Datos del trabajo


Título

REPRESENTAÇOES SOBRE ALIMENTAÇAO SAUDAVEL NAS REDES SOCIAIS: UMA ANALISE DE CONTEUDO DE IMAGENS DO INSTAGRAM

Introdução

A alimentação é um hábito socialmente construído, tem-se na mídia um agente que colabora para criação de conceitos e práticas sobre alimentação saudável. Desse modo, é importante conhecer os conceitos de alimentação, saúde e corpo divulgados nos meios de comunicação. O discurso midiático, ao traduzir o discurso científico para a linguagem comum, pode estimular no imaginário social padrões de saúde e beleza uniformes e que contribuem para criação de sentimentos de competição e exclusão. Essa relação mídia e corpo é também uma maneira de estimular o consumo de diferentes produtos ou procedimentos que, supostamente, auxiliariam o sujeito a conquistar um corpo considerado ideal.

Objetivos

Discutir representações sobre alimentação saudável que são propagadas/disseminadas na rede social Instagram e compreender como tais representações dialogam com as atuais recomendações sobre o tema.

Método

A partir da hashtag “#alimentacaosaudavel”, durante o período de 6 a 12 de junho de 2017, foram capturadas publicações (fotos+legendas) postadas na rede social Instagram. Nesse estudo foi utilizado o software Netlytic para coleta de imagens públicas compartilhadas. As informações sobre as fotografias capturadas (link, data, autor, título e legenda da imagem) foram exportadas do Netlytic para um arquivo em formato Excel. Nesta pesquisa foi realizada análise de conteúdo das publicações com base no tipo de imagem (alimento, pessoas), legendas e hashtags associadas. As informações extraídas foram agrupada em quatro categorias: Comida, Propaganda, Aspectos nutricionais dos alimentos e Corpo.

Resultados

A partir de todas as imagens coletadas pelo Netlytic (14.070), as 10 principais palavras (ou hashtags) mencionadas nesse período foram #fitness, #vidasaudavel, #comidadeverdade, #dieta, #saude, #foco e #foconadieta. A principal palavra associada a #alimentaçãosaudável foi o termo #fitness. A categoria “Comida” representou majoritariamente fotos de alimentos e/ou refeições, além de práticas alimentares. Das 89 imagens presentes na categoria “Propagandas”, 66 apresentaram conteúdos relativos a propagandas de alimentos e 23 de serviços e/ ou eventos. Nas imagens de propagandas relacionadas a serviços, quase sua totalidade foi publicada por nutricionistas. A rede social, neste caso, foi utilizada como um meio de divulgação do trabalho desses profissionais, como cursos, oficinas e atendimentos em consultório. Assim, percebe-se que as propagandas não se restringem apenas a venda de produtos, mas também a certa “venda” ou comercialização/publicização do próprio profissional. Na categoria “Aspectos nutricionais dos alimentos” os assuntos abordados referiam-se a informações sobre composição nutricional e benefícios ou malefícios de determinado alimento e o de dicas de alimentação. O aspecto em comum nesta categoria é o discurso tradicional da nutrição, centrado principalmente nos aspectos biológicos da alimentação, em que o alimento é representado apenas como uma forma de nutrir o corpo. Dentre as imagens vinculadas a categoria “Corpo” observou-se maior presença de pessoas do sexo feminino, associada a hábitos de vida saudável. O corpo feminino ali representado foi majoritariamente magro e definido por músculos, embora alguns fossem apenas magros; já o corpo masculino foi sempre caracterizado por músculos bem desenvolvidos. Em relação à cor da pele dos corpos presentes nas imagens coletadas, mais de 80% são brancos. Mais de 40% das imagens de corpo apresentam alguém praticando alguma atividade física ou vestida com roupas de academia. Algumas imagens apresentam características de objetificação, com foco em determinada parte do corpo, ausência do rosto do indivíduo ou pose sexualizada. Muitas fotografias e principalmente nas legendas que as acompanhavam, foi percebido o uso de discursos que sugerem aspectos relacionados à moralidade em torno da alimentação, a responsabilização do indivíduo, o incentivo a um estilo de vida “fitness” e a prática de dietas restritivas, entre outros aspectos que desconsideram a alimentação como um ato social e cultural. O Instagram também se mostrou como um espaço para a divulgação de produtos ou serviços relacionados à alimentação e nutrição e/ou divulgação de informações a respeito de alimentação e nutrição. Além, disso essa rede apontou uma associação da noção de “alimentação saudável” a certos tipos de corpos, principalmente os jovens, brancos e definidos por músculos. Um certo repúdio em relação a gordura corporal e a valorização do emagrecimento, junto com a ideia de encarar privações pela busca de uma corpo “ideal”, seja pela suposta noção de “saúde” que permeia o imaginário dos usuários, quer seja somente pela estética também estiveram presentes em muitas imagens analisadas.

Considerações Finais

A premissa de que o ato de comer está permeado por dimensões biológicas, afetivas e socioculturais é aspecto central das reflexões construídas nesse trabalho. Sua produção foi instigada a partir do pressuposto de que as redes sociais são uma das mais poderosas formas de propagação de informações. O número expressivo de usuários da rede social Instagram – 700 milhões de usuários no mundo – e a busca nessa ferramenta por temas relacionados à saúde, tais como alimentação e exercícios físicos, a torna um veículo poderoso de expressão e produção de cultura alimentar e de normatização de comensalidade. A partir desse trabalho foi possível perceber as diferentes nuances relacionadas a ideia de “alimentação saudável” presentes nessa rede social. Isso suscitou a reflexão de como as redes sociais além de reproduzir certo pensamento vigente na sociedade, também são indutoras de novas normas para aqueles que as acompanham. As normas sociais e as noções de moralidade prevalentes nos conteúdos expressos pelas imagens e legendas publicadas no Instagram estão relacionadas à ideia de que para uma alimentação saudável é necessário sofrimento e sacrifício. Tais concepções estão permeadas por visões dicotômicas entre alimentos e comportamentos alimentares permitidos e proibidos. O permitido é saudável enquanto o proibido é patológico. A propagação de conteúdos pelo Instagram quanto à alimentação saudável está orientada pela racionalidade biomédica, principalmente, no que tange à perspectiva individualista em relação às escolhas alimentares. A alimentação, como um direito fundamental do ser humano, parece ser colocada em segundo plano em detrimento de uma visão moralista acerca do ato de comer. Nesse sentido, pode-se refletir sobre a captura de ideias de alimentação saudável por perspectivas de consumo e individualistas que não refletem as diversas dimensões que envolvem a prática alimentar. O que sugere um novo panorama para pensar na alimentação em tempos de forte difusão de ideias pela mídia digital.

Palavras Chave

Alimentação saudável; Mídias Sociais; Nutrição em Saúde Pública; Rede social

Area

Alimentação e Nutrição

Autores

Fernanda da Silva Lima, Lúcia Dias da Silva Guerra, Paula Morena Souto Derenusson Silveira, Cristiane da Silva Cabral