Datos del trabajo


Título

O CONTEXTO DE SAUDE DE IMIGRANTES HAITIANAS EM UM MUNICIPIO DO OESTE CATARINENSE

Introdução

Nos últimos anos houve um grande aumento nos fluxos migratórios, trazendo consigo uma mudança significativa que coloca em pauta a questão da igualdade e direitos humanos no âmbito das migrações. Nesse contexto, o crescente número de mulheres que estão migrando aponta para a feminização da migração, sendo uma das principais características da nova era migratória. Em alguns países, o número de mulheres chega a igualar-se aos homens, e em algumas regiões é ainda maior, conquistando cada vez mais espaços nos países receptores. As mulheres são consideradas como fonte de recursos humanos alternativos de desenvolvimento tanto do país de origem quanto no receptor. Esse fenômeno também foi possível observar no oeste de Santa Catarina, havendo um fluxo considerável de imigrantes de diversas nacionalidades principalmente a haitiana. Ocorrendo devido a oferta de empregos, especialmente no setor agroindustrial e construção civil. Marcado por três momentos: inicialmente chegaram os homens, seguidos por mulheres e esposas e por último a vinda de familiares e/ou filhos. Todo esse movimento migratório trouxe inúmeras situações de adaptação aos imigrantes, especialmente no âmbito da saúde, devido às barreiras na comunicação e diferenças culturais. Reconhece-se também a discriminação social e econômica a qual este grupo está sujeito, expondo-os a diversas formas de violência, nas quais refletem nas desigualdades em saúde. Para as mulheres, o processo migratório envolve diversos fatores que repercutem significativamente na sua condição de saúde devido às grandes mudanças nos aspectos sociais e econômicos, a qualidade no acesso aos cuidados de saúde e mudanças no status social.

Objetivos

Analisar como se configura o contexto de saúde da mulher imigrante haitiana no município de Chapecó, Santa Catarina.

Método

Trata-se de um recorte de dados oriundos de uma dissertação de mestrado que encontra-se em andamento. Para investigação dessa realidade optou-se pela etnografia, na qual permite analisar as estruturas e a interação entre elas, onde o cenário da pesquisa coloca o pesquisador e os participantes da pesquisa em constante interação. Nesse processo, o pesquisador emerge no cenário pesquisado por meio das relações que vão se estabelecendo ao longo da sua inserção nesse contexto. As participantes da pesquisa são mulheres imigrantes haitianas, no período gestacional ou puerperal e que tiveram a experiência da maternidade no Brasil, e realizado acompanhamento pré-natal e puerperal na Atenção Básica (AB). O acesso às participantes se deu através das Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município e o contato inicial por meio de Agentes Comunitários de Saúde (ACS). No total foram 10 participantes. Para a coleta de dados utilizou-se a observação participante, realizada na residência das mulheres por meio de visitas semanais com duração entre 2 a 3 horas, assim como entrevistas semi-estruturadas.

Resultados

Identificou-se o esforço por parte dos profissionais em assegurar o acesso aos serviços de saúde previstos na Política Nacional de Atenção à Saúde da Mulher, mesmo diante da dificuldade na comunicação e das barreiras culturais. Constatou-se que o ACS é imprescindível na constituição do vínculo entre as haitianas e equipes de saúde. A Política Nacional de Atenção Básica prevê esse nível assistencial como principal porta de acesso ao Sistema de Saúde, considerando os ACS como interlocutores entre a comunidade e os serviços de saúde. As participantes apontaram aspectos positivos dos serviços de saúde no Brasil quando comparados com os serviços do país de origem, especialmente em relação a gratuidade e agilidade no atendimento. Elas tendem a seguir ordenadamente as orientações em torno dos cuidados pré-natal e puerperal, intercalando entre as práticas repassadas pela equipe de Saúde da Família com os saberes trazidos consigo de sua terra natal. As mulheres não descreveram situações de preconceito ou discriminação ao acessarem os serviços, entretanto, através da observação nos espaços de cuidados foi possível perceber situações discriminatórias pelo fato de o atendimento ser com um imigrante. Alguns profissionais de saúde também relataram ter identificado situações de negligência com esse público, apontando para uma realidade complexa devido à problemas de comunicação, diferenças culturais e racismo velado. Alguns profissionais apresentaram-se insatisfeitos em atender as haitianas devido às demandas além das programadas com esse público, culpabilizando as mulheres por não ter o conhecimento do português. Tais atitudes refletem, muitas vezes, um posicionamento de soberania do profissional perante as haitianas por não dominarem a cultura e a língua local. Ademais, as mulheres relataram situações de discriminação no contexto laboral como um dos principais precursor de atos contra a integridade moral e psicológica. Devido ao estresse que essas situações envolvem e influenciam diretamente na qualidade de vida e bem estar das haitianas, apontando para uma baixa perspectiva de crescimento profissional.

Considerações Finais

A investigação expõe uma realidade com diversas problemáticas, mesmo assim, percebeu-se satisfação por parte das mulheres em relação aos serviços de saúde prestados. Um dos desafios identificado é a inserção de maneira efetiva e justa das haitianas na sociedade brasileira, valorizando as potencialidades que possuem, sejam elas no âmbito dos cuidados assim como nos diversos contextos nos quais estão inseridas. Sendo assim, é importante considerar as situações de discriminação que acabam dificultando a integração social das mulheres imigrantes, alimentando um sentimento de não pertencimento à nossa sociedade, exilando-as em sua diáspora.

Palavras Chave

Migração e saúde; Saúde da Mulher Imigrante; Cuidados em Saúde.

Area

Processos migratórios e saúde

Instituciones

Universidade Comunitária da Região de Chapecó - UNOCHAPECÓ - Santa Catarina - Brasil

Autores

Kethlin Carraro MOMADE, Regina Yoshie MATSUE