Datos del trabajo

Título

CONSIDERANDO, INTERPRETANDO E NEGOCIANDO AS ESCOLHAS ALIMENTARES DE MULHERES OBESAS: OS EFEITOS DE UMA NOVA INTERVENÇAO BASEADA NA ABORDAGEM HEALTH AT EVERY SIZE

Introdução

A obesidade é uma condição crônica multifatorial que se associa a diversos riscos de saúde, como diabetes, câncer e doenças cardiovasculares. Os debates sobre sua causa e tratamento geralmente se centram em discursos que envolvem responsabilidade pessoal versus responsabilidade coletiva na tomada de decisões. Uma das estratégias que os formuladores de políticas públicas e profissionais de saúde defendem visando reduzir o peso corporal é mudar as práticas alimentares, geralmente por meio de abordagens restritivas (por exemplo, dietas). Ainda assim, a taxa de sucesso em alcançar ou manter essas mudanças relacionadas ao corpo a longo prazo é frequentemente baixa. Como alternativa, a abordagem Health at Every Size® (HAES®) está ganhando espaço entre profissionais de saúde. Esta abordagem visa promover a saúde física e mental independentemente das alterações no peso corporal. Entre outros princípios, essa abordagem estimula a promoção de práticas alimentares que equilibram as necessidades nutricionais individuais com aspectos como fome, saciedade, apetite e prazer. Embora a abordagem HAES® venha mostrando resultados positivos relacionados à saúde e à saúde mental dos participantes, pesquisas ainda não investigaram o impacto de intervenções baseadas na abordagem HAES® nas escolhas alimentares.

Objetivos

Com base no exposto, este trabalho teve como objetivo entender, qualitativamente, os processos envolvidos nas escolhas alimentares de mulheres obesas depois de passarem por uma nova intervenção baseada na abordagem HAES®.

Método

Este estudo qualitativo é parte de um estudo maior que foi prospectivo, randomizado, controlado, empregou o desenho de métodos mistos e teve sete meses de duração. As participantes incluídas foram mulheres com idade entre 25 e 50 anos, com um índice de massa corporal entre 30 a 39,9 kg/m². Eram critérios de exclusão os seguintes aspectos: apresentar diganóstico de diabetes mellitus, insuficiência cardíaca congestiva, doença renal crônica ou esteatose hepática; usar medicamentos supressores de apetite, hormônios da tireoide, diuréticos ou qualquer outra droga “anti-obesidade”; estar participando de aconselhamento nutricional ou programas regulares de atividade física supervisionada em outros lugares; ou estar grávidas ou amamentando. Os participantes foram aleatoriamente designados para uma intervenção intensificada baseada na abordagem HAES® (I-HAES®) ou para um grupo controle (CTRL), seguindo uma proporção de 2:1. O grupo I-HAES® (n = 39) recebeu uma intervenção que teve como característica um programa de atividade física três vezes por semana, atendimento nutricional individual baseado no aconselhamento nutricional e oficinas filosóficas. O grupo CTRL (n = 19) recebeu uma intervenção tradicional baseada na abordagem HAES®, com palestras bimestrais que visaram encorajar a adoção de um estilo de vida saudável. Entrevistas individuais, semiestruturadas e em profundidade foram conduzidas, tanto no início quanto na conclusão do estudo, com os participantes dos grupos I-HAES® e CTRL. Os dados resultantes destas entrevistas foram analisados qualitativamente por meio da análise de conteúdo exploratória.

Resultados

Dezesseis temas e respectivos subtemas emergiram das análises, que destacaram quatro principais influências nas escolhas alimentares dos participantes: características das escolhas alimentares, comportamentos alimentares, comer em resposta a fatores externos e comer em resposta a fatores internos. Ambos os grupos reportaram ter uma maior preocupação com a qualidade da sua alimentação, o que se refletiu em uma preocupação em ingerir alimentos saudáveis, resultando em alimentação mais variada, em um maior consumo de alimentos in natura ou minimamente processados (por exemplo, frutas, legumes e verduras) e itens caseiros, e também uma diminuição significativa no consumo de alimentos ultraprocessados, fast food e preparações oleosas e/ou fritas. Apesar de ambos os grupos terem relatado tais mudanças, estas foram mais pronunciadas no grupo I-HAES®. Neste grupo, um maior engajamento com a culinária e um aumento no planejamento das refeições contribuíram para essa melhoria. Além disso, para os participantes do grupo I-HAES®, comer conscientemente, com atenção e em resposta a sinais de fome e saciedade foram estratégias importantes para as mudanças positiva nas suas escolhas alimentares. Embora as participantes do grupo CTRL tenham relatado que foram motivadas pelas mesmas estratégias mencionadas acima, elas não relataram mudanças tão expressivas e significativas em suas escolhas alimentares.

Considerações Finais

Esta nova intervenção interdisciplinar, não prescritiva, de 7 meses de duração e baseada na abordagem HAES® alterou a trajetória das escolhas alimentares das participantes. Nossos resultados qualitativos sugerem que essa nova e intensificada intervenção baseada na abordagem HAES® foi capaz de promover mudanças mais significativas nas escolhas alimentares das participantes do que a intervenção tradicional baseada nessa abordagem. Demonstramos que a combinação do guia alimentar brasileiro com maior planejamento alimentar e o aumento das habilidades culinárias foram eficazes para melhorar a qualidade das escolhas alimentares das participantes. É importante ressaltar que comer conscientemente, com atenção e atendendo aos sinais de fome e saciedade também foram estratégias importantes que permitiam que as participantes (re)considerassem, (re)interpretassem e (re)negociassem suas escolhas alimentares. A implementação dessas estratégias em futuras intervenções pode contribuir para o estabelecimento de escolhas alimentares mais sólidas e sustentáveis, e pode levar à melhoria da saúde entre pessoas com um corpo maior.

Palavras Chave

Aconselhamento nutricional, mudanças em estilo de vida, análise qualitativa, abordagem não-prescritiva, Health at Every Size, obesidade, mulheres.

Area

Alimentação e Nutrição