Datos del trabajo


Título

RAÇA E GENERO NAS POLITICAS PUBLICAS DE SAUDE

Introdução

O presente estudo está integrado a uma pesquisa maior, realizada pelo grupo INTERVIRES – Pesquisa-Intervenção em Saúde Mental, Políticas Públicas e Cuidado em Rede –, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a qual se debruça sobre o tema “Experiências Urbanas e Produção do Comum: modos de vida e invenção em tempos de intolerância”. Analogamente aos objetivos da pesquisa em curso, a investigação aqui discutida visa acompanhar grupos que compartilham experiências com determinados modos de exclusão, bem como modos de resistência na cidade. Proponho esta costura-escrita a partir da articulação da Psicologia com o campo das políticas públicas, em um tema que vem demandando um olhar atento às composições do que socialmente é (re)produzido a partir das relações de gênero e étnico-raciais. Com perspectiva rizomática, o tom deste trabalho não garante um ponto de origem na história, mas valoriza acontecimentos que sinalizam deslocamentos do que possa ter-se cristalizado como universal, natural, impedindo interrogações.

Objetivos

Deleuze e Guattari (1995) diriam que qualquer ponto de um rizoma pode ser conectado a qualquer outro. Entender como estes dois marcadores sociais – raça e gênero - se relacionam com processos de exclusão e descuidado das mulheres em nossa sociedade é o mote deste trabalho. O que se constrói como pergunta a partir daí é: como as categorias de raça e gênero produzem os (des)encontros entre as políticas públicas de saúde e as mulheres?

Método

A aposta metodológica ao delineamento do campo de pesquisa sustenta-se na cartografia, que, sem a pretensão de procedimentos pré-estabelecidos, propõe-se a dar passagem ao plano da experiência. Neste plano os traços desenham uma paisagem que continuamente se modifica, colocando em questão “as hierarquias e fronteiras que dividem os campos de conhecimento e propõe-se fazer uma recriação permanente do campo investigado” (ZAMBENEDETTI; NEVES, 2011, p. 457). O campo possível para encontro de pessoas com experiências de vida marcadas pela exclusão e violência em decorrência de gênero e raça é a Ocupação Mulheres Mirabal, que desde 2016 vem acolhendo mulheres em situação de violência e vulnerabilidade social. Para a realização dos encontros tem-se a proposta da oferta de oficinas a serem desenhadas junto a estas mulheres, a partir de suas demandas.

Resultados

Tratando-se de uma etapa inicial de pesquisa, entre alguns dos resultados obtidos através dos referenciais bibliográficos, encontra-se o contexto de colonização das Américas, mais especificamente a América Latina, onde aparece o regime escravocrata que, durante 300 anos, legitimou a exploração, violência e dizimação de povos e etnias inteiras. Não obstante o Brasil ter sido o último país das Américas a abolir a escravatura, carregamos uma história de descaso sem precedentes em relação à população recém liberta do regime escravocrata, que se atualiza em formas insidiosas de racismo agravado na população de mulheres. Até o momento observa-se que, embora tenhamos avanços de conquistas em decorrência das medidas democráticas e de busca de equiparação da desigualdade racial, a sociedade brasileira segue lentamente em termos de reconhecer-se como é: uma nação fundada sob a égide do racismo. As narrativas de autoras como Vilma Piedade, Jurema Werneck, Carolina Maria de Jesus, naquilo que trazem de contestação a uma história universal, permitem levantar suspeitas de noções tão bem conhecidas acerca de um sujeito padrão, normativo, fazendo rupturas nos modos de pensar, existir e produzir conhecimento. Tais leituras abrem, portanto, conexões a relações de multiplicidade. Assim, Piedade (2017) nos conta acerca dos contextos de vida das mulheres negras no Brasil, destacando seu conceito chamado “dororidade”, o qual apresenta as marcas de um sofrimento e de sua especificidade. Também trabalhando com a intersecção entre gênero e raça, esta feminista negra estuda como nossa sociedade reatualiza as heranças coloniais e afirma: “A escravidão deixou marcas profundas, marcas que ainda vivenciamos. (...) violentou nossos direitos, nossa língua... (...) E, como não poderia ser diferente, veio junto com a colonização.” (p. 19)
Conclui-se, neste processo inicial, que a partir de heranças coloniais, as políticas de saúde acabam por promover práticas de descuidado ao negligenciar as especificidades que compõem os contextos de vida quando se trata da saúde das mulheres.
Este trabalho propõe, portanto, à realização de um mapeamento da produção de desencontros entre as mulheres e as políticas públicas, enfatizando um recorte às políticas de saúde, com o objetivo de dar visibilidade aos jogos de forças que desenham lógicas coloniais presentificadas em modos de subjetivar-se mulher no contemporâneo.

Considerações Finais

(In)Concluo afirmando que, diante de índices de extermínio da população negra, somado ao desmonte de políticas públicas e ao recrudescimento de lógicas fascistas nos últimos tempos, esta pesquisa orienta-se na direção daquilo que ainda vibra frente à suspeita da emergência de uma certa descolonialidade.

Palavras Chave

Raça; Gênero; Políticas Públicas de Saúde; Cartografia

Area

Saúde da Mulher

Autores

Carolina Nunes Ramos