Datos del trabajo


Título

EXPECTATIVA DAS FAMILIAS RURAIS EM RELAÇAO AS AÇOES DOS PROFISSIONAIS DE SAUDE

Introdução

A população rural sempre sofreu divergências relacionadas ao acompanhamento de saúde, se comparado com a população urbana. E ainda hoje não existe um conceito robusto o suficiente para definir o rural, que usualmente é delineado pela localização e densidade populacional, tendo como principal parâmetro não ser urbano(1). A perspectiva de saúde das populações do campo e da floresta segue para uma proposição de cuidados já dispensados as demais populações, sendo que neste grupo faz-se necessário implementar outras ações e iniciativas que reconheçam as especificidades relacionadas ao gênero, geração, raça∕cor, etnia e orientação sexual, objetivando o acesso aos serviços de saúde; a redução de riscos à saúde recorrente dos processos de trabalho e das inovações tecnológicas agrícolas; a melhoria dos indicadores de saúde e qualidade de vida, aproximando este grupo da integralidade do cuidado.

Objetivos

Explorar a expectativa de saúde de famílias rurais em relação às ações dos profissionais de saúde.

Método

Consiste num recorte do banco de dados do projeto “Autoatenção e o uso de plantas medicinais no bioma pampa: perspectivas do cuidado de enfermagem rural”, desenvolvido em parceria com a Embrapa Clima Temperado. Essa investigação teve abordagem qualitativa, os dados foram coletados em 2015/2016, com observação sistemática, registro fotográfico, coleta de plantas medicinais e entrevistas. Abordou-se 57 informantes, dos quais 46 responderam as questões que tratavam das expectativas de saúde. O roteiro de entrevista foi composto de questões contendo abordagens relacionadas ao contexto sociocultural, sistema de cuidado, o uso das plantas, sendo complementado com o genograma e ecomapa(2). A análise seguiu o modelo operativo de Minayo(3). Projeto aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Enfermagem da UFPel, protocolo 076/2012.

Resultados

As expectativas de saúde de famílias rurais em relação às ações profissionais em ordem crescente de indicação foram: abordar questões ligadas ao uso de agrotóxico; conhecer e utilizar plantas medicinais no cuidado; qualidade da água; ministrar palestras e construir mais Unidades de Saúde nas localidades. Nesse estudo será abordado a indicação mais recorrente. Identificou-se que a preocupação com o uso de agrotóxico corrobora com o encontrado na pesquisa epidemiológica realizada na região do Baixo Jaguaribe, no Ceara, a qual identificou que as populações atingidas com a expansão da monocultura, mecanização da produção, intensiva utilização de insumos químicos e incorporação da biotecnologia, tem sido desafiadas a lidar com problemas até então desconhecidos, gerando questionamentos sobre a utilização de agrotóxicos, que necessitam serem abordados(4). A população rural que vive em torno das plantações de monocultura, tem recebido agrotóxicos por contiguidade em suas casas pela água dos canais de irrigação; ar, pulverização aérea e alimentos contaminados. Essas famílias veem suas vidas e projetos ameaçados pela força do agronegócio que as circundam, as contaminam e as expulsam do seu território, desconsiderando a cultura local e os espaços socialmente construídos em consonância com o bioma. Nesses territórios já se identifica a fragilidade das práticas de manejo tradicional e a vulnerabilidade da população, o que deveria ter desencadeando as ações de vigilância em saúde(4). Somasse a isso a eminência da aprovação do Projeto de Lei 6299/02, que dentre outras prerrogativas visa substituir o termo agrotóxico por defensivo fitossanitário, bem como passa a considerar necessário apenas avaliação de um órgão regulador, o Ministério da Agricultura, atualmente, a competência é compartilhada entre três ministérios: Agricultura, Saúde e Meio Ambiente. Entende-se que essa evidência de flexibilização do uso de agrotóxico é uma clara tentativa de mascarar sua nocividade, afastando informações essenciais do consumidor, ao mesmo tempo em que desconsidera os impactos à saúde e ao meio ambiente no processo de aprovação de novas substâncias. Esse projeto constrói-se na contramão das reivindicações das comunidades rurais dedicadas à agroecologia e à acadêmica, que questiona a exigência de sucessivas provas quantitativas para que o risco dos agrotóxicos seja reconhecido como problema e sustenta que não há produtos seguros e nem proteção em valores máximos de resíduos(5). O SUS, tem exercido uma ação tênue em termos da vigilância em saúde das populações expostas aos agrotóxicos. Evidencia-se a necessidade de facilitar o acesso aos serviços de saúde, considerando as especificidades dos espaços rurais; de capacitar os serviços para identificar e caracterizar a exposição ocupacional e ambiental; de estimular o desenvolvimento, universalizar o acesso à avaliação por biomarcadores; fomentar a produção de conhecimento sobre as exposições múltiplas e em baixas doses, visto que raramente se encontra exposição há apenas um princípio ativo(4).

Considerações Finais

Entende-se que se faz necessário a sensibilização e capacitação dos profissionais de saúde sobre o tema, bem como a inclusão de ações em conjunto com a comunidade, nas quais sejam possíveis que profissionais e comunidade assumam novos papéis e processos de trabalho, que permitam devolver a complexidade e tira o status de natural da utilização de agrotóxico, revelando o que existia antes de sua introdução, resgatando o modo de viver e produzir próprios de cada comunidade.
Referências

1- Gomes I. O que é rural? Contribuições ao debate. Bol. Geogr. 2013;31(3):81-5.
2- Wright LM, Leahey M. Enfermeiras e famílias: um guia para avaliação e intervenção em família. 3. ed. São Paulo: Roca; 2002.
3- Minayo MCS. Análise qualitativa: teoria, passos e fidedignidade.Ciênc Saúde Coletiva. 2012;17(3):621-6.
4- Rigotto RM, organizadora. Agrotóxicos, trabalho e saúde: vulnerabilidade e resistência no contexto da modernização agrícola no Baixo Jaguaribe/CE. Fortaleza: Edições UFC, Expressão Popular; 2011.
5- Viero CM, Camponogara S, Cezar-Vaz MR, Costa VZ, Beck CLC. Sociedade de risco: o uso dos agrotóxicos e implicações na saúde do trabalhador rural. Esc Anna Nery 2016;20(1):99-105.

Palavras Chave

Saúde da população rural; sustentabilidade; expectativas de saúde; integralidade.

Area

Saúde Coletiva

Autores

Rita Maria Heck, Ângela Roberta Alves Lima, Luani Lopes, Nathalia Vargas