Datos del trabajo


Título

O reconhecimento emocional: uma pesquisa-ação com adolescentes em situação de acolhimento

Introdução

Os adolescentes afastados temporariamente de seus pais encontram-se em situação de vulnerabilidade, e trazem em sua trajetória histórias de maus tratos, pobreza extrema, abuso sexual, físicos e psicológicos, que causam graves danos sociais, psicológicos e físicos.1 Nesse sentido, ações devem ser pensadas para o desenvolvimento de competências emocionais a essa população, pois acredita-se que estes possam ficar mais aptos para lidarem com as suas emoções de forma adequada, contribuindo para uma inserção social e relação psicossocial mais saudável.2 Para tal considera-se que o reconhecimento emocional ou o desenvolvimento de competências emocionais representa um componente chave para as nossas interações sociais, capaz de auxiliar na adaptação social.

Objetivos

verificar o reconhecimento emocional de adolescentes em situação de acolhimento.

Método

Trata-se de uma pesquisa qualitativa exploratória do tipo pesquisa-ação.3 Os dados foram coletados por meio de grupos, entre fevereiro e agosto de 2017, em 8 encontros, com duração de 1h30min, que foram gravados e registrados em diário de campo, transcritos e analisados através da análise de conteúdo. Participaram do estudo 8 adolescentes, de 11 anos a 17 anos e 11 meses. Durante os encontros realizados com os adolescentes foram criadas carinhas emotivas de EVA a partir de emoções sugeridas pelos adolescentes: a Felicidade, raiva, tristeza, sonolência, pensativo e chorando. Uma vez escolhidas as carinhas emotivas eles estabeleceram cores para identificar as mesmas, as construíram, e semanalmente elegiam uma para relatar a semana. Após esse momento, os adolescentes construíam uma história/narrativa e a representavam. No último encontro foram apresentados os dados para os adolescentes que confirmaram os resultados apresentados a seguir. O estudo foi autorizado pelo Comitê de Ética, em pesquisa com seres humanos do Instituto de Ensino Superior de Londrina – INESUL, em 22/08/2016, CAAE: 60335016.8.0000.5579. Os adolescentes assinaram Termo de Assentimento e a responsável legal os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados

O estudo produziu duas temáticas: o reconhecimento de emoções básicas e as dificuldades de reconhecimento emocional. A primeira temática é apresentada pelos adolescentes durante as atividades de grupo a partir das falas, textos construídos e encenados. Neste contexto as emoções básicas identificadas foram alegria, a tristeza e a raiva por meio de falas superficiais e por vezes, controversas. Contudo, o reconhecimento dessas emoções é possível já em crianças de 03 anos de idade, demonstrando dificuldades de reconhecimento de emoções complexas esperadas para adolescentes. Os sentimentos negativos prevaleceram nas falas e narrativas criadas pelos adolescentes, demonstrando a vulnerabilidade e carência afetiva dos mesmos. A raiva embora seja a emoção de maior percepção quando questionada quanto ao seu manejo comportamental como forma de elaboração da mesma, apareceram sempre mecanismos de oposição, provocação e agressão do próximo. Durante os encontros os adolescentes apresentaram vários episódios de agressividade entre eles, a até mesmo relatos de bullying, como forma de relacionarem-se, como por exemplo na recepção de novos adolescentes ao abrigamento. A segunda temática, o não-reconhecimento das emoções, ressalta a dificuldade dos adolescentes em se expressar devido as privações e traumas vividos, evidenciado na ausência da fala por alguns momentos, e na dificuldade em expressar suas emoções, bem como relacionar com a realidade vivida. Destaca-se a discussão do grupo referente as carinhas emotivas escolhidas pelos mesmos: sonolência, pensativo e chorando, a qual revelou a dificuldade de lidar com a tristeza de uma forma mais ampla, e do quanto para uns a agressividade adquiria mais características de tristeza do que o próprio ato de chorar. As ações e comportamentos para os adolescentes pro vezes mostraram-se desconexas às emoções. Em todas as histórias elaboradas pelos mesmos, até aquela que referia-se a felicidade e momentos de alegrias, estava permeada de dor e sofrimento. Um outro ponto que se evidenciou foi a dificuldade em estabelecer relações empáticas. Por meio das encenações das histórias criadas evidenciou-se que os adolescentes são pouco reflexivos a respeito de como o seu comportamento poderia afetar as outras pessoas e, principalmente, na leitura do comportamento do outro. Dessa forma, na discussão final do grupo de reconhecimento emocional os adolescentes apontaram que o grupo possibilitou através do lúdico a reflexão a respeito de suas memórias, de suas ações e comportamentos, trazendo identificação com os personagens das histórias elaboradas e maior conhecimentos a respeito das próprias emoções e das emoções dos outros participantes, iniciando um processo de resiliência.

Considerações Finais

Considerações finais: o grupo proporcionou aos adolescentes um espaço para expor de forma mais clara suas emoções e sentimentos, bem como suas dificuldades relacionais, apontando para as fragilidades de reconhecimento emocional. Ficaram evidenciadas suas carências emocionais, a tristeza como emoção mais vivenciada e trabalhada por eles, e a alegria como relacionada a superação de momentos tristes. A relação com o bullying, com a dificuldade de reconhecer em si e nos demais as reações emocionais também receberam destaque. Dessa forma, verificou-se a necessidade do serviço estimular espaços de reconhecimento emocional para os adolescentes que se encontram em situação de acolhimento para que se possa promover saúde mental e desenvolver competências emocionais, ou seja, comportamentos mais adaptados e concientes.
1. Vectore C, Carvalho C. Um olhar sobre o abrigamento: a importância dos vínculos em contexto de abrigo. Psico. Esc. e Educ. [online]. 2008; [acesso em mar 2016] Jul/Dez;2(2):441-49. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pee/v12n2/v12n2a15.pdf
2. Arruda MJFC. O ABC das emoções básicas: Implementação e avaliação de duas sessões de um programa para promoção de competências emocionais. Um enfoque comunitário. Ponte Delgada. Dissertação [Mestrado em Psicologia da Educação] – Universidade dos Açores; 2014. [acesso em 12 mar 2016] Disponível em: https:repositorio.uac.pt/bitstream/10400.3/3365/2/DisserMestradoMarleneJesusFerreiraCarvalhoArruda2015.pdf3.
3. Tripp D. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educ pesq [online]. 2005; [acesso em 12 mar 2016] 31(3): 443-466. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n3/a09v31n3.pdf

Palavras Chave

Emoções, Enfermagem, Promoção da saúde, Adolescentes

Area

Promoção da saúde

Autores

GIMENE CARDOZO BRAGA, ANDRESSA FARIAS DE QUADROS NECKES, ROMÁRIO DANIEL JANTARA, MICHELI DE JESUS FERREIRA