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Título

A OBESIDADE NA CONTEMPORANEIDADE: A VIVENCIA DE MULHERES NA IMINÊNCIA DA CIRURGIA BARIÁTRICA

Introdução

A existência da mulher, enquanto gênero socialmente definido, tem sido atrelada ao ideal de beleza, artificialmente produzido na conjuntura contemporânea. O corpo da mulher, como construção social, está ligado ao modo como ela organiza sua subjetividade, impondo uma adequação ao modelo de corpo induzido pelo apelo midiático, predispondo à vivência de um vazio existencial que atende ao que lhe é imposto, perdendo o que lhe é original e particular. A partir desta perspectiva, ser mulher e ser obesa, nas estruturas vigentes da sociedade ocidental, carrega significados sociais subestimados ou até ignorados nas práticas de cuidados da saúde. Diante dessas lacunas de investigação, este estudo foi estruturado a partir da seguinte pergunta balizadora: “Como mulheres vivenciam a obesidade, o corpo em excesso, o modelo de beleza e a perspectiva de emagrecimento na iminência da cirurgia bariátrica?”.

Objetivos

O objetivo estudar a relação que se estabelece entre gênero e emagrecimento, buscando compreender a vivência de mulheres na iminência da cirurgia bariátrica, ao explorar suas experiências e percepções frente a si e ao papel que sociedade lhe impõe.

Método

O emprego da abordagem qualitativa é justificado pela importância de explorar as dinâmicas sociais envolvidas na obesidade e a busca por entender os fenômenos e seus significados no ambiente natural. A pesquisa qualitativa se aplica ao estudo da experiência humana, considerando o contexto histórico e cultural no qual os indivíduos estão inseridos. Nessa perspectiva, o estudo adota como método de análise dos dados a linha de raciocínio compreensivista/interpretativa.
O referencial metodológico empregado foi a análise de conteúdo interpretativa, que requer imersão e engajamento ao material a ser analisado, que permite ultrapassar resultados descritivos, e/ou provenientes do senso comum e alcança uma visão crítica sobre o tema de estudo.
O material analisado provém da transcrição em verbatim, da gravação audiovisual de uma reunião de encerramento de um grupo de mulheres em acompanhamento nutricional, pré-operatório, em ambulatório de cirurgia bariátrica. O vídeo tem a duração de 67 minutos e sua transcrição resultou em um conjunto de registros com aproximadamente 30 laudas. Esse vídeo foi produzido por uma equipe de pesquisa, como material complementar de um estudo prospectivo de intervenção nutricional, com duração de seis meses (ano de 2014), com mulheres em fila de espera para realização de cirurgia bariátrica na Clínica Bariátrica de Piracicaba (SP).
A análise dos dados está em fase preliminar. Até o presente momento, foram realizadas as seguintes etapas: 1) imersão, engajamento e transcrição em verbatim do material; 2) leitura flutuante; e 3) identificação dos eixos de análise.

Resultados

No decorrer dos seis meses em que aconteceram as reuniões grupais, foi estabelecido vínculo importante entre as mulheres, sejam elas participantes ou condutora do grupo. Esse entrosamento é evidenciado pela boa adesão e participação ativa no grupo, como também na adesão as orientações alimentares tratadas, que eram concernentes ao período que precede a realização da cirurgia bariátrica. Esses fatores foram observados no decorrer da transcrição em verbatim do material.
Eixos norteadores foram identificados na condução da reunião, que originou o material analisado. São eles: os significados do peso e emagrecimento; as motivações para realizar a cirurgia bariátrica; e as expectativas após a cirurgia bariátrica; as dificuldades enfrentadas na mudança de estilo de vida; a importância da rede de apoio no enfrentamento à obesidade. Este resumo restringe-se à análise preliminar dos três primeiros eixos norteadores.
A obesidade representa uma barreira social em “ser mulher” na vivência de mulheres obesas.
“Dentro de casa eu ouvia vaca gorda, sua vaca gorda! Ah por que lá fora tem, lá fora tem, o que eu vejo nas mulheres lá fora eu não vejo em você aqui dentro de casa. Que é o corpo né, ele me humilhava muito.”
O casamento heteronormativo, a maternidade, o trabalho doméstico (limpeza, preparo do alimento, etc.), e a beleza, compõem o papel de gênero imposto socialmente à mulher. Qualquer desvio deste padrão, é um potencial precursor de sofrimento psico-social, dado que a sua feminilidade é inferiorizada, corroborando para a objetificação e desqualificação humana da mulher.
Contudo, é no ideal de magreza, que a objetificação do corpo da mulher atinge o seu ápice. Contemporaneamente, ser magra é uma condição essencial na construção do ideal de beleza, que por sua vez é um pressuposto para a validação da condição humana da mulher. A partir do momento que não se é magra/bonita, deixa-se de ser humana (tribufu, vaca).

A iminência da cirurgia bariátrica carrega significado paradoxal, a obesidade versus magreza, a feiura versus beleza, a tristeza versus felicidade, os problemas versus soluções. A vivência de ser gorda, e as expectativas da conquista da magreza, são resgatadas pelas mulheres em diversos momentos da reunião.
Partindo da perspectiva de gênero, a cirurgia bariátrica se apresenta como dispositivo de aperfeiçoamento da vivência social da mulher. A mulher acredita que com o emagrecimento, consequente da cirurgia bariátrica, ela poderá desempenhar as atividades a ela incumbida de maneira aperfeiçoada.
“Sabe, eu preciso, eu quero viver, quero ver meu filho crescer, quero ir no quarto, sentar com o meu filho, levantar, eu quero limpar a minha casa direito. Eu não conseguia limpar a minha casa, não é grande, mas eu não conseguia. Eu quero colocar uma roupa bonita, quero ficar do jeito que eu era, se olhar, sabe.”
Ser magra assume caráter central dentre as atribuições impostas à mulher, visto que o desvio deste padrão desqualifica a condição humana da mulher.
“depois que a gente fizer a cirurgia, a gente vai continuar tendo acompanhamento aqui né? Porque se não tiver no outro mês já estaremos tribufu de novo”

Considerações Finais

Bem maior que o peso físico é dor de carregar um corpo obeso e só quando se tem a oportunidade empática de aproximação subjetiva é possível compreender o tamanho dessa dor. Da dor de quem não se percebe e de fato não é aceita como tal. Assim, acima de tudo, o emagrecimento pela cirurgia surge como promessa de aceitação e competência social.

Palavras Chave

Mulher, obesidade, cirurgia bariátrica, sexualidade, pesquisa qualitativa

Area

Saúde da Mulher

Instituciones

Centro de Ciência, Tecnologia e Inovação para Soberania Segurança Alimentar e Nutricional - INTERSSAN - São Paulo - Brasil, Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP - São Paulo - Brasil

Autores

SUELEN FRANCO, Carla Maria Vieira , Maria Rita Marques Olivera