Datos del trabajo


Título

ATENÇAO A SAUDE MENTAL DO(A) TRABALHADOR(A)-USUARIO(A) NA ATENÇAO PRIMARIA: EXPERIENCIAS DOS(AS) PROFISSIONAIS DA SAUDE EM FLORIANOPOLIS

Introdução

A temática Trabalho e Saúde Mental (T&SM) é complexa e polissêmica. A centralidade do trabalho na organização da sociedade, as modificações das relações sociais de produção no capitalismo global e as questões relacionadas ao sofrimento no trabalho compõem um campo problemático relevante. Ao considerar este panorama, o presente estudo se situa no contexto das políticas públicas de saúde no Brasil, apresentando como escopo a articulação entre três áreas: Saúde Mental(SM), Saúde do Trabalhador(ST) e Atenção Primária à Saúde(APS). O Sistema Único de Saúde(SUS) apresenta inúmeros desafios, dentre os quais se destaca a necessidade de se pensar a saúde dos usuários enquanto trabalhadores. No âmbito organizacional, a aproximação inicial preferencial das pessoas com o SUS ocorre na APS, organizada através das equipes de Estratégia de Saúde da Família(ESF). Estas atuam como referência na coordenação do cuidado em saúde e no acompanhamento longitudinal da população em um território adscrito, deparando-se com uma diversidade de vivências complexas no encontro com os usuários do SUS, incluindo questões de sofrimento psíquico que podem estar relacionadas às experiências laborais. Na interface entre T&SM, as pesquisas realizadas até o momento pouco contemplaram a articulação destes campos com o âmbito da APS, tanto a nível de análise documental, como na experiência de atenção à saúde. A importância do estudo se justifica pela lacuna salientada e pela intensificação do sofrimento e adoecimento no trabalho na centralidade que o trabalho ocupa no contexto social permeado pelo cenário de desproteção social, precarização das condições laborais e processo de individualização.

Objetivos

O presente estudo objetiva problematizar como a temática trabalho em sua interface com a saúde mental comparece nas normativas e protocolos do SUS e nas experiências dos profissionais da APS de Florianópolis quanto aos cuidados em saúde promovidos aos usuários.

Método

O processo de pesquisa foi realizado a partir da perspectiva cartográfica, inaugurado por Deleuze e Guattari [1] e desenvolvido por vários autores no Brasil [2,3]. A cartografia consiste em mapear, detectar forças, direções e movimentos, os quais escapam ao plano das formas[1]. O cartografar está voltado para o plano da experimentação, de criação e construção, considerando o traçado de mapas em sua constante transformação[2]. Deste modo, constitui um método que busca investigar um processo de produção, analisando e construindo conhecimento durante o percurso e no encontro com o campo não se tratando de representar objetos, mas de construir um diagrama de forças e suas conexões[3]. No presente estudo, o campo de análise se organiza em três fios condutores: mapear e problematizar as normativas e protocolos de atenção à saúde mental do trabalhador-usuário na APS; realizar entrevistas com profissionais da APS em Florianópolis; analisar os documentos mapeados com os interlocutores. Pretende-se contribuir com uma análise que produza sentidos com os trabalhadores da APS para problematizar como a temática do trabalho na sua interface com a SM é abordada no plano organizacional e na oferta de cuidado aos usuários.

Resultados

Os resultados preliminares apontam para a tênue articulação das portarias ministeriais das áreas temáticas da SM, ST e APS. No âmbito municipal, evidencia-se a fragilização da atenção à saúde do trabalhador em Florianópolis em virtude do desmantelamento da Vigilância em Saúde do Trabalhador(Visat) em 2016 e a redução da equipe do Centro de Referência da Saúde do Trabalhador(Cerest) da macrorregião, atualmente composta por uma servidora da área da engenharia de segurança do trabalho. O único boletim publicado pela Visat-Florianópolis[4] apresenta dados que demonstram a grande variabilidade quanto à notificação da relação trabalho-agravos à saúde nos serviços dos diferentes distritos sanitários do município, pois alguns locais identificaram 134 e 75 casos, enquanto que outras unidades apontaram 0, 1 ou 2 no ano de 2015[4]. As entrevistas realizadas evidenciam que os(as) profissionais da APS identificam os(as) usuários(as) como trabalhadores(as) e tendem a relacionar as condições de trabalho na determinação do processo de saúde-adoecimento. As estratégias interventivas incluíram a escuta e diálogo na busca de alternativas, cuidados individuais e prescrição medicamentosa, afastamento para tratamento e perícia médica, além da oferta de práticas integrativas e complementares, até o contato e sugestões aos empregadores – nem sempre acatadas. A maioria das equipes realizou discussão dos casos mais graves. Embora se reconheça a relevância do debate sobre o sofrimento no trabalho, este é pouco abordado na educação permanente. A maioria dos profissionais apresentam dúvidas quanto à notificação dos casos de saúde mental relacionados ao trabalho e sobre como intervir diante de situações de precarização das condições de trabalho.

Considerações Finais

O presente estudo evidencia que a desarticulação entre os campos da saúde do trabalhador e da saúde mental fragiliza a atenção à saúde mental do usuário-trabalhador ofertada pelos(as) profissionais da atenção primária. Torna-se primordial atentar à formação dos(as) trabalhadores(as) da saúde no que tange ao lugar que as vivências laborais ocupam nos currículos, na educação permanente e discussão de casos nos serviços. Neste sentido, destaca-se a importância de novos estudos nesta área para apontar caminhos para responder à fragilização evidenciada nesta pesquisa.

Referências
[1] Deleuze G, Guattari F. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. 1.ed. Rio de Janeiro: Editora 34; 1995
[2] Passos E, Kastrup V, Escóssia L. Pistas do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. 1.ed. Porto Alegre: Sulina; 2009
[3] Rolnik S. Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo. 2a.ed. Porto Alegre: Editora UFRGS; 2011.
[4] Florianópolis. Secretaria Municipal de Saúde. Equipe VISAT. Boletim de Vigilância em Saúde do Trabalhador. Fev.; 2016

Palavras Chave

Saúde do Trabalhador; Saúde Mental; Atenção Primária à Saúde; Cartografia

Area

Organização da Atenção em Saúde

Instituciones

Universidade Federal de Santa Catarina - Santa Catarina - Brasil

Autores

Liana Cristina Dalla Vecchia Pereira