Datos del trabajo


Título

O CUIDADO ALIMENTAR EM TORNO DA (IM)PREVISIBILIDADE DAS ESCOLHAS ALIMENTARES DAS CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

Introdução

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é considerado um transtorno do neurodesenvolvimento que traz como características a falta de habilidades na comunicação social, em aspectos como: interação, linguagem e padrões de comportamentos repetitivos e restritivos. As crianças diagnosticadas com o TEA, no geral, apresentam grandes dificuldades na adaptação a novas situações que fogem do contexto habitual. Os comportamentos repetitivos são chamados de estereotipias e geralmente acontecem no uso de objetos ou fala; na repetição excessiva das mesmas atividades; padrões de comportamentos inflexíveis e intenso foco em questões restritas, além de hiper ou hiposensibilidade aos estímulos sensoriais do ambiente, como: cores, sons, cheiros, etc. A grande parte dos casos de autismo apresenta manifestações complexas relacionadas às práticas alimentares, dentre estas a frequente rejeição por alimentos e/ou a aceitação limitada, de forma resistente e ritualística, comprometendo a ingestão apropriada de nutrientes. Além disso, a escolha da alimentação é variável de acordo com o público, e essas variações podem sofrer influência de fatores como a idade, o gênero, o estado de saúde do sujeito, a cultura, os valores simbólicos, os fatores econômicos, como também da sua condição social e nesse sentido, são consideradas as prescrições e restrições que são definidas. pelas representações desses alimentos. Dessa forma, as práticas alimentares são aspectos que perpassam a relação da criança com o seu meio, é nesse contexto que se estabelece e confere a importância do cuidador, como possível potencializador de relações formadas entre a criança e mundo, contemplando suas singulares e pluralidades.

Objetivos

Este trabalho tem como objetivo compreender as articulações dos cuidadores em torno da (im)previsibilidade das escolhas alimentares das crianças com Transtorno do Espectro Autista.

Método

Trata-se de um estudo qualitativo realizada na cidade de Salvador-BA. Foram realizadas entrevistas narrativas com cuidadores de crianças com TEA. A seleção destes se deu através da candidatura voluntária. Para tanto foram dispostos cartazes de seleção em centros especializados de acolhimento e acompanhamento de crianças com este transtorno, situados no município de Salvador, Bahia e em redes sociais. No total foram entrevistadas 8 cuidadoras de criança com TEA diagnosticada há, no mínimo, 1 ano. Sendo a faixa etária das participantes, entre 26 e 42 anos. As entrevistas foram gravadas e transcritas e analisadas com base na análise compreensiva. O trabalho foi aprovado pelo comitê de Ética do Centro Universitário Maurício de Nassau, sob o parecer de nº 2.288.967/2017.

Resultados

Reconhecendo os aspectos complexos que influenciam a prática alimentar, é possível verificar dentre as entrevistadas, que as estratégias de enfrentamento sofrem uma mudança constante. Isto é influenciado também pelo processo de rejeição e fixação ao alimento, que ocorre em grande parte das crianças, podendo comprometer suas necessidades nutricionais. Para lidar com essas adversidades, algumas mães buscam estratégias que possam compensar a imprevisibilidade das crianças em relação à rejeição ao alimento e promover uma previsibilidade que favoreça, além da minimização de comportamentos inadequados, o cuidado com a saúde da criança. As cuidadoras trouxeram a imprevisibilidade do filho em relação a aceitação ao alimento, destacando a rejeição frequente de alimentos que eram aceitos anteriormente, comprometendo assim a sua escolha alimentar, o que acontece também com diferentes elementos. Este comportamento costuma ocorrer na infância de modo geral, entretanto, o apego a padrões rígidos de comportamento e à rejeição ocorre com maior frequência e intensidade crianças com TEA. Dessa forma, a mãe busca oferecer uma maior variabilidade de alimentos, a fim de favorecer a aceitação e a nutrição da criança. No entanto, não é possível mensurar em que momento ocorrerá a rejeição ou a aceitação. A subjetividade que embasa o cuidado com o outro, está relacionada não só às práticas alimentares e cuidados com a saúde, como também a visão e exposição da criança ao convívio social. Diante das diversas restrições alimentares apresentadas por crianças com TEA, algumas situações do cotidiano ficam comprometidas, gerando assim desconfortos nos cuidadores, por haver um desejo pelo convívio do filho nos diferentes contextos infantis. No entanto, com base nas restrições alimentares estabelecidas para seu filho, a mãe prefere limitar o acesso da criança a determinados ambientes, por considerar perversa a sua exposição a diversos alimentos que a criança não deve comer. Entretanto, há cuidadoras que não concordam com esse pensamento e acreditam que isolar a criança com TEA por receio de suas reações em determinado ambiente, reduz a sua sociabilidade. Visto que ato de se alimentar é, para além da ingestão de nutrientes e desenvolvimento da saúde, uma prática culturalmente estabelecida e que favorece o convívio social. Deste modo, cuidadoras traz a questão da inclusão, e para tal teve-se que abrir mão de algumas restrições alimentares consideradas eficazes para diminuir o quadro de hiperatividade do filho. Assim, a prática alimentar se torna diversificada, uma vez que uma parcela das mães acredita na necessidade de ceder o alimento frente ao desconforto do filho, e outras reconhecem a necessidade da restrição, porém ambos os posicionamentos parecem não inibir a angústia.

Considerações Finais

A rejeição ao novo ou a repetição de alimentos da rotina, em parte, influenciam na escolha alimentar por parte dos cuidadores. Nesse contexto, o cuidado se integra como forma de potencializar ou inibir questões consideradas aversivas ou adequadas, tanto para a criança, quanto para a realidade social na qual está exposta. Entretanto, o cuidado alimentar se diversifica, seja na busca por oferecer o cuidado alimentar com base nas restrições, aversões e preferências ou pautado na adaptação social da criança. Deste modo, pode-se admitir que os recursos estratégicos se baseiam na imprevisibilidade da aceitação a determinados alimentos, e na previsibilidade da rejeição ou alteração de comportamento apresentadas, construídas a partir das experiências vividas por cada família e do padrão intuitivo do cuidador, com análise sensível das suas vivências. Contudo, é relevante ressaltar a necessidade de novos estudos que lancem luz sobre o cenário de práticas de cuidado alimentar de crianças com TEA, possibilitando maiores diálogos de saberes a partir de outras dimensões e que possam refletir sobre as pluralidades e singularidades de estratégias torno do cuidado.

Palavras Chave

Cuidado. Alimentação. Transtorno do Espectro Autista. Cuidador.

Area

Alimentação e Nutrição

Autores

Viviane Santos de Oliveira, Débora Oliveira dos Reis, Juliede de Andrade Alves, Ligia Silva Amparo-Santos