Datos del trabajo


Título

Gênero, Feminismos e Necessidades de Saúde: a perspectiva das mulheres atendidas em um CAPS AD

Introdução

É possível identificar diferenças de gênero no uso de substância psicoativa (SPA), como o motivo para uso, comorbidades, fatores culturais e físicos. A política de saúde para as mulheres consumidoras de SPA parece ser invisível e homogênea, e as mesmas enfrentam barreiras de ordem estrutural, sistêmica, social, cultural e pessoal na busca e permanência no tratamento em saúde. A perspectiva de gênero e necessidade de saúde a ser discutida vem no sentido de problematizar o cuidado em saúde das mulheres atendidas no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD). Sobre a fundamentação teórica, vamos apresentar o feminismo em seu aspecto universal: trata-se da luta das mulheres contra todas as formas de dominação, exclusão e discriminação a que são tradicionalmente submetidas. Os movimentos feministas surgiram em discussões e reivindicações por direitos, e o conceito de gênero foi disseminando-se a partir desses movimentos. Compreende-se gênero, segundo Scott (1995), como os elementos que subsidiam as diferenças entre os sexos, entre eles as representações simbólicas, os conceitos normativos, a noção de política e a identidade subjetiva, um interligado ao outro. Podemos considerar que a necessidade de saúde caminha além do aspecto biológico e isolado da doença, perpassando pelo social e subjetivo que a envolve. Transcende -se da compreensão fisiológica para a busca das manifestações não sentidas, que circulam o campo do subjetivo e dos afetos. Sob a perspectiva da atenção psicossocial, a proposta é que a mulher seja a protagonista das ações, tornando-a co-responsável pelo seu processo de cuidado em saúde.

Objetivos

A proposta da pesquisa foi compreender as necessidades de saúde de mulheres atendidas em um CAPS AD, caracterizar as suas concepções acerca do uso de SPA e as repercussões para sua saúde.

Método

Trata-se de pesquisa qualitativa em saúde, pois considera o ser humano em sociedade, com sua história e representação subjetiva e simbólica. Parte-se do pressuposto de que toda investigação social precisa registrar a historicidade, respeitando a cultura, a política, a ideologia e os acontecimentos ao longo da vida (Minayo, 2014). O campo empírico foi um CAPS AD do interior do estado de São Paulo, um serviço do SUS, que pratica a atenção psicossocial em saúde para homens e mulheres em uso problemático de álcool s outras drogas. Os sujeitos da pesquisa foram mulheres adultas, com projeto terapêutico no serviço e com capacidade de elaboração de idéias. A inserção ocorreu por meio de convite prévio àquela que tivesse interesse e disponibilidade em participar da pesquisa. A coleta de dados foi realizada por meio da história oral de vida, que é um relato da experiência pessoal relativo a fatos e acontecimentos que foram significativos e constitutivos da vida das mulheres. O instrumento de coleta foi a entrevista aberta realizada com 09 (nove) participantes, com foco na história de vida e sua representação quanto ao uso de álcool e outras drogas. A análise dos dados foi realizada por meio da técnica de análise de conteúdo temática, permitindo tornar replicáveis e válidas as inferências sobre dados do contexto da pesquisa, através da elaboração de categorias quanto às palavras e expressões significativas para a organização dos dados e a compreensão do significado do conteúdo apresentado

Resultados

foi possível identificar quatro categorias temáticas de análise: os Fenômenos Psicossociais, a Vivencia da Maternidade, Repercussões para a Saúde e Mecanismos para o Fortalecimento da Autonomia. Em relação à primeira categoria, os pontos identificados como necessidade de saúde foram o fortalecimento dos vínculos familiares e afetivos, o processo de vivência de luto, bem como a necessidade de espaços de socialização e acolhida. A violência sofrida, seja por parte de familiares, seja nas relações de intimidade também é um fenômeno a ser observado nas necessidades sociais de saúde, levando em conta os traumas vividos ao longo da vida, as questões afetivas e as especificidades das desigualdades de gênero. A segunda categoria aponta a valorização da maternidade como uma necessidade de saúde, por sua relação com a dimensão histórica dos direitos sexuais e reprodutivos, pelos estigmas relacionados ao uso de SPA, revelado por elas como a negação do direito de ser mãe. Em relação às Repercussões para a Saúde, as necessidades de saúde relacionam-se a transtornos alimentares, doenças hepáticas, quedas e acidentes, dificuldade de atenção e memorização, e os efeitos da ressaca, além de melancolia, tristeza e solidão em suas diferentes manifestações, como a ideação suicida, depressão e transtorno bipolar. Por último, como Mecanismos para o Fortalecimento da Autonomia, as necessidades referem-se aos processos de maior consciência de si e a inserção em atividades produtivas, resgatando e valorizando suas potencialidades. A perspectiva dos afetos e vínculo com os familiares é outra ação importante a ser problematizada. Considerações

Considerações Finais

Identificamos que as desigualdades de gênero estão presentes na história de vida dessas mulheres, sendo um importante tema a ser dimensionado no processo do cuidado em saúde relacionado ao uso de álcool e drogas. Tal fato se evidencia nos casos de violência, na dependência financeira, nos múltiplos papéis assumidos com o trabalho e filhos, na cobrança para atender aos padrões de beleza, nas diferenças de oportunidades de trabalho e renda, na estigmatização pelo uso de SPA e nos vínculos familiares. As construções sociais e históricas de gênero se refletem nas ações cotidianas das mulheres, e para algumas delas, consciente ou não, a forma de enfrentamento se dá pela via do consumo de SPA, caracterizando assim suas concepções acerca do uso. Neste sentido, a perspectiva da atenção psicossocial, configurando-se como a clinica do olhar que vai além do sintoma, por meio da escuta e do encontro capaz de produzir sentido, pode contribuir para o enfrentamento dessas necessidades. Em interlocução com a gestão da clínica, busca-se a superação das formas hegemônicas de cuidado em saúde, oferecendo a melhoria da escuta e a responsabilização dos profissionais no atendimento às mulheres, de forma a valorizar suas singularidades, condições sociais e culturais.



Palavras Chave

genero e feminismos, necessidade de saúde, atenção psicossocial

Area

Saúde Mental

Autores

PRISCILA SOUZA CUGLER, Wagner Santos Figueiredo