Datos del trabajo


Título

PERCEPÇOES DE GRADUANDOS SOBRE SUA COMPETENCIA PROFISSIONAL: ESTUDO QUALITATIVO COM ESTUDANTES DE NUTRIÇAO DO NORDESTE E SUDESTE

Introdução

Existe no campo da formação em Nutrição, uma contradição que diz respeito às diferenças entre o que as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) esperam dos egressos dos cursos e o perfil dos profissionais que saem das Instituições de Ensino Superior (IES) no Brasil. Tais incongruências podem ser pautadas predominantemente na falta de comunicação entre as DCN, que apontam para a formação de um profissional generalista, humanista e crítico e os diversos cursos de graduação em Nutrição que ainda operam no modelo biomédico com a reprodução de um sistema de educação biologicista, compartimentalizado e hospitalocêntrico. As DCN também são objetivas ao direcionar a formação do profissional para inserção no Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse âmbito a Atenção Básica (AB) se destaca como instância mais pertinente para a viabilização desse sistema, responsabilizando-se pela resolução de grande parte dos problemas de saúde da população, sendo considerada como estruturante do serviço de saúde público brasileiro. Estudos indicam que experiências em atividades extracurriculares, projetos de extensão dialógicos e metodologias ativas de ensino vêm sendo apontadas como contributo para a formação do profissional que reflete sobre “a realidade econômica, política, social e cultural” e é capaz de “analisar os problemas da sociedade e de procurar soluções para os mesmos” conforme preconizado pelas DCN. Diante do exposto, se faz necessária a compreensão das questões que colocam o estudante como protagonista de seu processo de formação profissional e agente de mudanças, tanto em sua formação como no contexto social no qual está inserido.

Objetivos

Compreender como estudantes de nutrição de dois contextos geográficos distintos percebem seu processo formativo e identidade profissional em relação às ofertas do curso. Nessa perspectiva, este artigo visa aprofundar questões relacionadas aos deslocamentos e reorientação ligados à formação desses estudantes em ambas instituições.

Método

Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, inserido em um projeto mais amplo de pesquisa participante do Centro de Ciência e Tecnologia para Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (INTERSSAN) que se dedica ao desenvolvimento de tecnologias sociais voltadas para a temática da Segurança Alimentar e Nutricional. A questão norteadora foi gerada a partir da vivência e reflexão sobre o curso de nutrição do qual a autora faz parte, como estudante do 4o ano de graduação. Ao observar limitações do modelo biomédico de ensino durante a formação acadêmica, iniciou uma busca por caminhos de participação nas decisões acerca do seu próprio processo formativo. A hipótese de que a escassez de oportunidades para vivências extensionistas na AB contribui para a formação de profissionais pouco críticos e reflexivos impulsionou a elaboração do objeto da pesquisa. O estudo foi realizado em duas instituições de IES, no Brasil: uma do âmbito federal situada no Nordeste e outra estadual, localizada no Sudeste. A escolha desses cenários se deu em função das diferenças na consolidação e acúmulo de experiências observadas nas duas instituições quanto às iniciativas de extensão universitária. Foram entrevistados vinte estudantes, ingressantes e concluintes, dos Cursos de Nutrição das duas IES. A seleção dos sujeitos de pesquisa se deu de modo intencional, a partir de indicações e o número de participantes foi determinado pela saturação dos dados. Para a análise, foi utilizado o método de Análise do Conteúdo do tipo Temática. Inicialmente foram realizadas diversas leituras do material transcrito e a partir das leituras flutuantes foi iniciada a identificação do conjunto de significados que emergiram no processo de interpretação dos resultados. Fragmentos das narrativas foram extraídos do material digitado e agrupados em núcleos de sentido. Três principais eixos de categorias (núcleos de sentido) foram inicialmente identificados. O eixo relativo à autopercepção do estudante em relação à sua própria formação profissional, foi eleito para discussão no presente trabalho. A validação dos dados e das categorias encontradas foi realizada por três pesquisadoras envolvidas no estudo, as quais contribuíram para a organização das categorias de análise e reconhecimento dos sentidos explícitos e implícitos presentes nas narrativas, bem como para a discussão à luz da literatura e do referencial teórico do estudo.

Resultados

Dentre os resultados o eixo que diz respeito à desconstrução da identidade profissional no curso de Nutrição foi eleito para discussão no presente trabalho. Os estudantes, após o contato com o conteúdo apresentado durante o curso de Nutrição demonstraram ampliar a visão sobre os campos de atuação profissional, apontando possibilidades além da clínica e consultório particular comumente associados à pratica do nutricionista. Atividades extracurriculares, como projetos de extensão, foram citadas como contributo para compreender outras dimensões de atuação profissional e para sensibilizar o estudante para o trabalho no âmbito da AB. Além disso, o contato com a AB no inicio do curso de graduação foi apontado como responsável pela desconstrução de preconceitos dos estudantes em relação ao SUS. Currículos que tem em sua composição o cumprimento de créditos em atividades de pesquisa, monitoria e extensão contribuem para a autonomia do estudante na medida em que estimulam o protagonismo, mesmo que de maneira compulsória.

Considerações Finais

Foi possível concluir que a inserção na AB reflete positivamente na formação do nutricionista, amplia sua concepção de saúde e estimula o interesse pela saúde coletiva. Sendo assim, o diálogo constante entre a matriz curricular e o serviço são de grande valia em um contexto no qual a lógica do capital predomina em instituições de ensino superior e a defesa do modelo de saúde do SUS fica cada vez mais distante do imaginário dos estudantes da saúde.

Palavras Chave

Nutrição, ensino superior, competência profissional, formação crítica, saúde coletiva

Area

Alimentação e Nutrição

Autores

Talita Cardoso Rossi, Carla Maria Vieira, Ana Claudia Cavalcanti Peixoto Vasconcelos, Maria Rita Marques Oliveira