Datos del trabajo


Título

COMER NO TRABALHO: ESCOLHAS SAUDAVEIS, SOCIABILIDADE OU PRAZER?

Introdução

Alimentação e saúde são temáticas que nos mobilizam cotidianamente na cidade sob múltiplos códigos, valores, distinções e afetos. Neste cenário, estamos imersos em reflexões a partir do papel fundamental do espaço como produtor de subjetividades que repercutem em nossas escolhas alimentares. Pouco são os estudos que fazem uma análise das práticas alimentares em um determinado espaço exercendo um papel central como reprodução de uma estrutura social que organiza a vida. Visto isso, este estudo debruçou-se sobre uma análise das relações sociais nas práticas alimentares de um grupo social de baixa renda e consideramos seus contextos social, cultural, crenças e representações que o compõe em uma época.

Objetivos

Assim, nosso objetivo é analisar as práticas alimentares de um grupo de trabalhadores em seu ambiente de trabalho.

Método

O cenário da pesquisa foi um equipamento público que se destina a ofertar uma alimentação adequada a preços acessíveis às pessoas que estão em situação de insegurança alimentar. As bases para a composição desses cardápios são voltadas para ao que se denomina ‘alimentação saudável’, com preparações de baixo custo e fácil elaboração. O restaurante em questão situa-se na cidade do Rio de Janeiro, mais especificamente no bairro de Bangu e, atualmente, é chamado de Restaurante Cidadão. Utilizamos os critérios metodológicos da pesquisa qualitativa e privilegiamos para o trabalho de campo a realização de entrevistas em profundidade. O material empírico foi tratado através da técnica de Análise do Discurso e o referencial teórico compreendeu as discussões de Pierre Bourdieu acerca do conceito de habitus e a discussão acerca das práticas alimentares e da noção de espaço e saúde. Foram entrevistados 10 funcionários, de ambos os sexos, da empresa que faz a gestão do restaurante.

Resultados

No local de trabalho são realizadas 3 refeições diárias: o café da manhã, às 7h, o 1º. almoço entre 9 e 10h e o 2º. almoço após o fechamento do restaurante, às 15h. As escolhas alimentares são realizadas a partir de um cardápio pré-definido pela nutricionista do restaurante responsável pelo planejamento, podendo o funcionário se servir à vontade das preparações, com exceção do 2º. almoço, pois neste momento, nem sempre todas as preparações estão disponíveis aos funcionários. A disponibilidade de frutas, legumes e verduras diariamente no restaurante faz com que os funcionários consumam estes alimentos no trabalho. Prática esta que não se repete em casa ou porque não ‘são muito chegados’ ou são alimentos que estragam rapidamente e, ainda, há o trabalho de lavá-los e cortá-los. Observa-se a reprodução de uma normatividade discursiva da Nutrição ao associar o consumo destes alimentos à uma alimentação saudável. As práticas alimentares cotidianas dos trabalhadores fazem parte do saber social incorporado da sociedade para a pessoa e desta para a sociedade e envolvem seus gostos, hábitos, valores, acesso e disponibilidade de alimentos e outros elementos que constituem o comportamento alimentar desses indivíduos, sendo que em uma determinado situação podem predominar um aspecto ou outro desse comportamento. O prazer e a sociabilidade através da alimentação foram observados quando os funcionários se cotizam para a compra de gêneros alimentícios para preparação de uma comida diferente do que é normalmente feito no restaurante como, caldo verde, macarronada e costelinha – o denominado por eles como “pratão”. Essa comida era compartilhada por eles e a escolha dos pratos remete a uma lembrança da comida de casa, para partilhar com a família, feita com carinho e cuidado para quem se quer bem. Essa ação em conjunto nos revela que apesar de os trabalhadores poderem comer juntos a comida do Restaurante Cidadão é através da ‘comida feita por eles e para eles’, daquilo que eles elegem para comer e com quem comer, que se cria uma relação ou ainda se fortalece a relação já existente. Neste ponto, as questões da memória afetiva suscitada pelos alimentos e da tradição alimentar se entrecruzam aos múltiplos sentidos e significados presentes nos pratos compartilhados por este grupo, e torna-se uma expressão de respeito ao direito de todos a uma boa alimentação, quando se estão consideradas as trocas simbólicas e afetivas no universo de subjetividades dos sujeitos em seus contextos social e cultural. O “pratão” consiste na escolha alimentar que unifica estes trabalhadores e os capitaliza simbolicamente distinguindo-os através da comida dos demais usuários do Restaurante Cidadão uma vez que a comida do dia a dia os remete também à pessoa que come neste local, a saber, grupos populacionais menos favorecidos e que em grande parte não tem condições de suprir sua própria alimentação.

Considerações Finais

Diante do exposto, somos levados a acreditar que por um lado, a alimentação neste ambiente de trabalho constitui-se das diretrizes da Política Nacional de Alimentação e Nutrição. De outro lado, ao considerar a alimentação humana vinculada às experiências pessoais e exigências tradicionais é plausível considerar que a nossa cultura influencia diretamente a escolha dos alimentos. Estas são questões que nos ajudam a problematizar o acesso a alimentos saudáveis como fator para influenciar a mudança na alimentação das pessoas em busca de hábitos saudáveis, no sentido da construção de um habitus.

Palavras Chave

alimentação; alimentação coletiva; serviços de alimentação; ciências sociais

Area

Alimentação e Nutrição

Autores

Nathália Cesar Nunes, Fabiana Bom Kraemer, Shirley Donizete Prado