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Título

GESTÃO ACADÊMICA UNIVERSITÁRIA: A RECONFIGURAÇÃO GERENCIAL A PARTIR DA ESCOLHA DOS DIRIGENTES PELA COMUNIDADE

Introdução

Na década de 1980, um dos anseios a comunidade acadêmica universitária centrava-se no movimento político para escolha dos gestores das Universidades Federais de Ensino Superior (IFES) em todos os níveis. Na Universidade Federal Fluminense (UFF), era latente a mobilização e o processo de luta culmina em 1985 com a consulta para reitor e, posteriormente, como efeito cascata, os demais dirigentes tornaram-se elegíveis da mesma forma. A Escola de Enfermagem (EE) pertencia ao conjunto de unidades acadêmicas do campo da saúde e, no jogo politico de campanha, envolvendo os três segmentos universitários, foram escolhidas as primeiras diretoras para o quadriênio 1987-1991. No período que antecede a escolha da direção por consulta exacerbavam as inquietações quanto à forma gerencial e a tomada de decisão já que articulações antecediam as reuniões do Colegiado de Unidade, órgão máximo deliberativo da EE, de forma que o “arranjo” já estaria acertado, antes que as matérias fossem apreciadas. Diante do novo quadro instituído, a comunidade centrou-se na possibilidade de efetivar discussões e de ter retorno aos seus anseios, superando as contradições pré-existentes.

Objetivos

Discutir a gestão universitária dos gestores da UFF e da Escola de Enfermagem a partir da consulta ao seu corpo social.

Método

Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, de abordagem qualitativa, que se propôs a resgatar as tendências gerenciais dos primeiros gestores escolhidos a partir de 1986, marco do inicio de um processo diferenciado e democrático de nomeação dos diretores das unidades de ensino da UFF e de outras instâncias. Através da história oral, enquanto técnica de pesquisa, foi realizada entrevistas semiestruturadas com doze docentes (Apêndice A) e dois servidores administrativos (Apêndice B) que conviveram diretamente com a direção da EE neste período e com outros gestores. Como critério de inclusão dos depoentes, considerou-se os aspectos: ser docente, membro do colegiado de unidade no período ou ter ocupado cargo de chefia em estreita relação com a direção da Unidade ou ser servidor técnico-administrativo que atuou junto aos dirigentes e participou do processo de consulta à comunidade. Foi utilizada a análise temática como método interpretativo de apreciação de dados qualitativos a luz de conceitos da sociologia de Pierre Bourdieu. A pesquisa em foco é parte de uma pesquisa mais ampla, intitulada: “Historiografia dos modelos de gestão dos dirigentes de Enfermagem em diferentes cenários”, submetida à Plataforma Brasil e aprovada pelo CEP sob o número 771.846 em 08 de agosto de 2014, atendendo aos preceitos da Resolução CNS/MS 466/12. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi oferecido aos sujeitos da pesquisa para conhecimento e qualquer esclarecimento que se fizesse necessário (Anexo A). Os participantes da pesquisa tiveram garantia da confidencialidade de sua identidade, sendo utilizados codinomes.

Resultados

O modus operandi gerencial que antecede a escolha dos dirigentes da UFF e da Escola de Enfermagem era mais rígido, controlador e estabelecia distinções. Esse modelo orientava a condução das decisões dos dirigentes e dos agentes que coadunavam com esse modelo. O processo de consulta estabeleceu relações de poder diferenciadas entre dominantes-dominados. As ações dos agentes-gestor começam a articular-se a uma nova compreensão do mundo social e do mundo do trabalho e passam a ser percebidas na prática gerencial. Tais aspectos reportam à noção de habitus como teoria explicativa do ato de administrar constituído de saberes adquiridos, ao longo da vida, através de diferentes experiências e trocas relacionais em distintos espaços sociais e campos do saber. Destaca-se que o diferencial para gerenciar associou-se à compreensão das funções administrativas, sem a rigidez que vinha sendo preconizada como modelo à época. A forma de controle austero já não era pertinente e a gestão de pessoas implicava nas relações e envolvimento dos gestores com os parceiros, coparticipes do processo gerencial. O poder político do gestor dependeria do seu grau de influência no espaço universitário e na relação com agentes superiores, face ao caráter político que estava imbuído nas relações dominantes-dominados nos diferentes níveis de gestão. Ficou perceptível que, em cada processo de escolha realizado na UFF, os grupos de apoio ou de resistência se refazem de acordo com demandas e interesses. O processo de consulta dos gestores suscitou muitas expectativas em todo corpo social acadêmico em função de ser democrático e da sociedade estar ávida por exercer seus direitos e, embora se tenha aprendido muito com essa experiência, a operacionalização das propostas não foram fáceis, pelas perspectivas econômicas e pela forma que os governantes do país compreendiam o papel das IFES. Mesmo havendo resistências, escolher seus dirigentes foi significativo e libertador porque o gestor representaria sua comunidade e as determinações não viriam mais prontas e, da mesma forma, estava aberta a possibilidades de se dirimir distinções ou privilégios.

Considerações Finais

O sentido do coletivo foi alimentado e necessitava-se de parcerias, de alianças, de uma representação fidedigna dos anseios de todos os agentes, de uma política conciliável de organizar as relações de poder e de conduzir a UFF e a Escola de Enfermagem. A escolha dos agentes-gestor foi parte importante do processo democrático, mas era preciso tempo e amadurecimento dos dirigentes e da própria comunidade para maturar e ter a clareza das posições que se desejavam tomar. As lutas concorrenciais ficaram mais explicitadas através das opiniões e posições dos agentes no campo, particularmente com a constituição do estado democrático. Os agentes se empoderaram de seu papel e da amplitude de suas articulações. As primeiras gestões eleita foi só o inicio de um processo de lutas e de avanços que viriam e, nesse caminho, ganhou-se a adesão de muitos agentes que estavam focados no crescimento e projeção da UFF e da Escola de Enfermagem. Em função do processo democrático relacionado à escolha dos dirigentes, houve um estado de mudança que se processou nos padrões da gestão e organização acadêmica no tempo-espaço deste estudo. A isso se denomina metamorfose, que implica numa nova conformação da gestão institucional imbricada com a especificidade histórica, política e social das instituições que compõem a UFF, e gerou novas tensões e desafios.

Palavras Chave

Gestão universitária; Instituições públicas de ensino; Escola de Enfermagem; Democracia; Processo de mudança

Area

Gestão de Serviços de Saúde

Instituciones

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - Rio de Janeiro - Brasil

Autores

Deise Ferreira de Souza, Zenith Rosa Silvino, Barbara Pompeu Christovam, Cristina Lavoyer Escudeiro, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente, Miriam Marinho Chrizostimo