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Título

UM OLHAR PARA MIGRAÇAO HAITIANA - SOFRIMENTO E ADOECIMENTO

Introdução

O Brasil, notadamente a partir do ano de 2010, vem recebendo um contingente expressivo de migrantes advindos do Haiti, que confiaram a partir de seus depoimentos as dificuldades e expectativas ao deixarem seu país, buscando concretizar novos e acalentados projetos de vida. Um fluxo migratório que se tornou expressivo a partir do ano de 2010, especialmente para os estados do Sul e Sudeste, sendo que, o estado de Mato Grosso, sobretudo, a capital Cuiabá, passou a se constituir, destino para os mesmos no ano de 2012. Em suas trajetórias de vida, mediante necessidades e inebriados por expectativas, desejos e sonhos, migram do Haiti, o que envolve perdas materiais, afetivas, pessoais e simbólicas. Portanto, a migração é um processo de mudanças de uma gama de situações, individuais, sociais e emocionais em suas vidas, a priori, difíceis de serem elaboradas. Estes migrantes tornam-se peregrinos, a procura de si mesmo, de uma morada física e existencial, de um lugar para se referenciar, sobreviver e pertencer.

Objetivos

Através de uma discussão teórica aliada a uma pesquisa de campo, buscou-se conhecer os desejos e necessidades imbuídos na decisão dos migrantes deixarem o Haiti e os principais desafios e possibilidades enfrentadas ao chegarem no Brasil, na cidade de Cuiabá.

Método

Trata-se de uma investigação exploratória desdobramento espontâneo de um estudo em desenvolvimento desde o mês de julho de 2017 para elaboração de minha tese de doutorado em Saúde Coletiva. A abordagem metodológica utilizada foram as Histórias de Vida a partir de narrativas e como técnicas: entrevistas, caderno de campo e observação. Realizaram-se dez entrevistas semi- estruturadas com imigrantes haitianos adultos (com idade igual ou superior a dezoito anos), dos sexos masculino e feminino e que se encontravam residindo na cidade de Cuiabá.

Resultados

No caso da emigração haitiana, o Brasil é um destino recente de uma tradição que se tornou substancial no início do século XX, quando, processos estruturais, históricos, políticos, econômicos e sociais passaram a influenciar grande parte a população a deixar o país. A população do Haiti enfrenta dificuldades econômicas, políticas e sociais graves, com taxa de desemprego que se aproxima a 80% e quase inexistência de serviços como os de saúde e educação. Além disso, há crise no abastecimento de água, escassez de água potável, alimentos e falta de infraestrutura e saneamento básico. Condições em que migrar para os haitianos é uma possibilidade muitas das vezes necessária, pois, vivenciavam situações que “dificultavam a sobrevivência”. Contudo, a estas condições, fez-se necessário amalgamar outros fatores que se convergem, influenciando, determinando e/o sustentando o processo, o acesso dos migrantes a ambíguas políticas migratórias e a redes de apoio sociais, institucionais e familiares, conjuntamente com as de agenciadores de viagem. A decisão de migrar também perpassa aspectos subjetivos individuais, nutridos por expectativas de no Brasil conquistarem, por exemplo: prestígio e ascensão social, aquisição de melhores possibilidades de vida, imóveis, um envelhecimento tranquilo, uma carreira de importância profissional para si e os filhos um conforto para os pais, o acesso a políticas públicas sociais, principalmente de educação e saúde, visto que no Haiti, elas são custeadas de maneira privada. Todavia, ao migrarem, mudam suas trajetórias de vida, deixando “seu lugar de pertencimento”, os quais não são somente pontos localizados em um espaço físico-geográfico, mas, construções sociais, investidos de valores simbólicos e afetivos. E, enquanto lugar de pertencimento, corresponde para Heller (1999) ao centro do mundo que cada um tem, mas não conhece seu significado até deixá-lo, quando laços, mesmo que temporariamente, são desfeitos, os materiais ao saírem de sua terra, casa, trabalho e os simbólicos ao se afastarem de seus costumes, língua, religião, além dos familiares e amigos. Também vivenciam a experiência do desenraizamento (Todorov, 1996; Weil, 2014), de ruptura, com a visão de mundo, as concepções, os valores, os comportamentos, enfim com a cultura, que até então, eram subsídio social e simbólico para a construção de sua identidade. Logo, o rompimento com o lugar de origem determina uma transformação na imagem própria, sobretudo, pelo confronto com uma ordem social distinta. O reconhecimento do eu se torna abalado com os referenciais e conteúdos desse novo mundo, almejado, mas, estranho pela distância que se impõe ao que lhe era familiar antes de sua mudança. Eles se veem forçados a procurar novas configurações de si mesmo e do mundo para sua sobrevivência, mas podem se sentirem imersos numa sociedade cujos modelos culturais não conhecem, visto que, a origem social e cultural está onipresente na constituição de si, porque nela se combinam os traços deixados no corpo, pela família, cultura, amigos, língua e religião. No Brasil, na cidade de Cuiabá, vivenciam transformações individuais, emocionais e sociais em suas vidas, esbarram-se com mundos material, cultural e socialmente desconhecidos, suportam infortúnios de várias ordens, dentre eles, dificuldades emocionais e afetivas, preconceitos, privações materiais, obstáculos em conseguir moradia, trabalho e em acessar serviços públicos que os ampare nos percalços da vida, então, como não sofrer? No novo lugar sua condição existencial poderá ou não ser transformada a depender, para Sayad (2000) do poder de significação do evento na estrutura social, ou seja, o poder simbólico presente no ato de migrar. Sobreviver, conviver com a solidão, desconstruir estereótipos, (re) construir laços sociais e afetivos, são algumas das empreitadas com as quais os mesmos em suas trajetórias se veem envolvidos.

Considerações Finais

De em um conjunto de relatos, os sofrimentos vivenciados pelos imigrantes surgem como incrustados nas estruturas econômicas e sociais, embora, as atravessem e atinjam subjetividades individuais que corporificam mal-estares, adoecimentos físicos, emocionais e psíquicos, não necessariamente evidentes. Ademais a temática “Sofrimento na Migração” convida-nos a uma reflexão que contempla campos de conhecimento na área de saúde coletiva em sua interface com as ciências sociais, médicas, econômicas, políticas, psicológicas, dentre outras, problematizando o encontro entre saberes e fazeres diferenciados. Suscitando questões que possam levar a compreensão na contemporaneidade das dinâmicas que engendram as migrações, os sentimentos, sofrimentos e adoecimentos deles decorrentes.

Palavras Chave

Migração Haitiana, Sofrimento e Adoecimento.

Area

Processos migratórios e saúde

Autores

Mariel Maróstica Fernandes, Silvia Ângela Gugelmin