Dados do Trabalho

Título

Quando o raciocínio probabilístico se impõe frente a um teste sorológico negativo para Doença de Chagas?

Introdução

A Doença de Chagas (DC) é uma patologia infecciosa causada pelo protozoário Trypanossoma cruzi. Ainda hoje é considerada doença endêmica na América Latina, sendo subdiagnosticada em locais não endêmicos. Os principais meios de transmissão incluem: vetorial, oral, transfusional e vertical. O entendimento de sua patogênese, diagnóstico e tratamento são fundamentais para o manejo clínico.

Objetivos

Descrição de caso suspeito de Doença de Chagas com duas sorologias negativas para a doença.

Descrição do Caso

Paciente 54 anos, hipertensa, relata que há 6 anos iniciou quadro de dispepsia, evoluindo com desconforto torácico, caracterizado como dor retroesternal de curta duração, geralmente relacionada a alimentação, associada com disfagia progressiva aos alimentos sólidos e líquidos. Exames de endoscopia digestiva alta e manometria evidenciaram acalasia e megaesôfago. Paciente foi submetida a uma cardiomiotomia videolaparoscópica com fundoplicatura (Cirurgia de Heller), obtendo-se melhora sintomática. Após alguns meses a paciente voltou a apresentar sintomas, com necessidade de dilatação endoscópica da junção esôfago-gástrica, com melhora sintomática. Há menos de um ano a paciente iniciou novo quadro de desconforto torácico, agora com sintomas mais intensos, e buscou unidade de emergência, sendo flagrado eletrocardiograma com padrão de bloqueio de ramo direito (BRD). Solicitado ecocardiograma transtorácico que revelou ausência de alteração contrátil segmentar, imagem de aneurisma apical em dedo de luva, câmaras e válvulas cardíacas normais e função ventricular sistólica e diastólica preservadas. Com os achados clínicos de megaesôfago, BRD e imagem de aneurisma apical, foi levantada possibilidade de transmissão vertical da DC, já que genitora da paciente apresentava epidemiologia positiva para esta doença. Foram solicitadas sorologias por métodos distintos (enzimaimunoensaio e hemaglutinação indireta) para definição diagnóstica, que foram não reagentes. Paciente está em acompanhamento no ambulatório especializado em DC, aguardando novas sorologias e ressonância magnética cardíaca para melhor definição etiológica do caso.

Conclusões e Considerações Finais

A confirmação diagnóstica da DC se dá através de dois resultados positivos de testes sorológicos com princípios distintos. Porém, é necessário considerar o raciocínio probabilístico na avaliação de casos em que a negatividade do teste sorológico deixa dúvidas, principalmente quando há quadro característico e exames complementares sugestivos de DC.