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Título

MATERNIDADE COMO ESCOLHA: REFLEXOES A PARTIR DA CATEGORIA ANALITICA DE GENERO

Introdução

Questões de gênero e maternidade têm sido amplamente e (in)dependentemente discutidas na atualidade, sendo o foco de vários autores, que os significam de diferentes maneiras. Enquanto categoria analítica, gênero é definido por Joan Scott como categoria que tem como núcleo a conexão de duas proposições: 1) o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos, e 2) o gênero é uma forma primeira de significar as relações de poder. O poder exercido nas relações de gênero é resultante de representações sobre mulheres e homens, presentes no imaginário social a partir das diferenças biológicas entre os sexos. Essas representações vão integrando um sistema simbólico e de valores carregado de estereótipos, sendo naturalizados e veiculados pelas instituições sociais e incorporados subjetivamente. Nesse processo, os homens vão sendo direcionados para o mundo público e da produção, enquanto as mulheres são direcionadas para o espaço privado e da reprodução. No que tange especificamente ao fenômeno social da maternidade, este é marcado por questões de gênero que lhe são subjacentes. Considera-se que a perspectiva de gênero dá evidência às diferentes abordagens culturais construídas da maternidade e a sua relação com o exercício de poder e dominação que são estabelecidas e se dão de forma desiguais entre os sexos. Nesse aspecto, nos espaços de cuidado a saúde das mulheres e homens, a construção de gênero como categoria analítica urge em ser adotada e/ou ampliada na formação e nas práticas profissionais, sendo hoje empregada por organizações de saúde internacionais e nacionais, incluindo o Ministério da Saúde do Brasil. Tais discussões são fundamentais ao passo em que os padrões de maternidade vêm sendo transformados, incluindo mudanças relacionadas a inserção das mulheres no mercado de trabalho, sua presença no mundo público e os impactos que estes fatos trouxeram à instituição familiar e, em consequência, à escolha ou não da experiência da maternidade.

Objetivos

Realizar uma reflexão teórica sobre a escolha da maternidade a partir da categoria analítica de gênero, utilizando-se de uma capa de revista publicada e direcionada ao público de pais e mães, onde em seu título consta a seguinte frase: “Mãe ou profissional? Escolha os dois”.

Desenvolvimento

A revista afirma trazer em seu conteúdo as informações mais recentes - e apuradas com os melhores especialistas - para estar ao lado dos pais no que considera ser uma jornada de suma importância em suas vidas, que é a de criar filhos saudáveis e felizes. Especificamente em relação à capa, a princípio o leitor é levado a inferir sobre a dualidade de papéis que não poderiam ser exercidos concomitantemente pela mulher, sendo este um importante dilema na sua vida. Ou seja, caberia a ela assumir o papel materno ou exercer suas atividades profissionais. Em seguida é anunciado que ela pode escolher exercer os dois papéis, o que sugere uma mudança discursiva em torno das relações de gênero. Historicamente há o reforço a ideia de que as mulheres são seres com corpos possuidores de especificidades determinantes de sua vocação para a maternidade. Em especial por meio de discursos técnico-científicos, do senso comum e morais, expande-se a ideia de que ser biologicamente do sexo feminino torna as mulheres inexoravelmente vocacionadas ao exercício da maternidade. No discurso feminista, a maternidade como necessidade para a felicidade da mulher tornou-se significada como decorrente da dominação de um sexo sobre o outro. Entende-se que, nessa perspectiva, as mulheres ficaram confinadas ao espaço privado e sujeitas à dominação masculina, sendo delas a reprodução biológica e o cuidado dos filhos. Esse discurso social naturalizado da gravidez-maternidade foi confrontado pelo movimento feminista dos anos 1960 a 1980, bem como por estudiosos das questões de gênero. Nesses anos, ocorriam, na sociedade ocidental pós-guerra, acelerado crescimento industrial e urbano, a inserção de mulheres no mercado de trabalho, além de práticas de controle da fecundidade com o surgimento da contracepção medicalizada. Neste contexto, ser ou não ser mãe passou a ter uma dimensão reflexiva, a ser uma decisão racional, influenciada por fatores relacionados às condições subjetivas, econômicas e sociais das mulheres e, também, do casal. A maternidade como escolha tornou-se, portanto, um fenômeno moderno e contemporâneo, consolidado no decorrer do século XX, ocupando a crítica feminista um lugar importante nesta reflexão. Atualmente, muitas mulheres e homens deixam de sustentar as ideias tradicionais sobre a gestação-maternidade, com reflexos em suas ações no campo reprodutivo e em suas práticas discursivas. Sob tal perspectiva, constrói-se um novo projeto político de gestão da produção e reprodução do corpo social que pressupõe a maternidade como um plano racional, isto é, planejado, tardio e opcional, mesmo dentro do casamento, privilegiando-se outros projetos.

Considerações Finais

Dito todo o exposto, se reconhece que a categoria analítica de gênero é útil na desnaturalização da maternidade, sendo, portanto, interpretada pela mulher como uma escolha dentre tantas outras existentes e não o condicionador de sua vida. Olhar por essa perspectiva é importante, pois abre uma nova visão para as diferenças, que sejam da ordem do masculino e feminino, mas também diferenças que esses papéis exercem, não sendo nada imposto a cada ser humano somente pela determinação sexual, mas sim entendendo de que maneira as trajetórias diferenciais homem-mulher são rearticulados, e de que maneira essas trajetórias vem sendo construídas ao longo da história. A partir desse conceito mudam-se então as funções dos membros da família patriarcal, pois não há maternidade/paternidade e sim uma relação parental em que ambos assumem as responsabilidades da prole, deixando de ter somente a mulher o controle da maternidade. Essa discussão redefine a maternidade como uma escolha reflexiva e rediscute o papel do pai, onde a decisão de homens e mulheres pela reprodução se dá por meio da experiência adquirida, sem pressão, medo, ou determinação biológica.

Palavras Chave

Gênero. Maternidade. Paternidade.

Area

Gênero, Sexualidade e Saúde

Instituciones

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - Mato Grosso - Brasil

Autores

NAYARA DE ARAUJO BRAZIL BARBOSA, TAYANI de CAMPOS RODRIGUES MARINHO, ANA MARIA NUNES DA SILVA, EDIR Nei Teixeira MANDÚ