Datos del trabajo


Título

DEVIRES DA CARTOGRAFIA NAS PESQUISAS EM SAUDE: TRAN(S)AUDE

Introdução

A Cartografia nasce com a esquizoanálise, também denominada de filosofia da diferença, clínica da diferença, entre outras. Esta propõe, baseado nos princípios da esquizoanálise, possibilitar o mapeamento de paisagens psicossociais, mergulhar na geografia dos afetos, dos movimentos, das intensidades. O uso da cartografia nas ciências sócias e em pesquisa parte da preocupação pela inclusão das subjetividades na produção de conhecimento, a partir do estudo da construção das realidades e dos seus processos, considerando estes como dinâmicos e em constante movimento. Na área da saúde, as próprias características da cartografia, a tornam todo um desafio, pensando no paradigma atual de ciência, neutra e objetiva, que perpassa a construção e produção de conhecimento desses espaços.

Devir cartógrafa(o) e pesquisar dentro da área da saúde, mesmo que seja saúde coletiva, é lutar contra o mito da cientificidade e da neutralidade como pesquisado(r)(a) e ao mesmo tempo se permitir aprender a olhar para além do olho nu. Os estudos em saúde das pessoas Trans vem aumentando nos últimos anos, por conta das lutas do próprio movimentos que visam dignidade e autonomia no cuidado à saúde diante das iniquidades que estás pessoas vivenciam nos processos de procura pelos serviços de saúde. A cartografia, na pesquisa realizada, foi usada para mapear os trajetos, percursos e cenários que as pessoas trans constroem para cuidar da sua saúde.

Objetivos

Analisar as possibilidades que a cartografia nos permite construir com relação às pesquisas em saúde, a partir da experiência da pesquisa em saúde com pessoas Trans.

Contribuir a partir da minha experiência com a cartografia como inspiração metodológica e de análise para as pesquisas em saúde.

Desenvolvimento

Mergulhar na cartografia é se permitir sair das nossas zonas de conforto, e como parte da própria pesquisa, pensar quais são as subjetividades e os corpos que nos habitam. A(o) cartógrafa(o) não é uma pessoa neutra, e ao mesmo tempo é quem vai dar língua para os afetos que estão sendo construídos e que perpassam a cartografia e os vínculos que vão se (re)(des)fazendo. A invenção do mapa(s)/realidade(s) se dá através da(o) cartógrafa(o), mas não por ela(e), pois não há agente da invenção. Desta forma, se entende que é necessário pensar quais são os ingredientes identitários, no meu caso, que me perpassam, e que darão uma certa sensibilidade no olhar dessas cenas pelas quais transitarei e continuo transitando, isso não quer dizer que meu olhar estará fechado para novos afectos e sensibilidades que perpassem o território pesquisado/construído/cartografado. Como comenta ROLNIK (2011), o perfil de a(o) cartógrafa(o) é definido por um tipo de sensibilidade, que deve procurar acolher o caráter finito ilimitado do processo de produção da realidade, que seria o desejo.

Para o anterior também se faz necessário se esvaziar dos nossos conhecimentos, preconceitos e estigmas, no sentido de torna-los conscientes, mutáveis e flexíveis, para que possamos incluir outros conhecimentos em nós, os que iremos construir através da cartografia. No sentido de estar abertas(os) a aprender junto e a olhar sem os pre-conceitos que nos fariam pre-determinar o que está sendo olhado e construído. Antes de entrar no campo e entendendo que como pesquisadoras(es) não somos pessoas neutras, é preciso descrever nossos lugares de fala e as possíveis leituras. Entrei em cena como uma pessoa lida como uma mulher, parda, gorda, que no momento de falar é observada, às vezes, com estranheza pelo seu sotaque. Eu entrei em cena como pessoa não binária, sapatransviade, imigrante, gorde, não branca, que estudou ensino médio e fundamental em escola privada e fez medicina em uma universidade privada na Colômbia.

No caso, quando acompanhei algumas das pessoas trans num serviço ‘amigável’, no sentido que tem o intuito de atender só pessoas trans e às suas demandas relacionadas ao processo transexualizador, se bem era um lugar que respeitava às pessoas trans, também existia um cuidado em seguir um protocolo, desta forma alguns contratempos aconteciam quando chegava uma pessoa trans que não se encaixava dentro deste. Algumas coisas podem ser evidentes nas cartografias das pessoas trans, como por exemplo algumas das violências relacionadas ao nome social, evidentes para mim por exemplo, mas tem outras sutilezas, que tem relação com a interação e vínculo por exemplo entre essa pessoa trans que chega na consulta e a/o médica(o) que atende, derivadas também de um lugar de estranheza, mas também de tutela e de cuidado.

Considerações Finais

A cartografia pretende a captação e construção continua das realidades junto com a própria pessoa que está cartografando, mesmo se afastando, entendendo que deve se esvaziar dos seus conhecimentos prévios, preconceitos, estigmas, etc., para poder através do seu corpo vibrátil –ver- as dinâmicas que são construídas e que constituem esse rizoma que está sendo feito e que está em constante devir. Como inspiração metodológica esta deve ficar atenta ao(s) objetivo(s) definido(s), mas não se limitar. A sua vez, os mapas/ rizomas permitem abordar a pluralidade do cuidado à saúde e às formas de resistência, no caso das pessoas trans, ao sistema biomédico.

ROLNIK, S. Cartografia sentimental. Transformações contemporâneas do desejo. Porto Alegre: Editora Sulina, [2006] 2011.

Palavras Chave

Cartografia; metodologia; corpo vibrátil; saúde trans; pessoas trans

Area

Gênero, Sexualidade e Saúde

Autores

Ana Maria (Alejandro) Mujica Rodriguez