Datos del trabajo


Título

Desafios frente as condições de trabalho que impactam na implementação do Cuidado Farmacêutico na Atenção Primária à Saúde

Introdução

Em 2008, com a publicação da Portaria GM 154/2008, que estabelece a Assistência Farmacêutica nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf), viabilizou-se a inserção dos farmacêuticos na Atenção Primária à Saúde (APS) no município de Belo Horizonte. Atualmente conta-se com 64 farmacêuticos na APS, resultando numa proporção de um farmacêutico referenciado para dois ou três centros de saúde. A presença destes profissionais na APS levou à introdução de novas ações direcionadas ao paciente, especialmente voltadas ao uso do medicamento. No modelo proposto, o farmacêutico deve atuar nas duas grandes áreas da Assistência Farmacêutica (AF): técnico-gerencial e técnico assistencial. As atividades assistenciais se operacionalizam através dos serviços farmacêuticos, que compreendem “um conjunto de atividades organizadas em um processo de trabalho, que visam a contribuir para prevenção de doenças, promoção, a proteção e recuperação da saúde, e para a melhoria da qualidade de vida das pessoas”. Os serviços farmacêuticos diretamente destinados ao paciente, à família e à comunidade são fundamentados pelo modelo de prática denominado Cuidado Farmacêutico. Desse modo, a Assistência Farmacêutica municipal avança direcionando as suas ações baseadas em um modelo conceitual integrado ao processo de cuidado em saúde. Este modelo deve ofertar, além de medicamentos de qualidade acessível a quem deles necessite, ações articuladas e integradas que visem garantir a continuidade do cuidado junto à equipe e aos demais serviços de saúde. Para o desenvolvimento destas atividades, é necessário que Unidades de Saúde disponham de infraestrutura, recursos humanos e materiais que permitam a integração dos serviços e o desenvolvimento das ações de Assistência Farmacêutica de forma integral e eficiente, permitindo a garantia da qualidade dos medicamentos, o atendimento humanizado e a efetiva implementação de ações capazes de promover a melhoria das condições de assistência à saúde.

Objetivos

O objetivo deste trabalho foi caracterizar os desafios estruturais que interferem nos avanços dos serviços farmacêuticos assistências nas unidades da Atenção Primária à Saúde.

Método

Trata-se de um estudo de caso, de abordagem qualitativa, realizado em maio de 2016. Participaram do estudo, 50 farmacêuticos atuantes, há pelo menos um ano, nos Nasf, que responderam ao questionário. Os Nasf são compostos por farmacêutico, nutricionistas, assistente social, fonoaudiólogos e terapeuta ocupacional, definidos de acordo com as necessidades locais. Os dados foram coletados por meio de entrevista semiestruturada, para a qual foi elaborado um formulário com perguntas fechadas e semiabertas, compreendendo dados sociodemográficos, profissionais, relativos à formação acadêmica, características do trabalho desenvolvido e a distribuição da carga horária entre atividades técnico-gerencial e as assistenciais. A análise dos dados foi realizada pela análise de conteúdo.

Resultados

Uma das categorias que emergiu da análise diz respeito as “condições de trabalho nas unidades da APS”, refletindo nos relatos dos farmacêuticos quanto a uma divisão desigual da carga horária de trabalho, prevalecendo o foco nas atividades técnico-gerenciais. Quanto ao desenvolvimento das atividades assistências, existem diversos fatores críticos de ordem estruturais e de recursos humanos, que refletem em dificuldades para a sua realização, identificados pelos relatos dos profissionais. Os principais pontos relatados estão relacionados ao espaço físico (indisponibilidade de consultórios, computadores e impressoras para registrar os atendimentos dos pacientes), escassez de carro para a realização de visitas domiciliares, falta de material de apoio nas atividades, conforme os seguintes relatos: “São realizados atendimentos individuais, agendados ou não, em condições inadequadas em relação à consultório, computador, impressora, etc.” [F3]”Mas tenho dificuldades em encontrar salas disponíveis para o atendimento, carro para as visitas também é outro dificultador.” [F4] “Sempre que temos salas disponíveis o atendimento é feito dessa forma (em ambiente privado e de forma individual - consultório ou domicílio). Entretanto, nem sempre é possível e assim, o atendimento acaba sendo feito em garagens, corredores e outros ambientes sem privacidade.” [F8] “Muitas vezes, no CS não tem consultório disponível, então a consulta é realizada em sala de reunião ou outro local, sem privacidade na presença de outras pessoas. No domicílio, atendemos da forma como é possível, no quarto, na sala ou na cozinha.” [F9] “Os atendimentos acontecem onde tem disponibilidade de espaço no Centro de Saúde, não há um local específico, reservado para o farmacêutico atuar.” [F34] “Falta material de apoio para uso nos grupos a atendimentos.” [F15] Outro problema relatado pelos farmacêuticos diz respeito aos funcionários das farmácias, pois como não existe o cargo de técnico de farmácia, esta função é exercida por administrativos ou técnicos em enfermagem, sendo realizado rodízios na escala, que dificulta a capacitação destes, exigindo um maior tempo do farmacêutico destinado às atividades administrativas das farmácias, conforme identificado nos relatos: “Em função dos rodízios de colaboradores da farmácia e com isso a manutenção da atualização dos procedimentos internos, faz-se necessário um suporte maior das atividades técnico-gerenciais.” [F29] Pois a funcionária que "sobrou" na escala da enfermagem para ficar na farmácia, não foi treinada ainda ou não gosta do setor e não acha que é seu papel fazer alguma orientação ao paciente.” [F32]. Na literatura, estudos sobre a implantação do Nasf no país verificaram problemas relacionados à estrutura física das unidades de saúde, transporte de profissionais para visita domiciliares, falta de materiais, especialmente para as atividades de grupo, e educação permanente. Os relatos desta pesquisa corroboram com esses estudos e sinaliza para a necessidade de maiores investimentos para estruturação e organização dos serviços públicos de saúde, de modo a viabilizar o serviço farmacêutico no cuidado em saúde, impactando positivamente na qualidade de vida da população.

Considerações Finais

O desenvolvimento dos serviços farmacêuticos diretamente destinados ao paciente, à família e à comunidade no Sistema Único de Saúde ainda é um processo recente , cenário de vários fatores críticos para sua implementação, tais como garantia de financiamento para infraestrutura, equipamentos e recursos humanos. Neste contexto, um dos principais desafios que se apresenta é a garantia dos investimentos, de modo a viabilizar as condições adequadas de trabalho aos profissionais, que pode impactar em resultados mais efetivos no uso dos medicamentos e na qualidade de vida da população.

Palavras Chave

Assistência Farmacêutica - Atenção Farmacêutica - Cuidado Farmacêutico - Atenção Primária à Saúde - Sistema Único de Saúde

Area

Medicamentos e Assistência Farmacêutica

Autores

DÉLCIA REGINA DESTRO DELCIA, ALINE APARECIDA FOPPA ALINE, CLARICE CHEMELLO CLARICE