15° Congresso Brasileiro de Clínica Médica e 5° Congresso Internacional de Medicina de Urgência e Emergência

Dados do Trabalho


Título

Hiperalgesia pelo opioide – efeito paradoxal dos opiáceos: relato de um caso

Introdução/Fundamentos

Opioides são analgésicos fundamentais para tratar a dor e dentre os eventos adversos destacam-se tolerância e hiperalgesia. A hiperalgesia induzida pelo opioide (HIO) é um efeito paradoxal, pois a terapia que visa o alívio da dor pode causar uma sensibilidade maior ao estímulo nocivo e agravar a dor pré-existente.

Objetivos

Relatar um caso clínico incomum e pouco compreendido relacionado aos opiáceos.

Caso

Homem de 62 anos com adenocarcinoma de pulmão esquerdo e implantes secundários em pulmões, mediastino e ossos apresentou, durante estadiamento, dor oncológica em tórax esquerdo. Após avaliação na emergência, foi liberado com morfina fixa em altas doses e metadona de resgate. Teve alívio parcial da dor, mas evoluiu com crises álgicas difusas mais intensas que o habitual ao usar morfina, com piora ao aumento de dose, após 21 dias de uso regular dos opiáceos. Diagnosticado HIO, o tratamento foi ajustado para analgésico comum, anti-inflamatório não esteroidal e metadona intercalados e suspenso morfina. A quimioterapia aliviou a dor, mas retornou ao término das sessões com resposta ao uso de Pregabalina. Paciente faleceu por evolução da doença de base.

Conclusões/Considerações finais

HIO é o aumento da sensibilidade à dor causada pelo opioide, sendo por vezes confundida com tolerância ou abstinência, de incidência desconhecida e que ocorre com uso crônico e agudo, sendo este evidente em altas doses. A fisiopatologia provavelmente envolva sensibilização central com redução do limiar da dor, expansão do campo receptivo medular e aumento da resposta ao estímulo nocivo. Isto se dá por ativação de receptores N-metil-D-aspartato (NMDA) e da ciclo-oxigenase (COX) espinhal, liberação de aminoácidos excitatórios e facilitação descendente medular. Deve ser suspeitada quando o aumento da dose não promove analgesia, provoca exacerbação da dor ou alodínia difusa não associada à dor prévia ou a outras causas que devem ser afastadas, como progressão da doença de base e lesão aguda. O manejo envolve uso de antagonistas de receptores NMDA e rotação de opiáceos, em especial metadona, sendo esta conduta útil na prevenção da HIO. Inibidores de COX, Pregabalina, Propofol e agonistas adrenérgicos-alfa2 também modulam a HIO. Na crise mundial dos opioides, a HIO surge como assunto de relevante importância clínica. Embora os mecanismos exatos não sejam definidos e necessite de alta suspeição, a equipe de saúde deve estar orientada quanto ao efeito paradoxal e seu tratamento.

Palavras-chave

analgesia; controle da dor; opioide; complicação; hiperalgesia

Área

Clínica Médica

Autores

Mariana Fauth Seibel, Pedro Cargnelutti de Araujo, Carolina Paim Fernandes, Maria Celoni de Mello de Godoy