Datos del trabajo


Título

SIGNIFICADO DE CUIDADO PARA PESSOAS QUE VIVEM PRIVADAS DE LIBERDADE

Introdução

O Sistema Único de Saúde (SUS) impulsionou uma transformação paradigmática nos modos de compreender o ato de cuidar e de produzir o cuidado, por meio de seus princípios doutrinários: integralidade, universalidade e equidade. Assim, as desigualdades são consideradas como centrais na análise da produção de cuidado de modo que a vulnerabilidade e as populações em situação de vulnerabilidade são reconhecidas no processo de produção social da saúde¹. A condição de confinamento das pessoas privadas de liberdade constitui, por natureza, uma barreira de acesso à assistência a saúde de modo integral, além de suas necessidades de saúde tenderem a ser invisibilizadas, caracterizando assim situação de vulnerabilidade. À luz da equidade, as pessoas privadas de liberdade precisam de políticas específicas de acesso, uma vez que vivenciam situação de marginalidade e exclusão social além de viverem em ambientes insalubres. O ambiente prisional é, na maioria das vezes, precário e patogênico, haja vista que as celas são superlotadas, úmidas e escuras, a alimentação é inadequada e a população é exposta ao uso generalizado de tabaco, à falta de higiene e ao sedentarismo o que cria condições ideais para o desenvolvimento de agravos à saúde, tanto de natureza física quanto psíquica. Aliada à maior suscetibilidade à infecção e ao adoecimento encontra-se, ainda, menor disponibilidade de recursos para ações profiláticas e de proteção2. É importante analisar, também, o grau e a qualidade da informação de que dispõem esses indivíduos, assim como o acesso aos meios de comunicação e à escolarização, seu poder de influenciar decisões políticas e sua possibilidade de enfrentar barreiras culturais. Nesse contexto, pensar na construção de práticas de cuidado balizadas pela equidade perpassa justamente por perceber o processo de marginalização a que são sujeitadas esta população, principalmente pela situação de reclusão. O cotidiano das populações privadas de liberdade constitui realidades invisibilizadas socialmente, as quais raramente são reconhecidas, compreendidas e abordadas as necessidades de saúde e cuidado destas pessoas. Ademais, o desejo de melhorar os dispositivos e estratégias de cuidados oferecidos à população privada de liberdade reforça o interesse de compreender a subjetividade inscrita na compreensão de cuidado para pessoas cujos modos de viver e andar a vida são tecidos em meio a privação da liberdade. Neste contexto, questiona-se: qual o significado de cuidado para a população privada de liberdade de um presídio do interior de Minas Gerais? Acredita-se que uma compreensão ampliada sobre as concepções de cuidado para os sujeitos que vivem privados de liberdade pode contribuir para uma assistência coerente com suas reais necessidades de saúde, bem como para o resgate à condição digna de vida e bem estar e para minimizar as iniciativas de negligência e preconceito tão presentes nessa população.

Objetivos

Compreender o significado de cuidado para as pessoas privadas de liberdade de um presídio no interior de Minas Gerais.

Método

Pesquisa qualitativa realizada no período de agosto a dezembro de 2017. Participaram do estudo 19 pessoas que vivem privadas de liberdade em um presídio do interior de Minas Gerais. Realizada entrevista orientada por roteiro semiestruturado e os dados foram submetidos à Análise de Conteúdo de Bardin³. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com seres humanos (Parecer CEP/UFV 1.668.556).

Resultados

As pessoas privadas de liberdade constroem significados de cuidado que se expressam pela forma hegemônica de práticas de promoção da saúde, como o desenvolvimento de hábitos saudáveis de vida. Assim, consideram como cuidado prática de atividade física, parar de fazer uso do tabaco e de outras drogas, alimentação saudável e dormir bem. Além disso, evidenciam uma concepção ampliada de saúde ao considerarem a dimensão das relações na produção do cuidado. Assim, expressam que carinho, preocupação, querer o bem das pessoas, cuidar da família e do ambiente são formas de ser e fazer cuidado. A abordagem no âmbito da promoção da saúde que enfatiza as questões comportamentais e o estilo de vida dos sujeitos é centrada no indivíduo, desconsiderando as dimensões da determinação social do processo saúde doença que extrapolam a governabilidade dos indivíduos, como habitação, saneamento, ambiente físico limpo, entre outros4. É possível perceber que, embora a percepção de cuidado das pessoas privadas de liberdade seja marcada pela lógica dominante de mudança de comportamento individual, há também o reconhecimento da complexidade do cuidado no que tange a dimensão relacional. Reforçam, ainda, a perspectiva de que a produção de cuidado é permeada pelas tecnologias relacionais, as quais constituem como uma forma de cuidado fundamental para viver privado de liberdade. Fazem referência ao carinho, querer bem e preocupar-se como formas de revelar cuidado.

Considerações Finais

As pessoas privadas de liberdade constroem significados sobre cuidado que transitam entre concepções hegemônicas de práticas de promoção da saúde centradas em aspectos biológicos da vida. Porém, revelam também a compreensão de cuidado que alcança outras dimensões da vida humana. Torna-se fundamental para enfermagem compreender tais significados para ser possível construir planos de cuidado coerentes com a singularidade de se viver privado de liberdade.

Palavras Chave

Cuidado; Vulnerabilidade; Pesquisa Qualitativa; Enfermagem

Area

Saúde e populações vulneráveis

Instituciones

Hospital Metropolitano Célio de Castro - Minas Gerais - Brasil, Universidade Federal de Minas Gerais - Minas Gerais - Brasil, Universidade Federal de Santa Catarina - Minas Gerais - Brasil, Universidade Federal de Viçosa - Minas Gerais - Brasil

Autores

Beatriz Santana Caçador, Laylla Veridiana Castória Silva, Carolina Silva Caram, Maria José Menezes Brito, Flávia Regina Souza Ramos