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Título

RESILIENCIA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇAO DE VIOLENCIA DOMESTICA: LINHA DE CUIDADO E SUPORTE EMOCIONAL DO RESPONSAVEL COMO PROTEÇAO

Introdução

A violência tornou-se o desafio do século, difundida em todas as camadas da sociedade, impactando diretamente na saúde dos indivíduos. Os custos econômicos e sociais gerados para o Estado e, para as famílias são altíssimos. A Violência junto com acidentes corresponde à terceira causa de mortalidade na população geral e a primeira entre crianças/adolescentes1. Em relação a violência intrafamiliar verificam-se dados preocupantes: uma em cada quatro crianças sofre violência física e uma em cada cinco meninas já foi vítima de abuso sexual2. Entretanto, não se tem ainda uma dimensão clara do impacto da violência e da miséria material, emocional e cognitiva na vida das pessoas, principalmente quanto aos aspectos psicossociais e subjetivos3,4. A exposição de crianças e adolescentes a fatores de risco, como a violência doméstica podem desencadear transtornos mentais precoces3,4,5. Os estudos sobre a resiliência têm contribuído amplamente nas áreas de promoção de saúde e linha de cuidado infanto-juvenil6,7. O constructo resiliência pode ser definido como um estado que descreve o processo que determinado indivíduo enfrenta e consegue superar, advindo de fatores externos/adversos, de caráter transicional. Modificações que ocorrem na rede de apoio social podem ter um impacto significativo na capacidade de superação do sujeito. Por isso, é necessário estudar a resiliência explorando todas as suas faces dentro de um determinado contexto, ressaltando a necessidade de compreendê-la como um processo1,6,7.

Objetivos

Esse estudo teve como objetivo conhecer o processo de resiliência em crianças/adolescentes (9-16 anos) vítimas de violência doméstica e a dinâmica dessas famílias, acompanhados em Serviços Especializados e; conhecer a rede de proteção e linha de cuidado nas quais essas famílias em situação de violência doméstica estão inseridas.

Método

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, sendo sujeitos desse estudo 15 famílias em situação de violência doméstica (denunciadas no Conselho Tutelar por violência doméstica contra criança/adolescente), acompanhadas em Serviços Especializados. A seleção da amostra foi intencional, as famílias foram elencadas de acordo com a gravidade das situações de violência (1-Maior gravidade; 2-Gravidade intermediária; 3-Menor gravidade) e, divididas em três grupo compostos por cinco famílias. A partir desse critério, selecionou-se uma família por região (cinco) em cada um dos grupos por gravidade, buscando contemplar todas as faixas etárias (9-16 anos). Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com essas famílias, com os responsáveis e com as crianças/adolescentes em questão.
Elaborou-se um roteiro de entrevista, com hipóteses iniciais criadas a partir de estudos bibliográficos. Novas hipóteses foram surgindo ao longo das entrevistas. Utilizou-se a técnica de anotação durante a entrevista, que foi redigida ao seu término. A partir dos temas que emergiram ao longo das entrevistas, foram construídas quatro categorias de análise.

Resultados

A violência doméstica e as consequências emocionais nas crianças/adolescentes: a partir da análise qualitativa sobre as histórias de vidas dos sujeitos que participaram desse estudo, verificou-se consequências emocionais severas desencadeadas pela violência doméstica. Entretanto, essas não estão relacionadas, necessariamente, ao tipo de violência sofrida. O principal agravante pode estar relacionado a gravidade das formas de violência e ao tempo de exposição a tais situações. Nos casos elencados como de maior gravidade, verificou-se que as crianças/ adolescentes das famílias haviam vivenciado quase ou, todas as formas de violência, principalmente os filhos mais velhos. Nos casos 1 e 4 as adolescentes sofreram violência física, psicológica, sexual e negligência. No caso 2, 3 e 5 os sujeitos sofreram todas as formas de violência, com exceção da sexual. Nos casos apresentados como intermediários ou os considerados menos graves verificou-se que as crianças e adolescentes vivenciaram uma ou duas formas de violência diferentes, estiveram expostas um tempo menor a tais situações e essas, ocorreram de formas mais brandas, principalmente nos casos de menor gravidade.
O papel das figuras de proteção na construção da resiliência: pode-se afirmar que a existência de uma figura protetiva que acredite e proteja a criança das situações de abuso ou violência são necessárias para evitar o agravamento de problemas emocionais e contribuir para o desenvolvimento da resiliência. Nos casos de gravidade intermediárias (7, 9 e 10) as genitoras acreditaram nos relatos das crianças sobre o abuso sexual e separaram-se dos maridos (abusadores sexuais), protegendo os filhos. No caso 6, a responsável exerceu um papel de cuidado/proteção com as filhas e sobrinhas, apesar de algumas dificuldades, após a morte de sua irmã (mãe das sobrinhas) e de seu marido (pai das filhas). Nos casos de menor gravidade pelo menos um dos genitores e/ou outras figuras de apoio foram apontada como referência de suporte, como relatou Marcos (caso 11): “posso contar principalmente com minha mãe, meu irmão Miguel e meus amigos”.
A miséria emocional, afetiva e social dos responsáveis: pode ser observada nos casos de maior gravidade, gerou um maior risco de adoecimento psíquico em crianças/adolescentes e ocasionou limitações na construção da resiliência dos mesmos.
A rede de proteção (educação, assistência social e saúde) como referência de suporte para as famílias em situação de violência: os responsáveis relataram contar com serviços como a assistência social e a saúde. No caso 5, a tia/guardiã relatou: “É no Centro de Saúde do meu bairro que eu faço tratamento para depressão”. Para as crianças/adolescentes a família foi a principal fonte de cuidados físicos e emocionais, mas os profissionais da educação também foram apontados como referência na maioria dos casos. Como pode ser observado nos relatos dos sujeitos (caso 4), Davi-12 anos, vítima de negligência de cuidados e abandono do genitor disse: “posso contar com a minha mãe, mas também converso bastante com a minha professora Maria, lá da escola...”.

Considerações Finais

A violência doméstica ocorre associada a inúmeros fatores de risco que aumentam as possibilidades de desenvolvimento de transtornos mentais precocemente. Identificou-se como um dos principais aspectos que compõe a resiliência enquanto proteção para o adoecimento emocional, a criança/adolescente poder perceber que existe alguma pessoa com capacidade emocional para protegê-los em situações de violência doméstica ou adversas. A miséria afetiva e social dos responsáveis gera um maior risco de adoecimento em crianças/adolescentes e impede o desenvolvimento da resiliência. A rede de suporte para a família deve ser o foco principal das ações de cuidado nesta.
Referências:

Palavras Chave

Resiliência; Criança; Adolescente; Violência Doméstica; Saúde Mental; Atenção à Saúde; Fatores de Risco; Fatores de Proteção

Referências Bibliográficas
1. Brasil. Ministério da Saúde. Impacto da Violência na Saúde das Crianças e adolescentes: Prevenção de violências e promoção da cultura de paz. Brasília: Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas, área técnica da saúde da criança e aleitamento materno; 2010. 16p. [cited 2018 Março 8]. Available from http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/impacto_violencia_saude_criancas_adolescentes.pdf
2. OMS–Organização Mundial de Saúde. Relatório Mundial Sobre a Prevenção da Violência 2014. São Paulo/SP/Brasil: Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo; 2014. [cited 2018 Março 8]. Available from apps.who.int/iris/bitstream/10665/145086/5/9789241564793_por.pdf
3. Assis SG, Avanci JQ, Pesce RP, Ximenes LF. Situação de crianças e adolescentes brasileiros em relação à saúde mental e à violência. Ciênc saúde coletiva. 2009;14(2): 349–361.DOI: 10.1590/S1413-81232009000200005
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6. Garcia SC. Risco e resiliência em escolares: um estudo comparativo com múltiplos instrumentos [Tese de Doutorado]. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos; 2008. 166p.
7. Reppold CT, Mayer JC, Almeida LS, Hutz CS. Resilience assessment: controversies about the use of scales. Psicol Refl Crít. 2012; 25(2): 248–55.

Area

Violências e Saúde

Autores

Maria de Lurdes Zanolli, Natalia Amaral Hildebrand, Eloisa HR Valler Celeri, André Moreno Morcillo