Datos del trabajo


Título

A dor exposta: os discursos da mídia internacional sobre o consumo de opiáceos

Introdução

Apresentamos uma análise de discurso de uma matéria de um jornal inglês de grande circulação sobre a crise de opiáceos (analgésicos narcóticos, uma família de substâncias químicas empregadas medicinalmente no controle da dor crônica), um pesadelo para as autoridades de saúde dos EUA. Diariamente, 91 americanos morrem de overdose de opiáceos, entre eles o cantor Prince que morreu de uma overdose de Fentanil em abril de 2016. Partimos dos pressupostos teóricos-metodológicos da Análise Crítica do Discurso (ACD) (Fairclough, 2016; 2005; Resende e Ramalho, 2006), com a finalidade de analisarmos um corpus principal que foi constituído de reportagem no jornal The Guardian do ano 2018.

Objetivos

O objetivo principal desse trabalho foi refletir, a partir de mídia jornalística internacional, sobre as relações constituintes da conjuntura de adicção aos opiáceos e as implicações das representações desse uso na sociedade norte-americana

Desenvolvimento

O ponto de partida de nossa reflexão foi à leitura da reportagem “It needs to make you unconfortable: the opioid documentary set to shock America” – “Ele precisa tornar você desconfortável: o documentário sobre opiáceos definido para chocar a América”, publicado no The Guardian de 31 de janeiro de 2018, assinado por Amanda Holpuch. Aborda uma série televisiva sobre a crise dos opiáceos nos EUA intitulada The Trade (O Comércio). O documentário foca em histórias de adictos, suas famílias e policiais tentando conter a epidemia de opiáceos, conforme a matéria referida. Uma das cenas relatadas apresenta “A câmera continua rolando enquanto mulheres com crianças são investigadas por policial, pela sua conexão com o comércio de opiáceos, em uma casa com muitos quilos de heroína, um carro dirigido por uma mãe intoxicada e, em frente a um jardim, sendo levada pelo serviço de proteção à criança”. Aparecem os rostos dos personagens principais: polícia, viciados e os produtores de papoula mexicana. The Trade reforça a ordem do discurso de que as drogas são uma ameaça externa, através do trecho que diz: “A situação de Guerreiro, no México, a principal fonte de heroína nos EUA, é um dos três principais tópicos da série, mas não há atenção equitativa à indústria de saúde dos EUA que tornou possível os cartéis de drogas para lucrar com o vício”. A ordem do discurso é, para Fairclough (2005), o aspecto semiótico, ou seja, da linguagem, de uma ordem social caracterizada como uma maneira particular das práticas sociais se inter-relacionarem. O problema que abordamos é representado pela tênue fronteira entre consumo lícito de opiáceos e drogas ilícitas como a heroína. A estrutura social que regula a produção e a distribuição dos dizeres sobre consumo de drogas lícitas para dor e a migração para opiáceos está fundada em um regime internacional hegemônico que percebe que (1) o consumo de psicoativos representa uma ameaça ao indivíduo e (2) este deve ser alvo de proibição (Souza, 2011). Afirmações de legitimação podem basear-se em três estratégias de construção simbólica: a racionalização, a universalização e a narrativação. Resende e Ramalho (2006) sustentam que por meio da legitimação, relações de dominação podem ser estabelecidas ou mantidas, sendo apresentadas como legítimas, ou seja, a legitimação estabelece e sustenta relações de dominação pelo fato de serem apresentadas como justas e dignas de apoio. Segundo Souza (2011), o discurso internacional predominante que resultou na militarização do combate às drogas se sustenta na visão ideológica do tráfico de drogas e atividades relacionadas como uma ameaça à segurança pública, nacional e internacional. O narrador revela que “... queríamos mostrar às pessoas, os custos pessoais (...) e levantar as questões mais desafiadoras ao sermos questionados sobre a epidemia de opiáceos e o tráfico de drogas como um todo”. Vemos como custo pessoal e a indústria da saúde são marcas dos discursos de uma sociedade capitalista, na qual termos próprios da economia se naturalizam. O estilo das frases mostra verbos de avaliação afetiva: “para todas as famílias, escolherem compartilhar foi realmente um testemunho do desejo de ajudar outras pessoas”; “o vício pode destruir a sua família (...)” e “onde há vida, há esperança”. Formas simbólicas abarcam “um amplo espectro de ações e falas, imagens e textos que são produzidos por sujeitos e reconhecidos por eles e outros como construtos significativos. São ideológicas somente quando servem para estabelecer e sustentar relações sistematicamente assimétricas de poder (Thompson, 1995). Em uma cena dolorosa, Jennifer Walton, mãe de dois filhos adultos em recuperação do vício, enfrenta seu filho, Skyler e seu amigo, que parece ter usado drogas. Isso viola as regras da casa, levando Walton e seu marido a forçar o par para fora de casa. Walton diz que cenas como essa eram necessárias. “É necessário fazer você se sentir desconfortável. Você precisa discutir isso”, disse Walton ao The Guardian. E continuou, "Eu acho que o anonimato mantém as pessoas doentes". Os filhos de Walton estão agora em recuperação do vício, algo que ela quer mostrar mais na mídia. Um dos modos de operação de ideologias é pelo estabelecimento e sustentação de relações de sua negação ou ofuscação (dissimulação), deslocando conotações positivas ou negativas. Em The Trade Jennifer Walton parece querer denunciar a política anti-drogas cortando na própria carne, "Batemos um pouco no lado do vício". Walton prossegue, "É hora de começar a falar sobre recuperação e olhar para os 25 milhões de pessoas que estão em recuperação. Eu sinto que The Trade nos deu uma oportunidade de fazer isso”.

Considerações Finais

Este trabalho reforça a necessidade de investigação das conexões entre práticas sociais e discursos para refletir sobre a reprodução de sentidos estabilizados sobre práticas específicas e as rupturas possíveis que levem à mudança e transformação da sociedade, nesse caso, sobre uso de opiáceos.

Palavras Chave

Discurso, Opiáceos, Vício, Drogas

Area

Comunicação e Saúde

Autores

José Carlos Borges Trindade, Fatima Teresinha Scarparo Cunha