Congresso Pernambucano de Clínica Médica

Dados do Trabalho


Título

IMPACTOS DA COVID-19 NA SAÚDE MENTAL E FÍSICA DE PROFISSIONAIS DE SEGURANÇA PÚBLICA DO RECIFE ENTRE 2020 E 2022

Fundamentação/Introdução

A região Nordeste do Brasil, até Junho de 2021, tinha registrado mais de 4 milhões de casos confirmados e 106 mil óbitos, com o estado de Pernambuco, à época, ocupando a 3ª posição em número de casos e em número de óbitos (BRASIL, 2021).
Dentre as categorias profissionais afetadas pela pandemia estão os profissionais de segurança, considerados como serviços essenciais desde o primeiro Decreto Estadual, publicado em Março de 2020 (PERNAMBUCO, 2020). A correlação existente entre o nível de estresse, o risco de exposição à Covid-19 e a atividade policial incentivou a realização de um estudo envolvendo uma das instituições de Segurança Pública Municipal do Recife, em suas diferentes áreas de atuação, uma vez que o alto grau de estresse e o alto risco de exposição à Covid-19 a que estiveram submetidos podem estar relacionados ao impacto na saúde física e mental desses profissionais.

Palavras-chave: Covid-19, Saúde mental, Segurança pública.

Objetivos

Analisar os impactos da Covid-19 na saúde física e mental dos servidores do setor de segurança pública do início da pandemia até o primeiro semestre de 2022, bem como determinar os níveis de ansiedade, depressão e estresse nesses servidores comparando as diferenças sintomatologias entre os profissionais de diferentes setores da instituição.

Delineamento e Métodos

A pesquisa é de natureza básica com abordagem quantitativa, com objetivo descritivo, e tipo pesquisa de campo. Foi realizado um levantamento sobre os níveis de depressão, ansiedade e estresse dos servidores de segurança e sobre a porcentagem de servidores com infecção prévia ou atual pelo SARS-CoV-2, bem como os sintomas apresentados durante e após a infecção, os fatores de risco e sociais relacionados.
Esse estudo foi realizado de forma online através de um formulário disponível no Google Forms que foi divulgado e enviado por e-mail individual para os participantes.
Para a avaliação do nível de estresse, ansiedade e depressão foi aplicada a Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (DASS-21) em sua versão traduzida para português, a qual é formada por 21 afirmações divididas em 3 áreas com 7 afirmações cada: a depressão (itens 3, 5, 10, 13, 16, 17 e 21), a ansiedade (itens 2, 4, 7, 9, 15, 19 e 20) e o estresse (itens 1, 6, 8, 11, 12, 14 e 18).
Cada frase é pontuada pelo entrevistado em uma escala de Likert de 4 pontos, variando de 0 (não se aplicou de maneira nenhuma) a 3 (aplicou-se muito, ou na maioria do tempo) levando em consideração a última semana. Cada área (depressão, ansiedade e estresse) é avaliada separadamente com a pontuação final de cada área sendo a soma da pontuação de seus itens multiplicada por 2.
De acordo com a pontuação final cada área foi categorizada em normal, leve, moderada, grave e muito grave. Adicionalmente, foi aplicado um questionário sintomatológico e de fatores de risco para Covid-19 com 17 perguntas de múltipla escolha a fim de entender melhor as variáveis relacionadas a cada servidor.

Resultados

Foram colhidas e analisadas as respostas de 105 participantes, 54,7% do sexo masculino e 45,3% feminino, onde apenas 1 pessoa afirmou ter mais de 60 anos. Dentre os servidores que afirmaram contaminação com COVID-19 (75 servidores), 80% confirmaram o diagnóstico com o RT-PCR, 9,3% com o teste rápido, 8% tiveram diagnóstico clínico e 2,7% com sorologia. Além disso, 53,3% afirmaram se reinfectar durante o tempo da pesquisa.
Dentre os sintomas percebidos pelos servidores durante a infecção pelo COVID-19, o mais prevalente foi a dor de cabeça (76%), seguido da febre (65,3%), tosse (61,3%), dor de garganta (60%) e perda ou redução de olfato (57,3%). Após recuperação da infecção, a fadiga (56,8%), seguida da dificuldade de memória (33,8%) e depressão e/ou ansiedade (29,7%) foram os três sintomas mais prevalentes.
Dos servidores que positivaram para COVID19, 100% afirmaram ter se vacinado com as doses necessárias até a época vigente. 52% se vacinou com AstraZeneca, 24% com Pfizer, 16% CoronaVac e 8% com Janssen.
Além disso, desses mesmos servidores que positivaram para o vírus, 94,7% afirmaram ter tido contato com pessoas infectadas durante o expediente de trabalho. As medidas preventivas utilizadas durante o serviço para prevenir a infecção pelo Coronavírus foram higienização das mãos com álcool e/ou água e sabão (82,7%), máscara cirúrgica (61,3%), máscara de tecido (50,7%) e luvas (4%), entretanto, 9,3% afirmaram não ter utilizado nenhum equipamento ou medida preventiva.
Avaliando os níveis de Depressão, Ansiedade e Estresse através da Escala DASS foi possível observar que 51% dos participantes apresentaram algum grau de depressão, 54% de ansiedade e 46% de estresse, respectivamente.
A partir dos resultados apresentados, tem-se que 81,1% dos servidores da amostra, precisaram se afastar por suspeita ou confirmação de COVID-19. Dentre os sintomas percebidos pelos servidores durante a infecção, o mais prevalente foi a dor de cabeça (76%) e, na pós-infecção, a fadiga (56,8%), seguida da dificuldade de memória (33,8%) e depressão e/ou ansiedade (29,7%).
Além disso, foi possível observar que 33% dos profissionais apresentaram algum grau (leve, moderado, grave ou muito grave) de depressão, ansiedade e estresse simultaneamente. Dentro desse grupo, as afirmações mais expressivas foram o sentimento de não conseguir relaxar, sentir-se agitado e sentir-se deprimido e sem ânimo.
Considerando os níveis grave e muito grave de depressão, ansiedade e estresse, simultaneamente, tem-se 16% da amostra, onde as afirmações mais recorrentes foram a dificuldade em ter iniciativa para fazer as coisas e sentir-se depressivo e sem ânimo.

Conclusões/Considerações finais

Avaliando os níveis de Depressão, Ansiedade e Estresse através da Escala DASS observou-se que profissionais de segurança pública do Recife apresentaram algum grau de depressão, ansiedade e estresse simultaneamente, e as afirmações mais expressivas desse grupo foram o sentimento de não conseguir relaxar, sentir-se agitado e sentir-se deprimido e sem ânimo. Além disso, nos casos mais graves, a dificuldade em ter iniciativa para fazer as coisas também estava significativamente presente.
Sabe-se que tanto o exercício das atividades laborais quanto às condições de trabalho são potenciais fontes de exposição ao SARS-CoV-2, visto sua alta transmissibilidade. Dessa forma, é fundamental entender, como essas condições de trabalho contribuem para a disseminação do vírus e para o aparecimento de condições psíquicas como Depressão, Ansiedade e Estresse.
Imperativo ressaltar que toda atividade laboral e todo trabalhador deve ser preparado/treinado, não apenas para a sua proteção individual, mas também para o seu papel coletivo, e para isso, a saúde mental precisa ser considerada como fator estruturante da sociedade.
Esses dados evidenciam que as condições a que os servidores da Segurança Pública participantes da pesquisa foram submetidos em seu cotidiano podem contribuir significativamente para o surgimento de um processo de adoecimento psíquico, principalmente quando expostos a um ambiente de pandemia e insegurança, e mesmo anos após o Decreto Estadual, publicado em Março de 2020.

Área

Tema Livre

Instituições

UNINASSAU - Pernambuco - Brasil

Autores

ALINE DANTAS DE OLIVEIRA, IANA RAFAELA FERNANDES SALES, MÁRCIO DE ABREU E LIMA SALMITO, Danielle Augusta de Sá Xerita Maux, Camilla Baldin Novaes Lima