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Título

A MULHER E CONSIDERADA PELA MIDIA QUANDO SE FALA EM AMAMENTAÇAO PROLONGADA?

Introdução

Apesar de todas as evidências científicas comprovando os benefícios da amamentação para mãe, bebê, família, sociedades e ambiente, e da melhora da situação do aleitamento materno (AM) no Brasil, os indicadores estão estagnados o que tem preocupado pesquisadores da área. Também tem sido alvo de apreensão dos mesmos a falta de dados atuais da situação do AM no País; os últimos são de 2009 e revelaram que a prevalência de aleitamento materno exclusivo em menores de seis meses, no Brasil, foi de 41%, abaixo do recomendado aos países membros da Organização Mundial de Saúde, que é de 50% ou mais. Além disso, a duração mediana da amamentação exclusiva foi de 54,1 dias e, com complementação, até os 11,2 meses. Apesar das vantagens da amamentação continuada ou prolongada (por dois anos ou mais), um estudo concluiu que “menos da metade das crianças é amamentada pelo menos até os 12 meses de idade, e apenas 1/4 é amamentada na faixa etária entre 18 e 23 meses” (MARTINS; GIUGLIANI, 2012, s/p). Existem muitos estudos sobre determinantes da interrupção precoce da amamentação, tendo sido identificados fatores socioeconômicos, culturais, demográficos e biológicos. São, porém, escassos os estudos abordando a amamentação prolongada, e pouco se sabe sobre os fatores envolvidos na manutenção desta. Kalil e Costa (2013) buscam fomentar uma discussão mais plural a respeito da amamentação e de suas implicações para a mulher, abrangendo questões como saúde, subjetividade, trabalho, sexualidade e seus múltiplos papéis na sociedade contemporânea. As autoras tecem esforços no sentido de tentar aproximar o discurso pró-amamentação de uma perspectiva de gênero, privilegiando a prática sob a ótica dos direitos femininos. Elas destacam também que a alimentação infantil ocorre em um contexto de desigualdades de gênero, que inclui falta de suporte familiar, trabalhista e comunitário para a amamentação; sexualização dos seios femininos e, por outro lado, estigmatização do seio maternal, que limita as possibilidades de a mulher amamentar em público; além da falta de informação para a mulher sobre os benefícios do AM, entre outros obstáculos.

Objetivos

Realizar uma reflexão crítica do discurso midiático pró-amamentação articulado com perspectiva de gênero, privilegiando a ótica dos direitos femininos e reprodutivos.

Desenvolvimento

Para que a amamentação se torne uma prática amplamente adotada, são necessários esforços dos diversos segmentos sociais. Diante disso, a mídia é um dos atores responsáveis pela divulgação da prática de amamentar. A iniciação precoce, a amamentação exclusiva e a amamentação continuada são influenciadas por fatores sociais que afetam toda a população, como tendências sociais, propagandas, mídia e produtos disponíveis nas lojas (VICTORA, et al, 2016). A mídia exerce uma função importante na constituição da subjetividade, apontando modos de ser e de exercer práticas no cotidiano, veiculando valores, concepções e modos de entender a realidade, sendo também, junto com a família e outras instituições, um espaço de formação e interferindo na elaboração de conceitos e modos de viver. O que se percebe, é que a amamentação é abordada, sobretudo, sob a ótica da saúde e do direitos da criança, na qual o corpo feminino continua regulado socialmente. Scavone (2010) em seus trabalhos tem feito várias reflexões sobre a biopolítica do corpo feminino que vem ao encontro do discurso político feminista que, visando práticas de liberdade, erigiu diferentes críticas aos mecanismos de controle social sobre o corpo feminino. Este corpo é considerado, ao longo do período que estudou (a partir da década de 70), um lugar de acirrada disputa de poder entre o domínio público e o privado. Portanto, um olhar, além de ampliado, mas politizado, do que representa para as mulheres a amamentação prolongada e como a mídia se insere neste contexto é tema que precisa ser explorado. Gomes (2017) em seu artigo sobre os discursos da amamentação em público coloca que essa questão não se trata do ponto de vista da importância e da necessidade do AM, mas o fato de que vivemos em uma sociedade sexista, misógina, dominada pelas perspectivas e normas ensejadas e performatizadas pelas masculinidades. São performances do masculino que objetificam e hiperssexualizam o corpo das feminilidades, ao mesmo tempo em que o performatiza como um corpo santo/maternal, puro, casto que precisa ser, portanto, invisível, contido, fechado.

Considerações Finais

Os discursos, ademais de naturalizarem a prática do aleitamento materno, persuadindo a mãe a amamentar com base, sobretudo, nos atributos do leite materno e seu caráter indispensável à saúde da criança; reduzem o AM a comportamentos biológicos e descontextualizam que este tema se insere numa sociedade sexista que insiste em impor normas de comportamento que não consideram as subjetividades, expectativas, desejos e a vida concreta das mulheres que optam pela amamentação prolongada. Diante do exposto, a mídia tem papel importante em relação aos discursos e políticas contemporâneas pró-amamentação e seus desdobramentos na perspectiva da mulher, trazendo novos olhares no campo da saúde e nos novos modelos de maternidade (e paternidade). A mídia de massa precisa aproximar seu discurso da mulher mãe, seus desejos, expectativas e vida, quando o assunto é amamentação, em especial a prolongada, visando colaborar com o aumento da prevalência deste indicador e repensar seu papel de reprodutora de normas e condutas sexistas.

Referências:

GOMES, Maria Carmen Aires. Violência, intolerância e corpo feminino: analisando as reações discursivas na mídia em torno da prática de amamentação. Cadernos de Linguagem e Sociedade, Brasília, v. 18, n. 2, 2017. Disponível em <http://periodicos.unb.br/index.php/les/article/view/25217>

KALIL, Irene Rocha; COSTA, Maria Conceição da. Entre o direito, o dever e o risco: olhares de gênero sobre amamentação. Revista PerCursos, Florianópolis, v. 14, n. 27, p. 7-32, jul./dez. 2013. Disponível em: <http://www.periodicos.udesc.br/index.php/percursos/article/view/1984724614272013007/3016>.

MARTINS, Elisa Justo; GIUGLIANI, Elsa Regina Justo. Quem são as mulheres que amamentam por 2 anos ou mais? Jornal de Pediatria, Porto Alegre, v. 88 n.1, Jan./Feb. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572012000100011>.

SCAVONE, Lucila. Nosso corpo nos pertence? Discursos feministas do corpo. Revista Gênero, Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, 2010. Disponível em: <http://www.revistagenero.uff.br/index.php/revistagenero/article/view/4>

VICTORA, Cesar G. et al. Amamentação no século 21 - Epidemiologia, mecanismos e efeitos ao longo da vida. The Lancet, Londres, v. 387, 2016. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/Marcusrenato/the-lancet-amamentao-no-sculo-21-epidemiologia-mecanismos-e-efeitos-ao-longo-da-vida>.

Palavras Chave

amamentação, mídia, gênero e direito

Area

Comunicação e Saúde

Autores

Mariana Nunes Ignatios, Márcia Regina Cangiani Fabbro