Datos del trabajo


Título

IDENTIFICAÇAO DOS TEMAS SEXUALIDADE, DIVERSIDADE E GENERO NO ENSINO MEDICO

Introdução

O presente estudo exploratório está vinculado ao Programa de Pesquisa do Artigo 170 (UNIEDU – Governo do Estado de Santa Catarina) relacionado a uma pesquisa científica, em andamento, no curso de medicina da Universidade do Vale do Itajaí, SC, Brasil (UNIVALI) que busca descrever o tema da transexualidade no ensino médico. Parte do problema da pesquisa, visa identificar a rede de termos que remetem ao significado do tema da transexualidade. A justificativa por este tema-foco se dá na medida em que o ensino médico tem sido perpassado por contínuos questionamentos a respeito dos conteúdos, habilidades e competências necessários para que o futuro médico venha a ser crítico e reflexivo em relação às necessidades da população. Enquanto os modelos tradicionais de educação médica, “flexneriano”, focam o ensino de conhecimentos biotecnológicos; sistematicamente deixam de lado aspectos singulares, questões raciais, sociais, gênero, identidade sexual, entre outras; como se esses - ditos temas “humanísticos” - não trouxessem interesse para a compreensão do processo saúde-doença (PAGLIOSA; DA ROS, 2008). Estes modelos de ensino - tradicionais -, são ainda presentes na realidade das universidades brasileiras, ainda que currículos tenham sido renovados e conteúdos programáticos sido atualizados, por força das diretivas da política educacional (BRASIL, 2014). Parte-se do princípio que a questão da alteridade seja fundamental para a formação médica. A alteridade encontra seu domínio maior e sua complexidade na diversidade da população brasileira. Trazer à tona este tema para a educação médica afigura-se como objeto de reflexão, tradicionalmente negligenciado, que pode contribuir com a compreensão desta multiplicidade - marca da humanidade como um todo, apanágio especial dos brasileiros.

Objetivos

Esta pesquisa objetiva identificar a presença dos temas sexualidade, diversidade e gênero nos objetivos de aprendizagem e conteúdos programáticos dos planos de ensino de disciplinas das fases do ensino básico e clínico (1º ao 7º período) do curso de medicina UNIVALI em 2018. Por meio desta análise, descrever em que contexto semântico esses temas são abordados, descrevendo, assim, uma rede de remissões significativas.

Método

Trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório, de abordagem mista quanti-qualitativa, a partir da análise documental de planos de ensino de disciplinas do ciclo básico e clínico do curso de graduação, pois teoriza-se que durante esse período de três anos e meio que antecedem o internato médico, o tipo de formação médica terá papel fundamental no grau de reflexividade e crítica do futuro profissional. Das sessenta e nove disciplinas oferecidas nestes períodos, foram escolhidas como amostra para análise: a) ciclo básico: Humanidades Médicas e Saúde Coletiva; b) ciclo clínico: Atenção Básica, Clínica Médica, Ginecologia e Obstetrícia, Humanidades Médicas e Saúde Mental. Estas disciplinas foram, intuitivamente, consideradas como possíveis de tratar dos temas sexualidade, diversidade e gênero. Nos campos objetivos de aprendizagem e conteúdos programáticos dos planos de ensino foram buscados os seguintes termos: “sexua” (por resultar na recuperação das palavras-chave: identidade sexual, sexualidade, transexualidade, orientações sexuais, disfunções psicossexuais); “diversidade” e “gênero” (por resultar na recuperação, também, de transgênero). As disciplinas foram divididas como pertencentes ao ciclo básico (1º e 2º períodos) ou ao ciclo clínico (do 3º ao 7º período). Os termos buscados nos planos de ensino foram analisados de acordo com o contexto semântico em que ocorreram para identificar se faziam remissão ao objeto de estudo proposto. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da UNIVALI com o número do Parecer 2.577.514.

Resultados

As palavras-chave foram utilizadas, ocasionalmente, em um contexto diverso do foco da pesquisa, por exemplo: na disciplina de Atenção Básica: "compreender a diversidade étnico-racial inserida na territorialização", "acolhimento e sua utilização prática: a diversidade étnico-racial”; Ginecologia: "desenvolvimento sexual na embriologia humana"; Humanidades Médicas: "reconhecer a diversidade étnico-racial, a importância da compreensão de si e do outro na diversidade/singularidade na relação médico-paciente". Em relação ao ciclo básico, nos planos de ensino das disciplinas de Saúde Coletiva não há a ocorrência dos termos buscados nos seus objetivos de aprendizagem/conteúdos ministrados. Nas disciplinas de Humanidades Médicas há referência aos termos diversidade, gênero e sexualidade somente no primeiro período: "Sexualidade, Gênero, Medicina e Sociedade”, "Gênero: diferentes concepções, muitos olhares" e “a importância da compreensão de si e do outro na diversidade/singularidade na relação médico-paciente”. No segundo e no sexto períodos do curso nenhuma disciplina incluiu os termos significativos nas seções pesquisadas de seus planos de ensino. A disciplina de Clínica Médica não faz menção aos termos buscados em nenhum momento da grade curricular. A disciplina de Ginecologia, no quarto período, aborda o tema de gênero remetendo à "vulnerabilidade de gênero feminino" e "violência sexual". O plano de ensino das Humanidades Médicas (quinto período) traz: " bioética, questões étnico-raciais e de gênero”. A disciplina de Saúde Mental (sétimo período) aborda "Demonstrar consciência da diversidade, respeitando as diferenças de natureza ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, orientações sexuais e outras".

Considerações Finais

As reformulações dos projetos pedagógicos, a partir das diretrizes curriculares nacionais para os cursos de medicina tiveram como foco superar, conforme afirmam Moita e Andrade (2009, p. 271), “[...] um conhecimento desligado das necessidades populares cotidianas”. As questões de diversidade, gênero e de sexualidade, como é o caso exemplar do tema da transexualidade, ao serem abordados nos currículos de medicina configuram-se como temas de reflexão sobre as - reais - necessidades da população. O recorte da pesquisa em andamento permite concluir que os termos/temas buscados aparecem nos objetivos de aprendizagem e nos conteúdos no currículo do curso, porém de forma isolada, sem que haja as relações horizontais (somente uma disciplina discutindo a temática em um período) ou verticais (interrupção da abordagem do tema no decorrer do curso) necessárias para formação médica (GARCIA; et al., 2007). Como estudo exploratório, o trabalho sugere a necessidade de descrever como professores e alunos percebem a presença dos temas em questão e assim, reavaliar os planos de ensino na sua tentativa de alcançar as propostas das atuais diretrizes curriculares.

Palavras Chave

Educação médica; Sexualidade; Diversidade; Gênero.

Area

Gênero, Sexualidade e Saúde

Instituciones

UNIVALI - Santa Catarina - Brasil

Autores

CARLOS ALBERTO SEVERO GARCIA JR, Jair Josué Laurentino Reis, Júlia Sá Liston, Mariana Andréa de Moura Henicka