Datos del trabajo


Título

ENVELHECIMENTO E DOENÇA DE CHAGAS: HISTÓRIAS ORAIS DE VIDA

Introdução

A doença de Chagas (DC) é uma enfermidade crônica, potencialmente fatal, causada pelo Trypanosoma cruzi. Essa patologia é considerada uma das infecções parasitárias de maior abrangência na América Latina e endêmica em várias regiões do Estado da Bahia. A infecção em humanos ocorre quando este, entra em contato com as dejeções intestinais do inseto vetor (triatomíneo), conhecido como barbeiro ou “chupão”, após a picada do inseto ou alternativamente pela via oral. Levando em consideração os aspectos sintomatológicos e clínicos da doença de Chagas, existem diferentes formas de apresentação: cardíaca (CARD), digestiva (DIG), cardiodigestiva (CDG) e indeterminada (IND). As manifestações patológicas de cardiomegalia e digestivas (megacólon e megaesôfago) levam ainda hoje, a um grande problema de saúde pública principalmente em idosos, onde o envelhecimento do sistema imune acaba agravando o quadro clínico e levando ao óbito.

Objetivos

Compreender as dificuldades vivenciadas por idosos portadores da doença de Chagas na fase crônica, residentes em uma área endêmica do estado da Bahia

Método

Trata-se de um estudo qualitativo utilizando-se a história oral de vida - método que se espraia em construções narrativas decorrentes da memória do colaborador, permitindo ampla liberdade de expressão. O estudo foi realizado em uma área endêmica, no Município de Itaetê na Chapada Diamantina-Bahia, com 10 colaboradores, de ambos os sexos, moradores, em áreas rurais. Os participantes concederam entrevistas não diretivas, em suas residências. Durante o encontro, sugeriu-se falar sobre as experiências vivenciadas incluindo as dificuldades encontradas para o diagnóstico e tratamento da enfermidade, o conhecimento sobre a doença e o apoio familiar. Os relatos foram gravados, analisados e transcritos, garantindo a forma dos discursos. Os critérios de inclusão adotados para a seleção da participante da pesquisa foi: ter a idade superior a 60 anos; ter doença de chagas confirmada clinicamente; demonstrar condições clínicas e emocionais para participar da entrevista; consentir em participar da pesquisa, após explicação do Termo de Consentimento Livre Esclarecido. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres Humanos do Hospital Roberto Santos, com número de aprovação 1669227, sendo realizada de acordo com a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta as pesquisas em seres humanos.

Resultados

Os participantes do estudo narraram de forma espontânea, utilizando-se de suas lembranças, os fatos acontecidos em suas vidas desde a descoberta da doença, perpassando pela sintomatologia, conhecimento sobre a doença e apoio familiar. No que diz respeito a descoberta da enfermidade e sintomas percebidos, existem relatos de experiências muito diferentes, como se pode observar nas narrativas: “Sentia dor nas costas que iam para o peito e tontura, sem poder correr e subir ladeiras”. O médico descobriu disritmia no coração e alterações no meu sangue” (mulher/ 65 anos). Já um outro colaborador, diz não ter sentido nenhuma sintomatologia: “Eu não descobri não, quem descobriu foi o médico pois eu não sinto nada [...] lembro que só um dia eu desmaiei e depois fiquei com agonia na boca do estômago” (homem / 83 anos). Os chagásicos procuram o serviço público de saúde apenas após o início dos sintomas clínicos tais como: arritmias, cansaço, cefaleias entre outras sintomatologias. Trata-se de um hábito muito comum na região, buscar atendimento médico somente quando a doença afeta as atividades diárias. Com relação ao conhecimento sobre a doença, pode-se observar uma falta de informação pelos idosos, como constatado pelas narrativas: “O médico me disse que fui mordido pelo barbeiro e que o besouro já tinha morrido [...] o que eu sei foi o que o médico disse (pensativo) [...] me lembro que ele falou que o coração cresce” (homem / 70 anos). Em um outro relato, observa-se também pouco conhecimento: “Um besouro morde a pessoa e a gente não vê [...] tomo remédio todo dia para a doença não crescer” (mulher / 63 anos). No que diz respeito a família, houve unanimidade nas narrativas sobre o apoio familiar: “A família me dá apoio, me ajudam a comprar remédios e com o trabalho no campo” (homem / 60); “Minha família sabe que é uma doença sem cura [...] eles me incentivam a viver e tomar os medicamentos” (mulher/ 83 anos); “ Me ajudam com as atividades domésticas e financeiramente” (mulher/ 81 anos). Quando mencionaram o envolvimento da família no processo de suporte e adaptação à doença, houve unanimidade em se mencionar a ajuda financeira para custeio das medicações associadas a patologias ligadas a infecção crônica chagásica, bem com o apoio nas atividades laborais.

Considerações Finais

A falta de informação sobre a doença é frequente entre os idosos e o pouco conhecimento que eles têm, é adquirido após a infecção, através do tratamento médico. Mesmo assim, são informados de forma fantasiosa, sem mostrar as consequências reais. Isto demonstra que há uma falha nos serviços de saúde no que se refere a uma educação preventiva sobre a enfermidade, incluindo as formas de transmissão, informações sobre o vetor e o parasita, bem como as consequências. Cremos que independente da faixa etária e a situação sociocultural, uma educação em saúde pode ser realizada de forma simples e eficaz, por agentes de saúde, a fim de se alertar sobre os perigos da infecção e provocar mudanças comportamentais na saúde individual e coletiva. Um ponto positivo constatado, foi o apoio familiar mencionado por todos os colaboradores envolvidos no estudo. Constatamos que houve um suporte financeiro e de preocupação e aconselhamento, para os idosos. Isto é muito importante para o enfrentamento das doenças crônicas, principalmente na terceira idade.

Palavras Chave

Doença de Chagas, Doença crônica, Idosos, Narrativas

Area

Doenças crônicas/condições crônicas

Autores

Marcos Lazaro da Silva Guerreiro, Alana Silva Almeida, Deisiane Cristini Lopes Arcoverde, Erica de Jesus Miranda , Lidia Cristina Villela Ribeiro