Congresso Pernambucano de Clínica Médica

Dados do Trabalho


Título

Arterite de Takayasu e Tuberculose extrapulmonar em homem de 50 anos

Introdução/Fundamentos

A arterite de Takayasu (TAK) é uma vasculite granulomatosa crônica incomum que afeta principalmente as grandes artérias, como a aorta e seus ramos. Uma em cada 200.000 pessoas é afetada pela TAK, predominando em mulheres com menos de 40 anos, com uma proporção de mulheres para homens de 9:1, sendo mais comum no Sudeste asiático, Índia, Japão, China, Coreia, México e América Latina.
A TAK pode se manifestar em duas fases, uma fase sistêmica seguida por uma fase oclusiva. Na primeira fase, o paciente apresenta sintomas constitucionais inespecíficos, como febre, mialgia, fadiga, anorexia, perda de peso, sensibilidade nas artérias afetadas. Os reagentes de fase aguda, como velocidade de hemossedimentação e proteína C reativa, geralmente estão elevados nesta fase. Na segunda fase, o paciente apresenta sintomas decorrentes da inflamação crônica e estenose das artérias envolvidas, resultando em claudicação do membro, cefaleia, tontura, hipertensão, dor torácica, discrepâncias de pressão arterial entre dois braços e pulsos periféricos diminuídos ou ausentes.
A tuberculose (TB) é uma doença curável e tratável que está distribuída em todo o mundo. Afeta todas as faixas etárias, sendo mais comum em adultos. É uma infecção bacteriana transmissível, causada pelo Mycobacterium tuberculosis, transmitida por via respiratória que afeta principalmente os pulmões, podendo envolver outros órgão e tecidos.
A patogênese da TAK é pouco compreendida. A autoimunidade é sugerida principalmente como causa da TAK. As outras causas que podem contribuir para a etiopatogenia da TAK são as causas genéticas e infecciosas (bacterianas, virais). Dentre as causas bacterianas, o agente Mycobacterium tuberculosis parece desempenhar algum papel no desenvolvimento da TAK.

Objetivos

Este estudo tem como objetivo relatar o caso de um paciente acompanhado no serviço de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da UFPE que recebeu o diagnóstico de Arterite de Takayasu e tuberculose extrapulmonar, servindo como mais um exemplo, dentre os poucos casos na literatura, da coexistência das duas entidades clínicas, reforçando a possibilidade de o Mycobacterium tuberculosis agir como “gatilho” para o desenvolvimento de TAK, podendo funcionar como o único fator causal comprovadamente descoberto.

Descrição do Caso

S.B.S, masculino, 50 anos, com queixa de dor lombar e fadiga há 15 anos, tendo procurado Unidade Básica da Família onde foi solicitado ultrassom de rins e vias urinárias evidenciando atrofia renal direita e rim esquerdo vicariante. Há cerca de 6 anos, paciente queixava-se de dor retroesternal intermitente, de caráter lancinante e moderada intensidade, com irradiação para dorso, sem fatores de melhora ou piora, além de claudicação intermitente em membros inferiores com piora nos últimos dois anos. Ao exame fîsico, apresentava pulsos radiais reduzidos bilateralmente, pulso femoral direito ausente, femoral esquerdo reduzido, tibial posterior e pedioso esquerdos reduzidos. As pressões arteriais nos quatro membros eram distintas, nos valores: 151x89MSD, 146x78MSE, 143x91MID e 156x74MIE. Sob hipótese diagnóstica de vasculite de grandes vasos, realizou Angiotomografia arterial e venosa de tórax e abdome com achado de redução de calibre da artéria renal direita em todo o trajeto, além de artéria renal acessória, aorta abdominal infrarrenal apresentando espessamento parietal até a bifurcação das ilíacas comuns e ilíacas internas. Em PET-CT com fdg, observou-se hipermetabolismo glicolítico em arco aórtico, aorta ascendente e principalmente em todo o segmento da aorta infrarrenal até a bifurcacão das artérias ilíacas comuns e internas. Havia área quente de captação ainda em linfonodo cervical direito, mediastinais e em hilo pulmonar. Laboratorialmente, as sorologias para hepatite B, C, HIV e sifilis foram negativas. Proteina c reativa 18 (vr ate 5), ureia 43, creatinina 1,4. Dessa forma, feito o diagnostico de Arterite de Takayasu e realizado biópsia excisional de linfonodo cervical direito, com achado histopatológico de linfadenite granulomatosa com necrose caseosa central. A pesquisa de BAAR na amostra foi negativa, porém apresentava teste sérico IGRA positivo. Assim, recebeu tratamento para tuberculose extrapulmonar com RIPE por 6 meses, além de prednisona 0,5mg/kg/dia para quadro vascular. Ao final de 6 meses de tratamento, realizou novo PET-CT, que não mais evidenciou hipermetabolismo glicolítico em linfonodos, porém persistência de áreas quentes em arco aórtico, aorta descendente e infrarrenal, corroborando a coexistência de duas entidades clínicas: Tuberculose extrapulmonar e Arterite de Takayasu, além da persistência da inflamação vascular mesmo após erradicação do Mycobacterium tuberculosis.

Conclusões/Considerações Finais

Este relato de caso teve como objetivo enfatizar a ligação do Mycobacterium tuberculosis na etiopatogenia da arterite de Takayasu. Além disso, o objetivo foi estudar a possível causa dessa ligação. Como uma conexão casual ainda não foi estabelecida, é difícil dizer que a infecção tuberculosa latente ou ativa pode levar à TAK. No entanto, pode-se levantar a hipótese de que a infecção latente ou ativa por Mycobacterium tuberculosis deve estar entre os gatilhos para TAK. Mais estudos são necessários para explorar o papel exato do Mycobacterium tuberculosis na etiopatogenia da arterite de Takayasu.

Área

Tema Livre

Instituições

HOSPITAL DAS CLINICAS UFPE - Pernambuco - Brasil

Autores

MARIANA DANTAS MOREIRA, LUCAS RAMPAZZO DINIZ, PEDRO ALVES DA CRUZ GOUVEIA, MARCILIO DANTAS MOREIRA, THIAGO ARAUJO OLIVEIRA