Datos del trabajo


Título

O USO COTIDIANO DE MEDICAMENTOS EM PACIENTES COM HEPATITE C CRONICA NA PERSPECTIVA FENOMENOLOGICA DE MERLEAU-PONTY

Introdução

A experiência subjetiva com o uso de medicamentos é individual, contudo ela tem o potencial de influenciar os resultados em saúde ao associar-se à ocorrência de problemas relacionados ao uso de medicamentos. A compreensão da natureza subjetiva, complexa e multidimensional desse fenômeno pode ter implicações relevantes em saúde como a melhoria da qualidade do cuidado. Existem vários estudos que buscam descrever as experiências de pacientes em uso de medicamentos. As experiências positivas contemplam a possibilidade de interromper a evolução da doença, a melhora de parâmetros de controle, a redução de sintomas, a prevenção de danos e a normalização da vida. Dentre as experiências negativas, destacam-se as dificuldades inerentes ao seu uso e monitorização, a indecisão em aderir ou não à terapia instituída, o medo: do estigma, da discriminação, da dependência, da falta de efetividade, das reações adversas e de alterações nas propostas de vida. Na atualidade, existe uma dificuldade crescente no gerenciamento de tratamentos medicamentosos, cada vez mais complexos, por parte dos pacientes com doenças crônicas e ainda, escassez de estudos que abordam a experiência em usar medicamentos pelos pacientes com hepatite C crônica, inclusive àqueles que abrangem os agentes antivirais de ação direta.

Objetivos

Desenvolver e utilizar um arcabouço teórico, na perspectiva da fenomenologia proposta por Merleau-Ponty, para as investigações sobre o uso de medicamentos.

Método

No presente estudo, foi avaliada a experiência com o uso cotidiano de medicamentos, incluindo medicamentos específicos para hepatite C crônica como os antivirais de ação direta de segunda geração. Deste modo, descrevemos os passos de uma pesquisa ancorada na fenomenologia de MerleauPonty e estruturada na forma de uma cascata que se inicia pela definição da fenomenologia como uma nova epistemologia, a existência como paradigma e o corpo como teoria. Ainda, como metodologia, propomos o uso de estruturas fundamentais que constituem a experiência humana: o tempo, o espaço, a relação com o outro e a sexualidade, conectadas por meio do arco intencional para se alcançar a compreensão do fenômeno do uso de medicamentos. Foram realizadas entrevistas em profundidade com dez indivíduos em uso crônico de medicamentos, no Ambulatório de Hepatites Virais do Instituto Alfa de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Os participantes apresentavam ampla variação em suas características biomédicas, isto é, tipo/número de comorbidades clínicas, tipo/número de medicamentos usados e tempo de início do uso cotidiano de medicamentos. Foram usados ainda os diários de campo gerados durante as entrevistas e a análise dos dados. As entrevistas foram feitas de forma individual, com duração média de 50 minutos, gravadas e, posteriormente, transcritas. A análise de dados seguiu alguns passos: a descrição detalhada do fenômeno, a realização da redução fenomenológica e a busca pela compreensão do mesmo. A descrição se iniciou com a transcrição das entrevistas, a sua leitura repetida, a escuta atenta das gravações e a revisão dos dados de campo. Esse processo permitiu a compreensão do conjunto de dados. O próximo passo constitui-se na análise temática, iniciada pela abordagem holística, em que cada conjunto de dados composto pela entrevista e seu respectivo diário de campo foram lidos e relidos de forma aberta e atenta. A seguir, com o auxílio do Software NVivo 11 (qualitative data analysis software), a abordagem seletiva foi realizada por meio da busca de frases ou de afirmações essenciais para descrever o fenômeno avaliado. Durante todo esse processo, foi realizada a redução fenomenológica, um método para o exercício da reflexão radical sobre a experiência. Esse método permite esclarecer e tornar explícitos os pressupostos teóricos, sociais, culturais e profissionais que influenciam o entendimento do fenômeno experienciado. Sua realização permitiu mudar o foco da atenção do objeto experenciado para os seus modos de aparição. Ainda, foi empregada a variação imaginativa, uma experimentação mental na qual se altera intencionalmente os diferentes aspectos da experiência, em que se retira ou adiciona aspectos ao fenômeno e alcança àquilo que não poderia ser suprimido sem a destruição do próprio fenômeno.

Resultados

Foram identificadas quatro formas, ancoradas na corporeidade, de experienciar o uso cotidiano de medicamentos: resolutividade, adversidade, ambiguidade e indiferença. As três primeiras se fundamentam na perspectiva de que usar medicamentos de forma cotidiana é muito mais do que um ato mecânico, pois envolve alterações no corpo fenomenal, ao diminuir/eliminar ou provocar sintomas no corpo físico, ao normalizar a vida e ao simbolizar a doença. A experiência com o uso dos antivirais de ação direta de segunda geração foi de resolutividade, e foi caracterizada pela estagnação do tempo fenomenológico.

Considerações Finais

Esse estudo permitiu inferir que um mesmo indivíduo pode experienciar o uso cotidiano de medicamentos de formas diferentes em um mesmo momento da vida, dependendo da doença e do medicamento em questão. Ainda permitiu compreender que a experiência com o uso de medicamentos não segue um curso passando pelas experiências negativas em direção às experiências positivas; assim, a introdução de um novo medicamento pode introduzir uma nova experiência. Os resultados apontam para a complexidade dessa experiência, demandando a necessidade de uma educação formal e a responsabilização de um profissional de saúde por esse aspecto do cuidado.

Palavras Chave

Pesquisa Qualitativa, Fenomenologia, Merleau-Ponty, Saúde, Uso de medicamentos; Experiência com medicamentos.

Area

Medicamentos e Assistência Farmacêutica

Instituciones

Universidade Federal de Minas Gerais - Minas Gerais - Brasil

Autores

Yone de Almeida Nascimento, Carina de Morais Neves, Djenane Ramalho de Oliveira