Datos del trabajo


Título

TEORIA FUNDAMENTADA NOS DADOS COMO REFERENCIAL METODOLOGICO EM UMA PESQUISA COM IDOSOS NA ATENÇAO PRIMARIA A SAUDE

Introdução

A Teoria Fundamentada nos Dados (TFD) trata-se de um referencial metodológico cuja principal finalidade é construir uma teoria que emerge de dados sistematicamente reunidos e analisados por meio de processo de pesquisa1.
Permite desvelar conceitos e relações entre categorias de um determinado fenômeno para, de maneira indutiva, reproduzir esse entendimento quando o mesmo fenômeno acontecer em condições ou contextos semelhantes1.

Objetivos

Este trabalho tem o objetivo descrever a aplicabilidade do referencial metodológico da TFD em uma pesquisa com idosos na Atenção Primária à Saúde. Deste modo, espera-se estimular a adoção da TFD em pesquisas na área do envelhecimento e da enfermagem.

Desenvolvimento

A pesquisa que deu origem a este relato foi uma tese de doutorado de natureza qualitativa, cujo referencial teórico-metodológico foi a TFD. A coleta de dados incluiu observação não participante, diário de campo e entrevista semiestruturada.
O estudo foi desenvolvido com idosos na cidade de Santa Cruz/RN, em áreas urbanas cobertas pela Estratégia de Saúde da Família (ESF). Teve como critérios de inclusão: ter 60 anos ou mais de idade e fazer uso de medicamentos por pelo menos seis meses. Foram excluídos aqueles que não apresentaram condições cognitivas para responder ao instrumento de pesquisa – o que foi verificado mediante aplicação do Miniexame do Estado Mental (MEEM), sendo adotada a versão disponível no caderno de Atenção Básica nº19 do Ministério da Saúde2.
Foram realizadas 30 entrevistas com idosos residentes em três bairros do município, tendo sido também realizadas visitas a outros quatro idosos que não foram incluídos por não atingirem a pontuação mínima no MEEM.
Este estudo respeitou a Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 466/123 e foi aprovado pelo Parecer nº 412.476/2013 do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFSC (CEPSH-UFSC).
As coletas aconteceram de outubro de 2013 a junho de 2014 no domicílio de cada idoso; todas as entrevistas foram audiogravadas e transcritas pela própria pesquisadora, quando também passavam por uma primeira análise nos moldes da amostragem teórica.
A análise dos dados teve suporte do software o Atlas ti, e foi segundo o processo de codificação aberta, axial e seletiva – num movimento não linear –, que emergiram nove categorias ilustradas através do modelo paradigmático construído com base em Strauss e Corbin1.
As 30 entrevistas foram inseridas no Atlas ti versão 7.5.2 para iniciar a microanálise como parte da codificação aberta, onde inicialmente foram criados 1195 códigos e seus memorandos/memos.
Esses 1195 códigos passaram por uma releitura, reagrupando os semelhantes e descartando os que não possuíam relação direta com os objetivos da pesquisa, restando 608 códigos.
Esse processo de reagrupamento e identificação de códigos fez parte da codificação axial1. Nessa seleção, os códigos recebiam um prenome que remetia às famílias criadas, um recurso do software Atlas ti que auxilia o pesquisador a organizar os códigos ao agrupá-los de acordo com atributos que os tornam semelhantes em torno de um conceito4.
Excluídas as famílias que reuniam códigos não relacionados diretamente ao objeto de pesquisa, restaram 11 famílias agrupando 438 códigos que receberam anotações em forma de memorandos e geraram diagramas explicativos ilustrando as relações entre os códigos e destes com o conceito central de cada família, de onde emergiram as categorias desse estudo.
Isso auxiliou no entendimento do papel que cada categoria desempenharia no modelo paradigmático, um esquema organizacional útil para entender as associações entre categorias. Seus componentes básicos são as condições, as ações/interações e as consequências1. As condições são classificadas como causais, interventoras e contextuais, e representam os fatos, situações e problemas pertencentes ao fenômeno estudado1. Neste estudo, a construção do modelo paradigmático permitiu descobrir as relações entre as categorias, ilustrar e contextualizar o fenômeno em termos de estrutura e processo.
À medida que a codificação avançava, percebíamos que as categorias possuíam subcategorias capazes de explicar como, por que, quando e em que condições o fenômeno ocorria, ou seja, suas propriedades e dimensões.
O procedimento de relacionar as categorias às suas subcategorias para gerar explicações mais completas sobre os fenômenos faz parte da codificação axial. A codificação seletiva integra e refina categorias, para depois formar um esquema teórico maior, que quando os resultados assumem a forma de uma teoria1.
A seguir estão as categorias e posição que ocupam no esquema paradigmático:
- Buscando estratégias para lidar com o uso de medicamentos na vida diária (Ações/interações);
- Controlando uma situação de saúde/doença e de vida com o uso de medicamentos (Condição causal);
- Percebendo os efeitos bons e ruins dos medicamentos; - Lidando com as formas de aquisição dos medicamentos (Condições interventoras);
- Conciliando o uso de medicamentos, chás, remédios caseiros e fé; - Interagindo com a rede de apoio: profissionais, amigos, familiares e rezadeiras (Condições contextuais);
- Seguindo o tratamento medicamentoso; - Deixando de usar os remédios; - Necessitando de mudança no tratamento medicamentoso (Consequências).
Identificar a categoria central é o primeiro passo na integração das categorias. A categoria central deste estudo corresponde à condição causal: “Controlando uma situação de saúde/doença e de vida com o uso de medicamentos”.
As condições interventoras identificadas incluem a percepção dos idosos quanto aos efeitos bons e ruins atribuídos ao medicamento, além de suas formas de aquisição. Estas são capazes de alterar o fenômeno ou categoria central e geram determinadas consequências. A depender da consequência vivida pelo idoso – adesão ou abandono do tratamento –, diferentes estratégias são buscadas para lidar com o uso de medicamentos.

Considerações Finais

O uso de medicamentos pelos idosos é um fenômeno complexo e, portanto, digno de ser investigado a partir de um método que permitisse uma visão mais ampla. A adoção da TFD como referencial metodológico foi uma escolha que deu voz aos participantes na medida em que cada categoria delineada trazia a marca da experiência vivida por esses idosos.
A teoria construída – ilustrada pelo modelo paradigmático – possui poder explanatório para comunicar-se e aplicar-se à população estudada e a outros grupos que guardem semelhança com essas pessoas, a saber, idosos em tratamento medicamentoso contínuo, atendidos na ESF.

Palavras Chave

Teoria fundamentada. Idoso. Atenção primária à saúde.

REFERÊNCIAS:
1 Strauss A, Corbin J. Pesquisa qualitativa: técnicas e procedimentos para o desenvolvimento de teoria fundamentada. 2a ed. Porto Alegre: Artmed; 2008.
2 Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa: caderno de atenção básica nº. 19. Brasília: Ministério da saúde; 2006.
3 Ministério da Saúde (BR), Conselho Nacional de Saúde, Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Resolução CNS nº 466, de 12 de Dezembro de 2012. Aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília: MS; 2012.
4 Contreras RB. Primary Document Families: An Essential Procedure That Facilitates Data Exploration and Analysis. Inside ATLAS.ti: The QDA Newsletter, v. 3, p. 2-5, out. 2014. Disponível em: <http://downloads.atlasti.com/newsletter/ATLASti_Newsletter_2014-
03.pdf.> Acesso em: 02 jun 2018.

Area

Saúde do Idoso

Instituciones

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Rio Grande do Norte - Brasil

Autores

LUCIANE PAULA BATISTA ARAUJO OLIVEIRA, SÍLVIA MARIA AZEVEDO SANTOS