o índice de contração tem aumentado de forma significativa colocando em risco tanto mães como recém nascidos.
A sífilis é dividida em estágios, sendo esses: primário, secundário e terciário. O risco de transmissão na gestação varia de acordo com o estágio da infecção materna e da idade gestacional em que ocorre a exposição podendo chegar de 70 a 100% nos casos de sífilis recente e 30 a 40% nos casos de sífilis tardia. Tendo em vista que uma das consequências da patologia é o abortamento prematuro, há a necessidade de um diagnóstico o mais precoce possível. Para detecção dessa enfermidade é feito um exame de sangue simples de VLDR, realizado no pré natal. No entanto, constata-se que a maioria dos diagnósticos ainda são feitos de maneira tardia. Dessa maneira, tem-se um prognóstico pior da doença.
É importante lembrar que as doenças englobam inúmeros fatores além dos biológicos que interagem com elas. Por consequência, eles também afetarão no tratamento dos pacientes afetados. Assim, sabe-se que os elementos socioeconômicos, principalmente a idade, o nível educacional, a renda e o emprego estão intimamente relacionados com o desenvolvimento de enfermidades, entre elas a sífilis. Além disso, esses fatores também influenciam na questão da gravidez. Consequentemente, o estudo e compreensão da relação entre esses elementos serve para criar ações de saúde que visem aprimorar o atendimento aos doentes e melhorar sua qualidade de vida. Dessa forma, surge a seguinte indagação: o quanto o fator socioeconômico influencia no tratamento da sífilis gestacional?
Como dito anteriormente, o tratamento para a sífilis gestacional não é um mistério na área médica, sabe-se qual o protocolo seguir em caso de paciente com a doença. Entretanto, ainda permeia a dificuldade em controlar uma doença de tratamento relativamente simples, como evitar um ciclo de cura-contração, e em saber quais fatores estão associados ao aumento do número de casos. Entendendo melhor essas questões é possível buscar um tratamento mais adequado ao cotidiano dessas pacientes e, por consequência, mais eficaz.

Objetivos

Objetivos
Buscamos descobrir se fatores como a indisponibilidade de consultas médicas, a inacessibilidade a medicamentos e a falta de instrução sejam fatores que afetam o início ou a continuidade do tratamento. Uma vez que, por mais que as infecções sexualmente transmissíveis sejam um dos problemas de saúde mais comuns no mundo, ainda não existem estudos suficientes que abordem se fatores socioeconômicos interferem em seu tratamento..
Dessa forma, espera-se com esse trabalho uma melhor compreensão dos motivos que levam uma doença de prevenção acessível a números ainda altos, e com esse entendimento pensar em formas mais eficazes de atuação dos profissionais de saúde no tratamento dessas pacientes afetadas pela doença e em como quebrar esse ciclo de contração-cura-contração.

Delineamento e Métodos

Metodologia
Este estudo constitui uma revisão sistemática de estudos observacionais acerca da influência de fatores socioeconômicos no tratamento de sífilis gestacional.
A coleta de dados foi feita entre os meses de agosto e novembro de 2018, e para sua realização foram pesquisados artigos científicos disponíveis em bibliotecas eletrônicas de periódicos Scielo, Bireme, Google Acadêmico e PubMed, em inglês e português. Os termos usados para pesquisa, utilizados de forma separada ou conjunta, foram: cuidado pré-natal; sífilis congênita; prevenção e controle; saúde materno infantil; gestante e fatores socioeconômicos. O conteúdo científico escolhido foi selecionado por sua data de publicação e a origem do trabalho, com prioridade para publicações nacionais sobre o tema. Foram obtidos 30 resultados dos quais foram selecionadas 10 publicações que mais se encaixavam nos critérios de inclusão para constituição da revisão sistemática.

Resultados

Resultados e Discussão
Influência Socioeconômica nas DSTs
As influências socioeconômicas são consideradas em inúmeros estudos relacionados às ISTs. As classes sociais principais acometidas por elas são as classes marginalizadas e/ou minorias. A falta de informação ainda é um fator prejudicial relevante, como mostra estudo que afirma que 24% dos entrevistados pensava poder transmitir AIDS pela saliva.³ Porém, os fatores mais relatados pelas literaturas nacionais e internacionais são o gênero e a escolaridade.³ Dessa forma, baixas escolaridades demonstram uma concentração maior de ocorrência de casos de ISTs enquanto que o gênero masculino possui os maiores índices nessa categoria. Isso pode ser explicado primeiramente pela falta de informação que é uma consequência indireta da baixa escolaridade e, no caso do gênero a herança cultural machista possui efeito considerável nesses índices.
Especificando às ISTs para a sífilis, a qual é o foco principal deste estudo, um artigo realizado no sul do Brasil¹ detectou a associação das influências da raça/cor não branca, baixa escolaridade e a ausência de um companheiro no pré natal com a sífilis na gestação. Essas características foram associadas com um perfil de indivíduos com uma condição socioeconômica desfavorecida e com menos acesso à saúde de qualidade. Além disso, outro aspecto é o da faixa etária que pode ser explicado devido a vulnerabilidade dessa população, principalmente por ser uma fase de imaturidade etária, emocional e cognitiva, além de ser um período de descobertas e de grande influências dos grupos sociais. É evidente, portanto, que essas populações acabam ficando mais exposta às ISTs. Da mesma forma, uma maneira de comparar os efeitos socioeconômicos da sífilis é o fato dela ser um dos indicadores da qualidade de assistência pré-natal². Ou seja, uma baixa qualidade de pré-natal é, provavelmente, uma consequência de uma população e área socioeconômica mais marginalizada ou desfavorecida.

Adesão ao tratamento de acordo com a classe social
Uma das maiores problemáticas no tratamento da sífilis gestacional é a sua limitada adesão, associada em grande parte a fatores socioeconômicos. Um paciente em uma condição social mais confortável terá mais tempo e condições de cuidado consigo mesmo no processo de cura, enquanto aquele oriundo de outra situação social terá mais dificuldades em seguir o tratamento. O caso da sífilis não é diferente, fatores como escolaridade, acesso a telefone, raça, faixa etária, quantidade de gestações e casos anteriores de doenças sexualmente transmissíveis são associados à adesão e ao sucesso do tratamento da doença. 4-5
A baixa escolaridade está relacionada ao menor acesso à informação, a um limitado entendimento da importância dos cuidados com a saúde e às medidas de prevenção da infecção. Pacientes mais carentes tendem a entrar em um ciclo de recontaminação de sífilis, sendo a falta e informação a principal causa ou até mesmo pela falta de adesão ao tratamento pelo próprio parceiro.6 Assim, como já citado, o tratamento tem desistência, não é finalizado e, por consequência, acaba não sendo totalmente eficaz, uma vez que a equipe de saúde não consegue assegurar um cuidado integral, o que causa repercussões sobre a gestante e seu feto. Isso acaba ocorrendo em número muito mais elevado nos casos de pacientes de condições sociais desfavoráveis.
Além disso, a concentração de renda é um fator determinante. A diferença entre classes sociais distintas é alarmante e contribui para a não adesão pelas menos favorecidas. Pesquisas demonstram que desigualdades socioeconômicas de saúde são grandes e persistentes mesmo com melhorias na sociedade e nos serviços de saúde.7
Pacientes mais favorecidos economicamente, acometidos pela doença, podem usar do recurso financeiro para conseguir profissionais, consultas, e exames de forma mais imediata, enquanto os menos favorecidos, geralmente, dependem do sistema público, que tende a ser mais lento. 8

Razões da falta de de eficácia do tratamento
Da mesma forma que a adesão ao tratamento é fundamental e os fatores pelos quais pode haver um índice baixo dela são importantes, outro fator de extrema importância que pode estar correlacionado com fatores socioeconômicos e que pode levar a graves consequências, é a possível falta de eficácia do tratamento. Por mais que a maioria das pacientes testadas em estudos sobre sífilis gestacional tenham participado de consultas pré-natais, muitas delas tiveram que refazer o tratamento devido a inúmeros fatores.9 Pois, sabe-se que o acompanhamento pré-natal não significa qualidade e adequação da assistência. Dessa forma, um dos fatores mencionados, é o uso de crack pré e durante a gestação. O uso de drogas, provavelmente, influenciou a não adesão ao tratamento resultando em natimortos portadores de sífilis congênita em alguns estudos pesquisados.4 Além da não adesão, a falta de periodicidade com o tratamento que pode durar de 7 a 14 dias que é influenciada pela confusão e descaso gerado pelas drogas é um fator importante para a falta da eficácia. Uma vez que, mesmo iniciando o tratamento ele não é feito de maneira correta. Outro fator mencionado foi a ausência de conhecimento da doença. Isso ocorre devido ao fato da sífilis muitas vezes apresentar-se assintomática, muitas pacientes por não possuírem conhecimento e não procurarem testes de diagnóstico acabam, assim, não realizando o tratamento, colocando o feto em risco. Por fim, o não tratamento do parceiro também foi considerado um fator importante para a não eficácia.4 Uma vez que quando o parceiro não recebe tratamento e continua mantendo relações sexuais com a gestante a reinfecção pode ocorrer de forma contínua. Gerando, assim, riscos enormes para a gestação, uma vez que a gestante, mesmo tendo feito o tratamento de forma correta, continua sendo infectada pelo parceiro. Dessa forma, na busca da eficácia do tratamento, é fundamental que ambos a gestante e o parceiro passem por tratamento. Para que, assim, não ocorra o risco de reinfecção.

Métodos mais efetivos de tratamento

Inúmeros fatores citados anteriormente como o pré-natal inadequado ou ausente, o uso de drogas pela mãe ou pelo parceiro e a ausência de parceiro sexual fixo são fatores que influenciam fortemente nos casos de sífilis congênita. Logo, ao considerá-los, percebe-se a necessidade de uma abordagem não apenas medicamentosa, mas também social e educacional. Campanhas têm sido usadas como políticas públicas de saúde para esclarecer e motivar a população. Inicialmente, é preciso reforçar a já existente para o uso de preservativos para que realmente haja compreensão da sua importância por toda a população e, como consequência, adesão ao uso.
A principal abordagem social e educacional que precisa ser levantada é o tratamento do parceiro das gestantes. É de fundamental importância que seja divulgado para a população, através de campanhas, propagandas e ações, a indispensabilidade do tratamento dos homens. Por ser uma doença que se apresenta assintomática em muitos casos, a reinfecção de mulheres por seus parceiros é comum. Logo, torna-se essencial o conhecimento sobre a doença e sua terapia para que isso seja evitado.
Entretanto, é imprescindível criar intervenções que ofereçam resultados de curto, médio e longo prazo e realmente alcancem seus objetivos. Apenas assim as campanhas realmente podem ser ferramentas úteis para gerar mudanças na saúde de uma população.
Ademais, percebe-se que há uma vulnerabilidade principalmente entre os jovens quando se trata de sexualidade, área que inclui a gravidez e as doenças sexualmente transmissíveis.³-10 Portanto, faz-se fundamental transmitir o conhecimento para que esses indivíduos jovens tornem-se mais conscientes e responsáveis, sabendo como agir em situações relacionadas com sexualidade e proteção.
Por fim, verifica-se como a sífilis gestacional é negligenciada, sendo os fatores citados os principais para que isso ocorra. Campanhas que eduquem a população em sua totalidade, mostrando os riscos e consequências advindos com a doença para o indivíduo e também para o feto, e não apenas imponham a prevenção e tratamento se fazem necessárias para que seja possível uma mudança nesse quadro.

Conclusões/Considerações finais

Conclusão
Afirma-se, portanto, a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado para pacientes com sífilis, em especial gestantes devido às consequências dessa. Conclui-se ainda, com os estudos, que a adesão ao tratamento está bastante associada aos fatores socioeconômicos, tendo em vista que esse está muitas vezes relacionado com a baixa escolaridade e um menor acesso a informações. Além disso, outro fator importante é o da falta eficácia do tratamento. Dessa forma, é nítida a necessidade dos cuidados com a saúde e às medidas de prevenção da infecção.

Palavras-chave

Área

Clínica Médica

Instituições

Universidade da Região de Joinville - Univille - Santa Catarina - Brasil

Autores

Luisa de Carvalho Garcia, Rômulo Barzotto, Júlia da Silva Cassol, Amanda Locks