23º Congresso Brasileiro de Economia

Dados do Trabalho


Título

AUTOSSUFICIÊNCIA PRODUTIVA BRASILEIRA A PARTIR DA DISTRIBUIÇÃO DAS IMPORTAÇÕES SETORIAIS: UMA ANÁLISE INSUMO PRODUTO (1995-2015)

Resumo

A adoção de medidas econômicas de caráter liberalizante na economia brasileira, na década de 1990, e a maior abertura comercial delas decorrentes podem ter ocasionado perda de competitividade dos setores econômicos brasileiros – como muitos debates indicam - e consequente penetração de produtos importados se constituindo oferta no mercado interno. Analisar-se-á, a partir do instrumental de insumo-produto, como se comporta o peso das importações no valor bruto de produção (VBP) e como as importações setoriais se distribuem entre consumo intermediário (CI) e demanda final (DF), dando assim um indicativo da capacidade das atividades econômicas de darem base à produção dos demais setores domésticos, bem como da demanda final por eles existentes. Portanto, o objetivo central dessa pesquisa é avaliar de maneira breve como a maior abertura comercial, ocorrida a partir da década de 1990, impactou no suprimento da demanda intersetorial e final das atividades econômicas da economia brasileira, especificamente entre 1995 e 2015.

METODOLOGIA

Os dados utilizados nessa pesquisa será a das matrizes de insumo-produto da OECD.Stat (2019) (IOT’s/OECD) que fornecem dados estatísticos das relações de insumo-produto existente entre os setores econômicos de um país. As matrizes de insumo-produto são utilizadas em grande parte das pesquisas como instrumento de análise para geração de indicadores, que devido a forma de organização dos dados, permitem uma análise da dinâmica das relações intersetoriais, bem como de sua intensidade. Porém essa mesma forma organizada de dispor os dados estatísticos, permitem que as matrizes de insumo-produto sejam utilizadas também como uma fonte consistente e relativamente homogênea de dados, como assim foi utilizada nessa análise. Importante ressaltar ainda que as atividades econômicas, objetos de análise dessa pesquisa, são as pertencentes aos setores primário e secundário. Os setores são classificados com base na ISIC (International Standard Industrial Classification of All Economic Activities) (UNSTAT, 2019), porém foi necessário compatibilizar a série de dados entre a ISIC.rev3 e a ISIC.rev.4 de modo que houvesse comparabilidade das informações setoriais ao longo do período de análise.
Os fluxos monetários que descrevem as relações intersetoriais podem ser divididos em duas matrizes. Essas matrizes são (1) e (2) e representam as relações insumo-produto domesticas e importadas, respectivamente. Na matriz (1) os elementos Z_(i,j)^D expressam a produção doméstica do setor i destinada ao setor doméstico j; Y_i^D, a produção doméstica do setor i destinada a demanda final; X_i^D, o valor bruto de produção do setor i. Já na matriz (2) os elementos Z_(i,j)^M, expressam as importações do setor i destinada ao setor doméstico j para dar base a sua produção; Y_i^M, as importações do setor i destinada a demanda final; e〖 M〗_i o volume total de importações do setor i.

Conjunto de matrizes (1) e (2) a ser colocada no arquivo final do pôster
Fonte: Adaptado de Lopes e Vasconcellos (2008, p. 54) e Brene et al. (2011)

O foco da presente pesquisa, devido ao seu objetivo, está na matriz (2). Definindo 〖CI〗_i^M como as importações do setor i destinadas aos demais setores domésticos a título insumo, temos:

〖CI〗_i^M=∑_(j=1)^n▒Z_(i,•)^M

Sendo n o número de setores na economia. As importações do setor i, M_i, são expressas por:

M_i=〖CI〗_i^M+Y_i^M

Os resultados são apresentados na tabela 1 em termos percentuais, de tal modo que IMPO é o volume de importações em termos do VBP, ou seja, 〖IMPO〗_i=M_i⁄(X_i^D ). E CI e DF é como o volume de importações do setor i, M_i, se distribui entre consumo intermediário e demanda final, ou seja, 〖CI〗_i=(〖CI〗_i^M)⁄M_i e 〖DF〗_i=(Y_i^M)⁄M_i , respectivamente.

RESULTADOS

Os resultados são apresentados na tabela 1, com base nos setores com maior peso das importações no VBP e sua respectiva distribuição.

Tabela 1 - (A ser disponibilizada no arquivo do pôster)
(OECD.Stats, 2019)

O Setor de Maquinas e equipamentos apresenta crescimento da parcela das importações no VBP ao longo do período, além disso apresenta poucas mudanças na distribuição das importações entre CI e DF, sendo observado mudanças no patamar médio entre 2005 e 2010 onde se destina em sua maior parte à DF, consequência provável das políticas expansionistas adotadas e da “insuficiência” setorial doméstica decorrente da maior abertura comercial dos anos 1990.
O setor de Produtos eletrônicos, informáticos e óticos apresenta forte e crescente dependência do setor externo, haja vista a forte expansão do peso das importações no VBP ao longo do período. Em 1995, as importações representavam 16,5% do VBP e, em 2015, 62,4%, alcançando um pico em 2010 de 64,5%. O padrão de distribuição se altera em 2005 onde passa a destinar uma parcela ainda maior à DF (53,7% para 67,6%) e se mantem relativamente estável nesse padrão de distribuição.
Equipamento elétrico e Produtos químicos e produtos farmacêuticos apresentam comportamentos semelhantes. Ambos apresentam forte expansão do peso das importações no VBP (dobrando nos dois casos), além de manterem relativamente estável o padrão de distribuição das importações entre CI e DF, embora em patamares distintos e com o setor de Produtos químicos e produtos farmacêuticos apresentando variação pontual na distribuição no subperíodo 2005.
O setor de Outros equipamentos de transporte apresenta forte expansão do peso das importações no VBP. Em 1995 somente 11,8% do VBP era representado pelas importações, enquanto que em 2015, 64,9% do VBP era representado por importações. O padrão de distribuição também se altera drasticamente. Em 1995, 87,0% das importações era destinada ao CI e 13,0% à DF, enquanto que em 2015, 40,6% destinava-se ao CI e 59,4% à DF, demonstrando que além da produção setorial, a partir de 2000, ser suprida em sua maior parte pelas importações, a natureza/utilização (características) dos produtos importados também se alteraram.

CONCLUSÃO

É possível concluir, a partir dessa breve análise, que os setores que sofreram maior penetração de importações e consequentemente perda de capacidade de suprir as demandas por eles existentes, intersetoriais inclusive, foram especialmente setores industriais ligados a indústria pesada e outras de níveis de intensidade tecnológica, no geral, média-alta.

Abstract

Resumo

Palavras Chave

Estrutura produtiva. Importações. Insumo-Produto

Keywords

Productive structure. Imports. Input-Output

Referências

BRENE, P. R. A. et al. Estimativa da matriz de insumo-produto do município de São Bento do Sul no Estado de Santa Catarina. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, v. 7, n. 3, 2011.
LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. DE (EDS.). Manual de macroeconomia: nível básico e nível intermediário. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
OECD.Stats, 2019. Input-Output Tables. Disponível em: <https://stats.oecd.org/Index.aspx?DataSetCode=IOTS>.
UNSTAT, 2019. International Family of Classifications. Disponivel em: <https://unstats.un.org/unsd/classifications/Family/ListByName>.

Área

Bloco IV – Relações e Inserção Internacional - Abertura Comercial e Inserção Internacional

Instituições

Universidade Federal de Mato Grosso - Mato Grosso - Brasil

Autores

Thiago Vieira Barbosa, Leonela Guimarães