Datos del trabajo


Título

SAUDE, ARTE E SIGNIFICADO: PALHAÇOTERAPIA COM PACIENTES ADULTOS EM UM HOSPITAL BRASILEIRO

Introdução

Diversas ações de humanização da assistência hospitalar têm sido adotadas no intuito de superar a técnica e objetividade impostas pelo modelo biomédico hegemônico, que já não contempla as necessidades de saúde atuais. Exemplo disso, a palhaçoterapia representa um paradoxo que possibilita, dentre outros efeitos, a ressignificação do ambiente hospitalar a partir das vivências individuais proporcionadas pelas intervenções realizadas pelos palhaços nos hospitais (1). O projeto de extensão Terapeutas da Alegria (TA) é um exemplo dessa prática. Como o JT, mais de 700 organizações no Brasil e muitas outras ao redor do mundo realizam trabalhos semelhantes (2). A literatura sobre o assunto foca principalmente em interações com crianças e os efeitos indicados são majoritariamente benéficos, facilitando sua aceitação apesar da baixa representatividade no campo científico.

Objetivos

Adotando uma abordagem qualitativa, a partir da interpretação dos textos obtidos nas entrevistas aos pacientes e observações das interações, este estudo busca compreender os significados das intervenções dos TA realizadas durante visitas à pacientes adultos internados em um hospital universitário.

Método

Pesquisa qualitativa utilizando conceitos da tradição hermenêutica, na tentativa de elucidar a compreensão dos significados das intervenções dos TA apreendidos pelos pacientes que recebem sua visita. Os instrumentos de coleta de dados foram a observação da interação palhaço-paciente e posterior entrevistas com esses pacientes. Para o tratamento dos dados foram empregadas as etapas de codificação de Saldaña (3) com códigos In Vivo e emocional, visando dar prioridade a voz dos pacientes e verificar se o que é significativo para eles foi compreendido pelos pesquisadores. A análise e apresentação dos resultados partiu de dados reais e particulares para abstração e sua relação com a teoria hermenêutica (4-6). Na impossibilidade desta relação, trouxe nuances e reflexões sobre o fenômeno (7), explorando novos temas e conceitos.

Questões éticas: Essa pesquisa foi submetida aos procedimentos demandados pelo CEP/UFSC, obedecendo às diretrizes e normas regulamentares de pesquisa envolvendo seres humanos estabelecidos pela Resolução Nº 466/2012 do CNS/MS. A pesquisa foi aprova recebendo o parecer consubstanciado número 1.833.384. Tanto as observações quanto as entrevistas poderiam ser interrompidas caso gerassem qualquer tipo de desconforto, constrangimento ou mal-estar ao paciente. Foi solicitado o consentimento da equipe de enfermagem para sua realização minutos antes, de acordo com a situação de saúde dos pacientes naquele momento. Foi realizado o processo de anonimização, com vistas a preservação da integridade dos participantes da pesquisa e sigilo sobre os dados coletados.

Resultados

A interação dos palhaços de hospital com pacientes adultos também visa subversão da ordem, proporcionando nova visão dos fatos. A hospitalização pode gerar efeitos que não contribuem no processo de recuperação da saúde. A presença de palhaços pode, mesmo que momentaneamente, aliviar esses efeitos, chamando a atenção para o "agora". Observar os erros dos palhaços permite que as pessoas se libertem do papel de paciente, possibilitando sua livre expressão e retorno à sua essência. A interação facilita a aceitação de sua própria condição, pela observação de como é estar fora da norma, pois cometer erros faz parte da essência da palhaçaria.Como a fantasia e a brincadeira geralmente não estão presentes na vida adulta, essa tarefa é desafiadora e essencial para que a mágica aconteça. O olhar de estranhamento inicial, evidente no rosto do paciente quando ele percebe que está realmente vendo palhaços entrando no seu quarto de hospital, se dissolve em sorriso ou em brilho no olhar quando ele se entrega à fantasia e ao desprendimento da atual situação em que se encontra, de dor, de medo, de espera e incerteza com relação ao futuro. O tom da interação é dado pela resposta do paciente. As vezes pode ser um humor ácido, espinhoso, provocativo e a linha entre o sucesso e o fracasso da interação torna-se tênue. A regra geral é não falar sobre o problema de saúde, na tentativa de trazer um outro olhar para a situação, o que nem sempre é fácil. A interação com adultos pode não consistir em risos e piadas, mas também em conversas e escuta. Quando o paciente adulto permite e se permite, também é formado um vínculo instantâneo paciente-palhaço, importante no processo terapêutico. As categorias que emergiram da codificação dos dados e sua análise apontaram que a palhaçoterapia provoca ressignificação do ambiente hospitalar e do próprio ser, agora no papel de paciente. Também apontaram reflexões sobre a relação com o desconhecido e particularidades e desafios da interação de palhaços de hospital com pacientes adultos.

Considerações Finais

A interação dos TA com pacientes adultos permite ressignificações, trazendo novos olhares para a experiência da hospitalização, do tornar-se paciente e dos processos que permeiam a relação com o desconhecido, no intuito de gerar sentimentos favoráveis à recuperação da saúde. É possível afirmar que essas alterações parecem estar mais alinhadas com a filosofia desta prática e com o conceito ampliado de saúde, desafiando o modelo atual. Esse estudo demonstra a complexidade do tema e a importância de pesquisas futuras de uma prática já tão difundida no contexto brasileiro e mundial.

Referências

1. Catapan SC, Oliveira WF, Rotta TM. Palhaçoterapia em ambiente hospitalar: Uma revisão de literatura. Cien Saude Colet. 2018; Mar. https://goo.gl/es8K3v. Published March 6, 2018. Accessed March 30, 2018.
2. Masetti M. Por uma ética do encontro: a influência da atuação de palhaços profissionais na ação dos profissionais de saúde. Indagatio Didactica, v. 5, n. 2, p. 912 - 925, Out. 2013.
3. Saldaña J. The Coding Manual for Qualitative Researchers. 3 ed. London: SAGE, 2016.
4. Gadamer HG. Verdade e método I: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Vozes, Petrópolis, 2005.
5. Ricoeur P. Vivo até a morte: seguido de fragmentos. São Paulo: WMF Martins Fontes; 2012.
6. Braida CR. Aspectos semânticos da hermenêutica de Schleiermacher. In: Reis RR, Rocha RP. (Org.). Filosofia hermenêutica. Santa Maria/RS: Ed. UFSM; 2000: 23-38.
7. Bergson H. O riso: ensaio sobre a significação do cômico. Tradução de Nathanael C. Caixeiro. 2nd ed. Rio de Janeiro, RJ: Zahar; 1983.

Palavras Chave

Humanização da Assistência. Terapia do Riso. Palhaçoterapia. Assistência hospitalar. Terapeutas da Alegria.

Area

Outros

Instituciones

Universidade Federal de Santa Catarina - Santa Catarina - Brasil

Autores

SORAIA DE CAMARGO CATAPAN, Ricardo Ricci Uvinha, Walter Ferreira Oliveira