Datos del trabajo


Título

“AS VEZES, ACHO QUE MEU MARIDO MERECIA UM CORPO MELHOR.” UM ESTUDO QUALITATIVO DAS PERCEPÇOES CORPORAIS DAS MULHERES OBESAS E DAS DISCRIMINAÇOES RELACIONADAS AO PESO CORPORAL

Introdução

A obesidade se tornou um estigma e atitudes negativas em relação às pessoas obesas têm sido constantemente observadas. Isso reflete a prioridade do peso corporal na sociedade contemporânea, deixando de lado as pessoas que estão fora do padrão estabelecido (ou seja, pessoas com corpos magros). As discriminações relacionadas ao peso corporal têm sérios impactos sobre as pessoas com corpos gordos, afetando negativamente suas possibilidades de acesso à melhores carreiras e educação, à igualdade de pagamento, à assistência médica e à relacionamentos interpessoais. A discriminação relacionada ao peso corporal e a estigmatização da obesidade são questões importantes a serem estudadas, uma vez que podem ser parcialmente responsáveis por problemas de saúde imediatamente atribuídos à obesidade. Embora algumas pesquisas tenham investigado as discriminações relacionadas ao peso nas interações sociais, profissionais de saúde, mídia, ações de saúde pública, relações sociais cotidianas e espaços sociais, apenas um número limitado examinou qualitativamente como tais preconceitos e a imagem corporal de pessoas obesas influenciam sua saúde física e emocional, bem como seu bem-estar.

Objetivos

Com base no exposto, o objetivo deste trabalho foi investigar, qualitativamente, as percepções de mulheres obesas sobre seus corpos e suas experiências com as discriminações relacionadas ao peso, e também como essas experiências afetavam seu bem-estar.

Método

Este estudo qualitativo é parte de um estudo maior que foi prospectivo, randomizado, controlado, empregou o desenho de métodos mistos e teve sete meses de duração. Para este estudo, foi realizada apenas uma entrevista individual semiestruturada ao início do estudo com 39 mulheres que participaram do estudo maior e forneceram informações sobre o estigma de peso. As participantes incluídas foram mulheres com idade entre 25 e 50 anos, com um índice de massa corporal entre 30 a 39,9 kg/m². Eram critérios de exclusão os seguintes aspectos: apresentar diganóstico de diabetes mellitus, insuficiência cardíaca congestiva, doença renal crônica ou esteatose hepática; usar medicamentos supressores de apetite, hormônios da tireoide, diuréticos ou qualquer outra droga “anti-obesidade”; estar participando de aconselhamento nutricional ou programas regulares de atividade física supervisionada em outros lugares; ou estar grávidas ou amamentando. No estudo principal, as participantes foram alocadas aleatoriamente para um grupo de intervenção ou um grupo controle. No entanto, como esses dados foram coletados no início do estudo, os resultados serão apresentados sem distinção de grupo. No início da intervenção, foi realizada uma entrevista individual semiestruturada com todas as participantes. Nesta entrevista, perguntamos para as participantes se e como seu corpo influenciava nas suas experiências cotidianas e se elas haviam enfrentado preconceito ou discriminação por causa disso, além de exemplos de tais experiências. Todas as trinta e nove participantes foram entrevistadas. As entrevistas duraram de 20 a 60 minutos e foram gravadas em áudio e transcritas na íntegra. As entrevistas foram analisadas por meio de uma análise de conteúdo exploratória, por uma abordagem indutiva, que permitiu que temas e códigos emergissem dos dados.

Resultados

Oito temas emergiram da análise, destacando três aspectos principais relacionados ao corpo das participantes, sendo eles: 1) influências de um corpo gordo, 2) atitudes das participantes em relação a seus corpos e 3) experiências com discriminações relacionadas ao peso corporal. Os resultados mostraram que nossas participantes tinham mecanismos para diminuir a magnitude de seus corpos estigmatizados (por exemplo, tentando diferentes estratégias para perder peso e mudando constantemente suas escolhas alimentares atuais). As participantes também relataram que ter um corpo gordo tinha consequências físicas e psicológicas para elas. Fisicamente, as participantes revelaram sentir-se constantemente cansadas, desanimadas para as atividades do dia-a-dia e com menos resistência física e agilidade. Além disso, elas mencionaram inúmeras dores no corpo, especialmente nas costas, quadris, joelhos e pernas, além de fascite plantar. Psicologicamente, as participantes mencionaram baixa autoestima, sendo menos ativas socialmente ou expondo menos a si mesmas para evitar julgamentos sobre seus corpos. Isso afetava seus relacionamentos, interação com as pessoas e desempenho no local de trabalho. É importante ressaltar que seus corpos maiores influenciaram na sua autoavaliação, fazendo com que elas se sentissem desvalorizadas, indignas de amor, incapazes e incompletas. Esses sentimentos negativos por causa de ter um corpo maior acentuam a intensidade com que as suposições negativas feitas sobre a obesidade podem afetar a autoavaliação e o senso de autovalorização. Nossas participantes relataram experiências estigmatizantes em situações familiares, nos locais de trabalho e públicos, e relataram serem estigmatizadas por pessoas próximas e desconhecidas e por profissionais de saúde. Foi relatado que esses profissionais tratam os pacientes de maneira desrespeitosa, o que chama atenção para as desigualdades na atenção à saúde das pessoas obesas e pode indicar a necessidade de repensar alguns aspectos na formação desses profissionais.

Considerações Finais

Nossos resultados enfatizam que atitudes estigmatizantes em relação a pessoas com corpos gordos e suas próprias considerações sobre si mesmas têm consequências negativas em seu bem-estar físico e mental.

Palavras Chave

obesidade, estigmatização, descriminação, autoestima

Area

Alimentação e Nutrição

Autores

Mariana Dimitrov Ulian, Fernanda Sabatini, Priscila de Morais Sato, Luiz Aburad, Ramiro Fernandez Unsain, Fernanda Baeza Scagliusi