Datos del trabajo


Título

PESQUISA CONVERGENTE-ASSISTENCIAL E MATERIALISMO HISTORICO DIALETICO: CONVERGENCIAS EPISTEMOLOGICAS

Introdução

A PCA consiste em um referencial metodológico que se aproxima dos conceitos das metodologias participativas. A sua primeira versão foi publicada em 1999 no livro Pesquisa em enfermagem: uma modalidade convergente-assistencial pelas enfermeiras brasileiras Mercedes Trentini e Lygia Paim, docentes do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O livro foi reeditado em 2004 e, mais recentemente, em 2014. A PCA propõe a convergência entre as ações de pesquisa e ações de assistência à saúde. O objetivo principal consiste em elucidar necessidades de saúde e planejar/concretizar mudanças na prática assistencial, em especial, da enfermagem.1

Objetivos

Discutir a convergência epistemológica da PCA com a corrente filosófica do materialismo histórico-dialético.

Desenvolvimento

A PCA é considerada um delineamento híbrido, pois ela sustenta-se na convergência entre duas linhas de ação: a prática de enfermagem e a prática de pesquisa. Essas linhas têm seguido as tendências filosóficas ora do objetivismo, ora do subjetivismo. As autoras acrescentam, ainda, que a PCA aproxima-se dos paradigmas da complexidade e do construtivismo social.1 A palavra complexidade é oriunda da expressão latina complectere, significando trançar, enlaçar. Ela foi desenvolvida, inicialmente, por Edgar Morin, e propõe uma visão da realidade como sistemas, nos quais é impossível conhecer o todo sem conhecer as partes, e é impossível conhecer as partes sem conhecer o todo.2 O paradigma da complexidade possui ressonâncias com as discussões acerca da educação, estabelecendo pressupostos de uma educação emancipadora, favorecendo reflexões sobre o cotidiano, questionamentos e a transformação social. Assim posto, esse paradigma possibilita que seja visualizada a complexidade do real e que sejam aceitas as ambivalências, as contradições e as incertezas em todas as dimensões.3 Já o termo “construtivismo” provém do termo latino struere, que significa construir, organizar, dar estrutura. Apresenta o processo do conhecimento como a organização ativa por parte do sujeito a partir do material que lhe é fornecido pelos sentidos. O sujeito constrói as suas representações do mundo de maneira proativa, ou seja, não se limita à recepção passiva dos estímulos, mas reage a elas, interpreta-as e transforma-as.4 O Construcionismo Social possui três principais pressupostos: a realidade é dinâmica, não possuindo essência ou leis imutáveis; o conhecimento é uma construção social; o conhecimento tem consequências sociais. De acordo com esse pensamento, o homem constrói o seu conhecimento acerca do mundo a partir da interação social.4 Observa-se que tanto o paradigma da complexidade quanto o do construcionismo social apresentam elementos comuns. Dentre eles, elencam-se a dimensão social como um fator de destaque, considerado, por um lado, um determinante do pensamento, do conhecimento e do ser humano, e, por outro lado, um fator que pode ser constantemente transformado; o caráter dialético, representado pelas possibilidades de construção, transformação, contradição e inter-relação entre o homem e a realidade na qual este vive. Levando em consideração essa justaposição entre ambos os paradigmas, considera-se que a PCA pode ser articulada a teorias ou marcos teóricos que possuam convergência epistemológica com a corrente teórico-filosófica do materialismo histórico-dialético. O materialismo histórico-dialético caracteriza um movimento do pensamento através da materialidade histórica da vida dos homens no convívio social que concebe o princípio da contradição. Movimentar o pensamento significa refletir sobre a realidade a partir do empírico (a realidade como está posta) e, por meio de abstrações, chegar ao concreto, ou seja, compreender o que há de essencial no objeto.5 O materialismo histórico-dialético observa a realidade objetiva, ou seja, o concreto à luz das transformações históricas e socialmente determinadas. Ele refuta as ideias da imutabilidade e da universabilidade, as quais significam que os fenômenos ocorrem e explicam-se para todas as sociedades e em todos os tempos de forma uniforme. Assim, o materialismo resgata as diferenciações determinadas pela inserção dos homens em classes sociais antagônicas.6 A interface do materialismo histórico-dialético na enfermagem dá-se na perspectiva de que as dinâmicas que movem os homens também movem a assistência de enfermagem. A enfermagem e a própria assistência não são somente objeto das transformações sociais, mas também influenciam (concepção dialética) nelas. O enfermeiro e o indivíduo que receberá o cuidado assumem-se como sujeitos de um mesmo processo de transformação e que buscam horizontes concretos de saúde. Assim, o movimento é a captação da realidade de saúde e de enfermagem de uma coletividade e de cada indivíduo, dentro de um contexto social histórico, e a intervenção sobre essa realidade, em um movimento dialético contínuo de interpretação-ação.6 Essas considerações permitem a convergência entre a PCA e a corrente filosófica do materialismo histórico-dialético. A PCA está orientada pelo princípio da expansividade que sustenta a flexibilidade do processo de pesquisa, abrindo possibilidades para que o pesquisador possa, além de promover mudanças no contexto assistencial, identificar temas novos para levar a efeito em outras reformulações teóricas1 (dialética entre reflexão-transformação da realidade). A PCA pressupõe, ainda, que a convergência entre prática assistencial e investigativa devem estar ancoradas na singularidade, no contexto e nas demandas específicas do cenário de prática, convergindo também para a concepção materialista.

Considerações Finais

A PCA alinha-se a um conjunto de características teóricas que possibilitam sua convergência epistemológica com o materialismo histórico-dialético. A compreensão destes aspectos possibilita que pesquisadores dispostos a aplicar a PCA estejam instrumentalizados teoricamente para a escolha de referenciais/marcos teóricos e ferramentas metodológicas que possuam convergência com esta corrente do pensamento filosófico.

Palavras Chave

1. Trentini M, Paim L, Silva DMGV. Pesquisa Convergente-Assistencial - PCA: delineamento provocador de mudanças nas práticas de saúde. Porto Alegre: Moriá; 2014.
2. Morin E. Ciência com consciência. 6ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2002.
3. Petraglia IC. Complexidade e auto-ética. ECCOS. 200; 2(1):9-17.
4. Castañon GA. Construtivismo e ciências humanas. Ciências & Cognição. 2005; 5:36-49.
5. Pires MFC. O materialismo histórico-dialético e a educação. Interface. 1997; 1(1).
6. Queiroz VM, Egry EY. Bases metodológicas para a assistência de enfermagem em saúde coletiva, fundamentadas no materialismo histórico e dialético. Rev. Bras. Enferm. 1988; 41(1):26-33.

Area

Outros

Instituciones

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), campus Palmeira das Missões - Rio Grande do Sul - Brasil

Autores

Alexa Pupiara Flores Coelho, Carmem Lúcia Colomé Beck, Rosângela Marion Silva