Datos del trabajo


Título

VIVENCIAS DE ABUSO SEXUAL INTRADOMICILIAR: INTOLERÂNCIA DE MULHERES ABUSADAS NA INFÂNCIA

Introdução

o abuso sexual no ambiente doméstico constitui uma experiência trágica no cotidiano de meninas normalmente praticado por homens ligados a elas por laços de afeto e cuidado. Os episódios ocorrem em um ritual permeado por silêncio e opressão em um imaginário de medo, constante apreensão e repetição que afeta suas vítimas física, emocional, espiritual e psicologicamente. Percebe-se que, por seu caráter de repetição, o abuso sexual na infância tende a se tornar um acontecimento crônico e insuportável que ultrapassa os limites de tolerância e faz com que suas vítimas usem a emoção para romper o silêncio, revelar a experiência e externar ressentimentos normalmente guardados por um tempo prolongado, pois, por se tratar de uma experiência traumática que leva ao sofrimento, existem dificuldades para se falar sobre ela espontaneamente. Desta forma, lança-se mão do esquecimento para mascarar a vivência, embora ela continue em estado latente e não seja falada, pode ser demonstrada através de atitudes e comportamentos. Nessas situações, utiliza-se a teatralidade para encenar papéis cuja emoção lhes permite falar sobre o acontecido, para deixar transparecer impactos negativos relacionados a experiências abusivas em forma de frustrações, decepções, angústia, medos e sentimento de perda. Estudar intolerâncias e estratégias para sobreviver ao vivido trágico de abuso sexual na infância é relevante para o conhecimento contribuindo para que profissionais e acadêmicos da saúde desenvolvam a sensibilidade necessária à execução de cuidados solidários a mulheres sobreviventes de experiências abusivas.

Objetivos

identificar formas de intolerância ao abuso sexual na infância.

Método

pesquisa qualitativa desenvolvida no Centro de Atendimento à Mulher em situação de violência em Petrolina, Pernambuco, no período de julho a novembro de 2014, com a participação de nove mulheres entre 18 e 53 anos. Os dados foram coletados através de entrevista não estruturada e interpretados com o auxílio da sociologia compreensiva e do cotidiano em suas noções sobre senso do limite e uso da teatralidade, que através da emoção, ajudou a compreender o trágico vivenciado no abuso sexual. A pesquisa está aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisas da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia, protocolo 684.2030.

Resultados

as participantes relataram que os abusos sexuais foram cometidos por pais, padrastos, irmãos e primos em episódios que aconteciam na ausência de testemunhas. À época em que ocorreram elas sentiram dificuldades para relatar o ocorrido: algumas delas, por se tratar de um adulto com quem mantinham relações afetuosas, como pais ou padrastos, não tinham muita clareza sobre o que acontecia e inicialmente imaginavam se tratar de carinho. Haviam também aquelas que eram ameaçadas para não falar e por isto mantinham o abuso em segredo e outras mesmo relatando, foram desacreditadas ou responsabilizadas pelo ocorrido, principalmente pela mãe. Sem apoio elas mantiveram suas vivências em segredo em um ódio silenciado que acompanhou suas trajetórias de vida, até culminar na intolerância que através da emoção peculiar às cenas de teatro, possibilitou compartilhar o trágico das vivências abusivas, deixando externar mágoas, decepções, tristezas frustrações, raiva, desconfianças, desejos de vingança, ideias homicidas e suicidas, sentimentos de perda, decepções, angústias e medo.

Considerações Finais

a vivência de abuso sexual no ambiente doméstico rompeu o ritmo natural da vida de meninas, afetou o seu desenvolvimento físico e emocional. As lembranças armazenadas na memória se potencializaram, romperam os limites de tolerância à experiência abusiva e resultaram em prejuízos que se estenderam até a vida adulta das participantes. Deduz-se que, o abuso sexual no ambiente doméstico rompe o imaginário de família como garantia de segurança, compromete as relações familiares e leva ao adoecimento. Tal fato suscita a necessidade de um olhar cuidadoso diante de alterações emocionais presentes em mulheres, crianças e adolescentes, uma vez que podem estar associados a vivências de abuso sexual e desta forma demandam atenção cuidadosa, sensível e solidária por parte da rede de apoio em saúde e dos demais serviços de apoio a situações de abuso sexual. Portanto, a presente construção é útil como referencial a ser consultado na organização do suporte necessário a meninas e mulheres sobreviventes do abuso sexual.

Palavras Chave

Adultos Sobreviventes de Maus Tratos Infantis; Abuso Sexual
na Infância; violência contra a Mulher; Relações Familiares; Atividades
Cotidianas.

Area

Gênero, Sexualidade e Saúde

Autores

Margaret Olinda de Souza Carvalho Lira, Normélia Maria Freire Diniz, Telmara Menezes Couto, Michelle Christini Araújo Vieira, Maria Fátima Alves Aguiar Carvalho, Thaysa Maria Vieira Justino, Fernando Vitor Alves Campos, Kalliny Mirella Gonçalves Barbosa