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Título

EMPREENDEDORISMO: LINHA DE FUGA AS REDES DE MICROPODERES NO PROCESSO DE TRABALHO EM SAUDE

Introdução

As relações entre os profissionais da saúde são muito complexas e transitam pelas práticas profissionais e pela produção de subjetividades desses sujeitos que se relacionam com o mundo moldando suas condutas, tornando-as singulares(1). Verifica-se, assim, uma conformação diferenciada em cada um, sendo alguns mais organizados em torno de certas condutas previamente estruturadas, outros, sujeitos trabalhadores capazes de ação criativa, produtivo-desejante, capazes de abrir linhas de fuga à asfixia imposta pela norma e impactar o modo de produção da saúde. Direciona-se, assim, ao empreendedorismo como caminho importante para uma desmodelagem das condutas concretas e postas, tencionando para aquelas “disformes” que se transformam a depender da indução – práticas rizomáticas(2). O empreendedorismo pode ser compreendido como a arte de fazer acontecer com criatividade e motivação; consiste no prazer de realizar com sinergismo e inovação, em desafio permanente às oportunidades e riscos(3).

Objetivos

Analisar o empreendedorismo como uma estratégia de fuga aos processos de assujeitamento relacionados às redes de micropoderes normalizadoras da produção em saúde; Articular as bases teórico-filosóficas que sustentam uma discussão sobre o empreendedorismo e suas influências na condução de processos inovadores no trabalho em saúde.

Desenvolvimento

Na busca pela compreensão do conceito ampliado de saúde, propósito do Sistema Único de Saúde (SUS), com frequência, deparamo-nos com a linearidade e os reducionismos com que eram concebidos e discutidos os demais conceitos que compõem a unidade complexa do sistema de saúde(4). Nesse contexto, o empreendedorismo surge como novas formas de vida e experimentações que permite ao trabalhador da saúde ressignificações em seus processos de trabalho e uma condução proativa do trabalho em saúde. Desenvolver uma cultura empreendedora no processo de trabalho em saúde implica em alargar as fronteiras e a visão de futuro por meio da formação de lideranças proativas, para assegurar a continuidade do processo de inovação e transformação(5). Nessa direção, é preciso crescentemente fortalecer as ações integrativas e integradoras, a fim de valorizar e potencializar o conhecimento interdisciplinar como qualidades e iniciativas dos diferentes trabalhadores da saúde. Os saberes em saúde, historicamente, autonomizaram-se de acordo com racionalidades científicas específicas e particulares, e institucionalizaram-se segundo a construção de hierarquias de reconhecimento e legitimação da estratificação do prestígio social que tem conferido posições de valor desigual entre as ciências da saúde(6). Por meio dos saberes, as diferentes disciplinas ou especializações constituem territórios próprios nos quais circulam certos ordenamentos ligados a estratégias e jogos de poder(7). Nesse contexto, resgata-se Foucault(8) que chama a atenção para a possibilidade de as normas sociais determinarem a vida dos indivíduos parcialmente, num jogo de determinação-indeterminação em que há sempre zonas vazias – aqui interpretadas como linhas de fuga – que se abrem à invenção – aqui reconhecidas e orientadas pelo empreendedorismo na saúde. É nesse intento que se compreende a necessidade de transformar e superar as práticas engessadas de saúde, e orientadas por estruturas alienantes e inibidoras da reflexão. O empreendedorismo surge, assim, como poder que se institui nas linhas de fuga, pois permite ao trabalhador da saúde assumir um comportamento proativo diante de questões que precisam ser resolvidas, com isso despertar no indivíduo o aproveitamento integral de suas potencialidades racionais e intuitivas. É a busca do autoconhecimento em processo de aprendizado permanente, em atitude de abertura para novas experiências e novos paradigmas(3). De tal modo, o empreendedorismo é reconhecido como um processo alternativo dinâmico e estratégico, dotado de mecanismos mutáveis capazes de tornar sustentáveis os produtos, serviços, organizações e, principalmente, a gestão de pessoas, aspecto este tão intrínseco ao processo de trabalho em saúde. Para tanto, combina a paixão por uma missão social com a imagem de disciplina, inovação e determinação, alicerçadas nos valores da cidadania.

Considerações Finais

O empreendedorismo na saúde se configura como uma estratégia importante para o enfrentamento de situações que engessam as práticas em saúde e que inibem o desenvolvimento de práticas interprofissionais na saúde. A reflexão teórica conduzida nesse estudo permitiu reconhecer o empreendedorismo como uma fuga na qual a inovação desperta e transforma posturas profissionais nos processos de trabalho.

REFERÊNCIAS
1. Foucault M. História da sexualidade: a vontade de saber. Albuquerque MTC (trad.). Rio de Janeiro: Paz e Terra; 2014.
2. Deleuze G, Gattari F. Mil platôs. São Paulo: Editora 34; 1995
3. Baggio AF, Baggio DK. Empreendedorismo: Conceitos e Definições. Rev. de Empreendedorismo, Inovação e Tecnologia [internet]. 2014 [cited 2018 mai 23];1(1):25-38. Available from: https://seer.imed.edu.br/index.php/revistasi/article/view/612/522
4. Backes DS, Zamberlan C, Colomé J, Souza MT, Marchiori MT, Erdmann AL, et al. Interatividade sistémica entre os conceitos interdependentes de cuidado de enfermagem. Aquichán [Internet]. 2016 [cited 2018 Mai 24];16(1):24-31. Available from: http://www.scielo.org.co/pdf/aqui/v16n1/v16n1a04.pdf
5. Murad A. Gestão e espiritualidade: uma porta entreaberta. São Paulo: Paulinas; 2007.
6. Carapinheiro G. Os desafios dos saberes na investigação em saúde. Forum Sociológico [Internet]. 2014 [cited 2015 Oct 20]. Available from: http://sociologico.revues.org/985
7. Gregório VRP, Padilha MI. Strategies of power in the context of maternity Carmela Dutra: Florianópolis-SC (1956-1986). Texto Contexto Enferm [Internet]. 2012 [cited 2015 Oct 20];21(2):277-85. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v48n5/0080-6234-reeusp-48-05-899.pdf
8. Albuquerque JúniorDM, Veiga-Neto A, Souza Filho A. Cartografias de Foucaut. Belo Horizonte: Autêntica Editora; 2008.

Palavras Chave

Inovação; Processo de Trabalho; Trabalho em Saúde; Poder (Psicologia); Relações Interprofissionais.

Area

Processo de trabalho e profissionalização

Autores

Maria da Conceição Coelho Brito, Maria Rocineide Ferreira da Silva, Raimundo Augusto Martins Torres, Lucilane Maria Sales da Silva, Dirce Stein Backes, Maria Socorro de Araújo Dias, Karina Oliveira de Mesquita