Datos del trabajo


Título

O ITINERÁRIO TERAPÊUTICO DA PESSOA VIVENDO COM HIV: REFLEXÕES SOBRE O ESTIGMA E O SOFRIMENTO SOCIAL

Introdução

A hegemonia do saber biomédico frente às medicinas populares, observada ao longo dos anos, reforçaram as dicotomias no cuidado e atenção à saúde tensionados por aspectos culturais e aqueles considerados científicos. Desta forma, os percursos das pessoas na busca de recursos para lidar com sua saúde são singulares, sendo as relações interpessoais e sócio-culturais fatores que influenciam nas diferentes formas de cura/tratamento. Os caminhos percorridos por pessoas em busca de cuidados terapêuticos sofrem influência da família, do conhecimento popular e dos profissionais (KLEINMAN, 1980). O itinerário terapêutico apresenta-se como uma ferramenta imprescindível para ampliar, compreender e conhecer o comportamento do usuário frente à tomada de decisão no tratamento. Entendê-lo é respeitar, proporcionar a dignidade e ética, garantindo a autonomia do sujeito. Os itinerários podem retratar questões subjetivas relacionadas a determinadas doenças, especialmente o estigma e o sofrimento social (DAS, 2011) em pessoas vivendo com HIV.

Objetivos

Relatar o itinerário terapêutico de uma pessoa vivendo com HIV, pontuando questões relacionadas ao estigma e o sofrimento social (DAS, 2011) como conceitos transversais.

Desenvolvimento

Trata-se de um relato de experiência acerca de um atendimento realizado no Serviço de Referência Municipal para tratamento das Doenças Infectocontagiosas, em uma cidade do Meio-Oeste do Estado de Santa Catarina no mes de maio de 2017. O nome utilizado para determinar o usuário é fictício. João, tem 21 anos, branco, é homosexual e tem ensino superior completo, do sexo masculino. Nasceu no interior do município e, há cerca de dois anos, mudou-se para a cidade a fim de estudar e buscar estabilidade profissional. Atua como professor em duas escolas e atualmente está estudando outro curso superior. Buscou atendimento para retirar os exames de controle do CD4 e de Carga Viral, visto que ele vive com o vírus do HIV. Na entrega do resultado dos exames, apresentou certa angustia e tristeza observáveis, ainda que os resultados fossem favoráveis. No decorrer da consulta conseguiu verbalizar algumas das dificuldades enfrentadas ao viver com a doença, revelando grande sofrimento que se estendia em sua realidade social. Suas relações conjugais, familiares, afetivas, estavam prejudicadas e havia preocupação quanto à vida profissional e ao acúmulo de compromissos e atividades. João relatou que sofreu exploração pelo seu ex-parceiro em relação aos afazeres domésticos em função de seus silêncios em relação à doença. Nesse sentido, o sofrimento social se estabelece, conforme aponta Das (2011), como resultado de um conhecimento sobre algum segredo permeado de estigmas que se transforma, em “conhecimento venenoso”, contaminado as relações reforçando estigmas e preconceitos. Contribui a esses, o sofrimento relatado em relação à (não) aceitação da família, tanto por sua sexualidade quanto em relação à doença. O sofrimento social, ainda, se apresenta como forma representativa da vida em relação ao mundo (VICTORA, 2011). Na solidão de seu silêncio, João sente-se obrigado a reprimir sua sexualidade e a esconder o diagnóstico, com medo da repulsa e de uma reação hostil, como o desprezo. Em seus dizeres, há claras evidências de desalento – “porque dói muito” – e retraimento – “eu não posso, por exemplo, pintar minhas unhas, coisas pequenas que não vejo como algo errado e nem ter meus medicamentos em locais de fácil acesso” – sentimentos que podem levá-lo a se isolar ainda mais da vida familiar e social, culminado em um processo de aniquilamento da sua identidade. Fazia uso de ansiolíticos por recomendação médica, apresentando insônia. Optou por parar de tomar o ansiolítico por não querer tomar mais um medicamento, além dos retrovirais. Além da assistência de profissionais da saúde, relatou ter buscado auxílio num Centro Espírita destacando que ali encontrou ajuda para aceitar a sua condição, tanto em relação à doença quanto da sexualidade, além de receber mensagens de fé e esperança. Relatou que a fé o fez sentir menos “culpado”, tendo buscado o Centro logo após o diagnóstico. É importante destacar que o cuidado em saúde deve articular diferentes racionalidades, as quais devem buscar o bem-estar integral do sujeito. Além disso, a busca pela espiritualidade tem demonstrado ser importante dentro destes processos de enfrentamento de doenças e do sofrimento, podendo atuar como possibilidade para ampliar redes de apoio social na diminuição do sofrimento. As relações de não-aceitação da família, das pessoas próximas, a angústia frente ao diagnóstico e aos estigmas, fazem com que pessoas que vivem com HIV padeçam pelo sofrimento social que se reflete em seus itinerários terapêuticos.

Considerações Finais

De acordo com o que foi exposto, destaca-se a importância do acompanhamento multiprofissional e de um atendimento integral, levando em consideração outras formas de cuidado, não biomédicas. A busca pela espiritualidade pode apresentar-se como recurso para que pessoas que vivam com HIV ampliem suas redes de apoio social na busca por diminuir sofrimento social, afastando-se de espaços “infectados” pelo conhecimento venenoso. Entender os intricados percursos vivenciados pelo João, mostra que todos os caminhos do cuidado têm sua importância e significação para seus interlocutores Aponta-se a necessidade dos profissionais ampliarem os conceitos de cuidado à saúde, buscando desvelar diversos sistemas de atenção à saúde, integrando a prática humanizada do cuidar, respeitando os preceitos sócio-culturais na busca por diminuir estigmas e preconceitos.

Palavras Chave

HIV; Itinerário terapêutico; sofrimento social

Area

Gênero, Sexualidade e Saúde

Instituciones

Udesc - Santa Catarina - Brasil, Unisinos - Rio Grande do Sul - Brasil, UNOESC - Santa Catarina - Brasil

Autores

Paula Brustolin Xavier, Francielli Girardi, Marisangela Spolaôr Lena, Maiton Bernardelli