Datos del trabajo


Título

TRAJETORIAS ASSISTENCIAIS DE PESSOAS COM DOENÇA RENAL CRONICA: REFLEXOS DA ASSISTENCIA NA ATENÇAO BASICA A SAUDE

Introdução

A Doença Renal Crônica (DRC) é considerada um problema de Saúde Pública passível de prevenção através do acompanhamento dos grupos de risco, como diabéticos e hipertensos, na Atenção Básica em Saúde (ABS). Entretanto, pessoas portadoras de Doença Renal Crônica ou em condições de risco de desenvolver a doença enfrentam dificuldades para receber este tipo de atendimento. Os caminhos percorridos em busca de assistência no sistema de saúde precisam ser conhecidos. Trajetória Assistencial ou “itinerário médico” corresponde à sequência de recursos de cuidados com a saúde dentro da rede de serviços disponíveis, desde o aparecimento de um problema ou doença até sua cura, estabilização ou morte. O estudo das Trajetórias Assistenciais pode ser utilizado para entender as possibilidades e escolhas dos usuários no percurso de busca por cuidados nos serviços de saúde e avaliar a rede de atenção à saúde disponível para esses usuários.

Objetivos

Compreender as trajetórias assistenciais de pessoas com DRC sob a ótica de usuários, familiares e profissionais.

Método

Pesquisa qualitativa, do tipo avaliação qualitativa em saúde. Realizada na cidade de Belém – PA, de janeiro a agosto de 2016. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, gravadas e transcritas, com pessoas portadoras de Doença Renal Crônica, maiores de 19 anos, com Diabetes Mellitus (DM) e/ou Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), usuários exclusivos do Sistema Único de Saúde, residentes em Belém-PA que haviam iniciado hemodiálise em 2015, com familiares maiores de 19 anos indicados pelos usuários e com profissionais que trabalhavam em Unidades Básicas de Saúde (UBS) das áreas adscritas. Foram utilizados dois instrumentos para cada grupo de participantes: um questionário estruturado para caracterização socioeconômica e um roteiro de entrevista semiestruturado. Realizada Análise de Conteúdo na modalidade temática. Foram seguidos os seguintes procedimentos metodológicos: categorização e codificação, inferência e interpretação dos resultados. Este estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Pará (UEPA), sob parecer nº 1.111.474.

Resultados

Foram entrevistados 11 portadores de DRC, 11 familiares e 15 profissionais de saúde. Dos usuários, cinco eram mulheres e seis eram homens, na faixa etária de 43 a 71 anos. O fluxo de atendimento e a percepção do cuidado descritos pelos entrevistados demonstraram diversas situações classificadas em três Trajetórias Assistenciais: 1) Não procurou a Unidade Básica de Saúde: esses pacientes eram portadores de HAS, mas não eram cadastrados nos programas de controle de doenças crônicas (Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial Sistêmica) nas UBS. A porta de entrada para o sistema de saúde foi o nível terciário, demonstrando uma inversão na direção do atendimento que deveria começar na ABS. Para esses entrevistados, a UBS não representou um lugar de cuidado. Muitos demonstraram acreditar que o atendimento ofertado não era de qualidade, bem como relataram demora e dificuldade no atendimento. Além disso, o fato de não terem um acompanhamento na UBS corroborou para que o diagnóstico de DRC fosse feito tardiamente, mesmo quando já havia urgência dialítica; 2) Procurou a Unidade Básica de Saúde, mas não recebeu o diagnóstico: eram acompanhados por profissionais da ABS, mas o atendimento dispensado para o controle e acompanhamento de HAS e/ou DM não possibilitou prevenção nem diagnóstico precoce de complicações como a DRC. Embora acompanhados pela ABS, os usuários procuraram atendimento em serviços de urgência, iniciando hemodiálise em ambiente hospitalar, onde receberam o diagnóstico da DRC. Enquanto esperavam por vaga para hemodiálise nas clínicas especializadas, os usuários permaneceram internados nos serviços hospitalares. Ao iniciarem a hemodiálise, o acompanhamento dos usuários pela ABS foi interrompido; 3) Recebeu diagnóstico na Unidade Básica de Saúde e foi encaminhado para a especialidade: os usuários dessa trajetória receberam cuidados voltados para o controle de HAS e DM, foram diagnosticados como portadores de DRC e encaminhados, em momento oportuno, para o especialista. Porém, mesmo assim, iniciaram a terapia renal substitutiva com sintomas graves da doença, por falta de vaga em clínicas especializadas para o procedimento. Apesar de permaneceram em tratamento na atenção secundária por um longo período, mantiveram o vínculo com a UBS. Porém, após o início da hemodiálise, não procuraram mais, nem foram procurados pela equipe da atenção básica.

Considerações Finais

O fluxo de atendimento aos portadores de DRC nas redes de atenção à saúde foi irregular, originando diferentes trajetórias assistenciais. A falta de vinculação esteve presente mesmo quando os pacientes já eram acompanhados pelas equipes da Estratégia Saúde da Família. Usuários e familiares, em geral, não perceberam a ABS como lugar de cuidado para a DRC e não procuram as Unidades Básicas de Saúde, especialmente depois do diagnóstico. Por outro lado, os profissionais da ABS também não se sentiram responsáveis pelo paciente em qualquer fase da DRC, embora atendam pessoas com grande vulnerabilidade para essa doença, como diabéticos e hipertensos, com o papel de realizar medidas de prevenção e diagnóstico. Observou-se uma rede de atenção fragmentada, onde a Atenção Básica não desempenhou a função de coordenadora da atenção à saúde e ordenadora da rede para a maioria dos usuários portadores de doença que participaram da pesquisa.

Palavras Chave

Doença Renal Crônica, Atenção Básica à Saúde, Trajetórias Assistenciais.

Area

Saúde Coletiva

Autores

Maria de Jesus Rodrigues de Freitas, Clarice Maria Ribeiro de Paula Gomes, Zeni Carvalho Lamy