Datos del trabajo


Título

ITINERARIO TERAPEUTICO DE PESSOAS COM CANCER COLORRETAL EM BUSCA DE CURA

Introdução

O itinerário terapêutico de pessoas com câncer colorretal envolveu uma luta contínua em busca de diagnóstico, tratamento e cura, marcada por dificuldades de acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS), conflitos e sofrimentos.

Objetivos

Interpretar o itinerário terapêutico de pessoas com câncer colorretal em busca de cura no sistema de saúde pública.

Método

Foram realizadas 26 entrevistas em profundidade com gravação em áudio, com treze participantes com estoma intestinal por câncer colorretal, no primeiro ano de pós-operatório, em seguimento de controle oncológico, em um hospital público universitário. Além destes dados, o trabalho de campo incluiu observação não participante; observação participante e diário de campo de situações de atendimento ambulatorial, em unidade de internação e domicílio, acompanhadas pelo pesquisador, que resultou na obtenção de dados ampliados e significativos (Parecer no. 184.720 – CEP/EERP-USP). Utilizou-se o método etnográfico e a Análise Temática, fundamentado pelo referencial da Sociologia da Saúde, que integra ações das pessoas às estruturas sociais em um contexto cultural.

Resultados

As pessoas por suspeitarem de algo grave devido às mudanças do seu corpo como dor e distensão abdominal, diarreia, constipação, além do sangramento intestinal, que foi considerada a alteração de maior gravidade, tiveram que travam uma luta no sistema profissional na busca do diagnóstico de câncer colorretal, apesar de acreditarem que conseguiriam resolver o seu problema de saúde. Outro aspecto marcante para estas pessoas foi a dificuldade de manutenção das atividades cotidianas. Para realizar a colonoscopia, obter o diagnóstico definitivo e realizar o tratamento cirúrgico, estas tiveram um início de Itinerário terapêutico permeado de desafios como demora de atendimento e no encaminhamento para os níveis secundário e terciário de assistência à saúde, resolução paliativa de suas queixas, atendimento fragmentado, insatisfação de suas expectativas em relação à qualidade da assistência e os limites do sistema profissional de saúde, mas não deixaram de buscar alternativas e possibilidades de atendimento neste sistema. Em decorrência da persistência de suas queixas gastrointestinais e principalmente pelo sangramento intestinal, estas retornaram por várias vezes com expectativa de resolução definitiva. Além disso, a constatação da sua suspeita “de ter algo grave” ocorreu com a oficialização e legitimação do diagnóstico de câncer colorretal pelo médico. Ressaltamos as diferentes perspectivas entre as pessoas e os profissionais sobre o sentido de “ter um problema de saúde”, que dificultou a acessibilidade à assistência de saúde. Na perspectiva da pessoa sobre o seu adoecimento envolve a percepção e a resposta subjetiva sobre estar doente, englobando aspectos individuais, morais, sociais, físicos, psicológicos e culturais. Para os profissionais, a interpretação sobre a experiência destas pessoas está focalizada no biológico, vinculado ao à verificação de sinais e sintomas e no estabelecimento do diagnóstico médico, ou seja, é do processo fisiopatológico. Outros aspectos que retrataram a diferença das visões das pessoas e dos profissionais em relação à resolução da queixa e o motivo da busca pelo atendimento na Atenção Primária de Saúde, foram a falta de valorização das queixas gastrointestinais e a indicação terapêutica, que resolvia momentaneamente o desconforto, mas não a sua causa real. Nas inúmeras buscas por atendimentos, com as mesmas queixas gastrointestinais, houve resolução paliativa, mas necessariamente não houve a referência destas pessoas para os níveis de atendimento de maior complexidade, que poderiam de fato ser resolutivo. O reconhecimento da gravidade levou estas pessoas a recorrerem, muitas vezes, ao sistema privado para agilizar a realização da colonoscopia para a definição do seu diagnóstico. Por outro lado, o estigma do câncer e as mudanças impostas pela cirurgia com estomização, fizeram com que passassem a buscar a normalidade do seu corpo e da sua vida, anteriores ao tratamento cirúrgico. Estas pessoas passaram a canalizar os seus esforços para a resolução do seu problema de saúde, mesmo porque a manutenção de suas atividades diárias tornou-se inviável. Apesar dos desafios, não se deixaram ser vencidas, adotaram atitudes proativas de lutar com a doença em um primeiro momento, assumindo o papel de doente e conseguiram lidar com os acontecimentos críticos e intensos, por meio de estratégias e de recursos internos, familiares e do próprio sistema público de saúde. Nesta etapa, estas pessoas tiveram a experiência com o fato de ter câncer e estoma intestinal, que representou uma ruptura biográfica, constatando que suas vidas estavam diferentes e que não tinham as mesmas identidades de antes, com canalização dos seus esforços para lidar com a doença, os tratamentos cirúrgico e adjuvante, assim como as suas consequências.

Considerações Finais

A ação da pessoa na busca por tratamento inclui uma conduta intencional, que pondera obstáculos e possibilidades, e, portanto, há uma reflexividade sobre a sua ação. E assim, estas pessoas decidiram-se pelo Itinerário terapêutico no sistema profissional. A experiência dos participantes deste estudo contrapõe a lógica de valorização recomendada pelo SUS em relação ao processo de produção de saúde, que inclui a autonomia e o protagonismo de todos os atores envolvidos, a corresponsabilidade, os vínculos solidários e a participação coletiva nas práticas de saúde, que denotam a humanização e a integralidade na assistência à saúde. A adaptação nesta etapa da sobrevivência se revelou como a constatação do irremediável e das mudanças físicas e psicoemocionais, com demandas de necessidades de cuidados específicos, além das dificuldades de acessibilidade ao Sistema Único de Saúde.

Palavras Chave

Itinerário terapêutico. Estomia. Câncer colorretal. Assistência à saúde.

Area

Doenças crônicas/condições crônicas

Instituciones

Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP - São Paulo - Brasil

Autores

Nariman Felício Bortucan Lenza, André Aparecido Silva Teles, Luciana Scatralhe Buetto, Vanessa Damiana Menis Sasaki, Livia Módolo Martins, Natália Michelato Silva, Mary Elisabeth Santana, Helena Megumi Sonobe