Dados do Trabalho
Título
ABDOME AGUDO E EOSINOFILIA: UM RELATO DE CASO
Fundamentação/Introdução
Pacientes que se apresentam com associações inusitadas representam desafios e oportunidades de aprendizado. A relevância é ainda maior quando a abordagem envolve diferentes cenários e especialidades, como emergência, bloco cirúrgico, terapia intensiva e seguimento ambulatorial, e achados de difícil interpretação.
Objetivos
Relatar o caso de uma paciente portadora de diabetes mellitus tipo 1, marcado por uma emergência cirúrgica e eosinofilia grave, com evolução surpreendente.
Descrição do caso
Uma paciente jovem, de 21 anos, portadora de diabetes mellitus tipo 1, foi admitida na emergência com abdome agudo cirúrgico por provável apendicite aguda. A laparotomia foi justificada por um ceco espessado, necrótico e perfurado, acompanhado de uma adenomegalia mesentérica e de nodulações hepáticas que surpreenderam, praticamente definindo um prognóstico muito desfavorável: carcinomatose peritoneal provavelmente originada no cólon. Uma tomografia computadorizada posterior reforçou a hipótese, revelando nodulações hepáticas irregulares e hipocaptantes, sugestivas de implantes secundários.
No pós-operatório imediato no CTI, além dos achados próprios do estresse metabólico da cetoacidose diabética, os exames laboratoriais confirmavam uma eosinofilia grave, já presente desde a admissão. O achado seria explicado pela neoplasia de base, ou por uma síndrome hipereosinofílica diversa? O tratamento empírico com ivermectina para possíveis parasitoses e corticoide foram associados ao cuidado pós-operatório e ao manejo da urgência hiperglicêmica. Nos dias seguintes, a evolução clínica e laboratorial foi muito satisfatória, com melhora progressiva, transferência para a enfermaria e alta hospitalar após três semanas. No ambulatório, o resultado tardio do anatomopatológico revelou que os preocupantes achados cirúrgicos e tomográficos foram causados por estrongiloidíase disseminada.
Conclusões/Considerações Finais
O caso ilustra como conclusões precipitadas podem ser induzidas por achados marcantes. As nodulações hepáticas convenceram os cirurgiões; a eosinofilia grave preocupou os intensivistas e o hematologista. Estrongiloidíase disseminada foi considerada improvável num caso agudo, sem imunossupressão. Mas foram as condutas apropriadas para cada momento evolutivo que permitiram o diagnóstico e um desfecho favorável.
Conclusão: intervir quando há limiar é chave na prática clínica. O diagnóstico é um processo dinâmico, evolutivo, desafiador, mas secundário.
Palavras Chave
Abdome agudo cirúrgico; eosinofilia; estrongiloidíase disseminada
Área
Clínica Médica
Instituições
Hospital Odilon Behrens - Minas Gerais - Brasil
Autores
DEVAKI DE ARAUJO CRUZ ATTANASIO, Gabriel Nino Taroni Naves, Eloi Teodoro Gomes Júnior, Reginaldo Aparecido Valacio