Datos del trabajo


Título

SER AGENTE COMUNITARIO DE SAUDE: SIGNIFICADOS REVELADOS POR MEIO DO GIBI

Introdução

O agente comunitário de saúde (ACS) constitui importante ator na transformação do processo de trabalho em saúde, uma vez que a natureza de sua prática consiste em construir pontes entre a equipe e a comunidade. Assim, permite que a realidade das pessoas seja conhecida pela equipe, favorecendo a construção de planos de cuidado coerentes com as necessidades de saúde e condições materiais de existência das pessoas¹. O ACS vivencia a ambiguidade de ser trabalhador da área de saúde e também morador da comunidade, singularidade que torna complexa a construção de sua identidade no trabalho. Os modos de ser dos profissionais vão sendo delineados no enfrentamento cotidiano dos serviços de saúde, inseridos no contexto desafiador de transição do modelo de atenção à saúde². Assim, é no enfrentamento direto com o mundo do trabalho que o “ser agente comunitário de saúde” vai ganhando contornos, sua prática vai sendo reconstruída, seus saberes são (re)significados e sua identidade vai sendo reconfigurada. Tem-se como pressuposto que o fazer do ACS se constitui como prática social que os coloca como protagonistas de um movimento cujo potencial é de transformação de si mesmo, da realidade, além de reproduzi-la. Nesse contexto, tem-se como prerrogativa que a realidade se constrói dentro da totalidade social e as percepções dos sujeitos, embora pertençam à esfera individual, encontram-se vinculadas à sua inscrição social². Assim, as representações dos sujeitos guardam uma dimensão simbólica e também material, pois o modo de pensar influencia os modos de agir dos sujeitos ao mesmo tempo em que por eles são reconfigurados³. Neste sentido, surge a inquietação relacionada à configuração do modo de ser do agente comunitário de saúde de um município do interior de Minas Gerais. Portanto, questiona-se o que significa ser agente comunitário de saúde? O interesse pelo estudo se deu pela convivência dos autores com os sujeitos da pesquisa, durante um Projeto de Educação Permanente, promovido pela Universidade Federal de Viçosa.

Objetivos

compreender os significados de ser Agente Comunitário de Saúde (ACS).

Método

Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada em 14 Estratégias de Saúde da Família (ESF) em um município do interior de Minas Gerais. Os participantes foram 14 Agentes Comunitários de Saúde. A coleta de dados foi realizada mediante aplicação da Técnica do Gibi e os dados foram submetidos à Análise de Conteúdo.

Resultados

Os dados revelam a utilização de metáforas pelo ACS para representar o significado de ser ACS, emergindo quatro unidades de significado, são elas: Ser Agente Comunitário de Saúde é Ser Anjo; Ser Super-Herói, Ser Mágico e Ser Carteiro. Em busca pela resolutividade das necessidades da comunidade, o ACS imprime o significado de proteção do usuário, assumindo a representação de anjo, o que o move a buscar resolver os problemas deles, dando-lhe a característica de Super-Herói. O ser Mágico carrega o sentido de estar sempre disponível, a fim de dar respostas aos anseios da comunidade, como que em um passe de mágica. Além disso, consideram que, em meio aos constrangimentos estruturais do sistema de saúde, é preciso mágica para ser resolutivo. E Ser Carteiro carrega o significado de ser elo entre a comunidade e o serviço, porém agrega também uma visão que restringe o escopo das ações dos ACS em realizar entregas e demandas. Os significados expressos pelos ACS revelam sentimentos de pertença que criam uma identidade solidária do ACS com a comunidade que o mobiliza, na busca por melhorias das respostas dadas aos usuários¹. Dessa forma, a presença da ajuda solidária com a comunidade inscrita no modo de ser do ACS sustenta o significado de Ser Anjo protetor dessas pessoas, que move o ACS a buscar resolver todos seus problemas. A projeção e expectativa que a comunidade impõe sobre o fazer dos ACS, associada às idealizações que os mesmos têm sobre o escopo de sua prática, superestimam o potencial de ação deste trabalhador, sustentando a representação de Ser Super-Herói. Desconsidera-se, portanto, os outros atores e cenários implicados na produção de saúde. Pode-se inferir que esta expectativa de encontrar, no ACS, a resposta das mazelas que os aflige, no que se refere à situação de saúde, estabelece estreita relação com o reconhecimento que o ACS atribui ao seu ser profissional como um super-herói. Os ACS se reconhecem, entretanto, impotentes perante às fragilidades inscritas na realidade social das famílias, por ele atendidas, e do sistema de saúde que representam. Dentro de tantas contradições, o ACS se percebe como alguém que precisa fazer mágica para responder, de forma resolutiva e eficaz, as necessidades de saúde da população. O significado Ser Carteiro revela o acumulo de atribuições que não de sua competência as quais, habitualmente, tem sido incorporado ao fazer do ACS no que diz respeito à entrega de consultas e de receitas médicas.

Considerações Finais

O estudo permitiu desvendar os significados de ser ACS e inferir que tais representações vêm sendo originadas da prática e dos significados a ela atribuídos, pertencendo a um contexto organizacional, político e social. Os significados atribuídos pelos ACS participam da trama subjetiva de construção de sua identidade profissional. A técnica do gibi revelou-se importante recurso metodológico para a presente investigação e poderá encorajar estudos futuros, pois permitiu a expressão de subjetividade, essencial na pesquisa qualitativa. Neste estudo, as metáforas apresentadas pelos ACS trouxeram significados que auxiliam na compreensão da realidade enquanto produção histórica e social, passível de ressignificações. A análise sobre o ser agente incorpora, em sua gênese, reflexões sobre os saberes e as práticas produzidas por estes atores, bem como o contexto organizacional, político e social no qual suas práticas são tecidas.

Palavras Chave

Subjetividade; Agente Comunitário de Saúde; Estratégia de Saúde da Família; Pesquisa Qualitativa; Enfermagem

Area

Saúde Coletiva

Instituciones

Hospital Metropolitano Célio de Castro - Minas Gerais - Brasil, Hospital Sofia Feldman - Minas Gerais - Brasil, Universidade Federal de Minas Gerais - Minas Gerais - Brasil, Universidade Federal de Viçosa - Minas Gerais - Brasil, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - Minas Gerais - Brasil

Autores

Beatriz Santana Caçador, Marileila Marques Toledo, Ariadne Barbosa do Nascimento Einloft, Gisele Roberta Nascimento, Carolina da Silva Caram, Lílian Cristina Rezende, Maria José Menezes Brito