Datos del trabajo


Título

“ANTES EU ME VIA COMO UM BOTIJAO DE GAS, AGORA EU VEJO UMA PESSOA”: PROMOVENDO ACEITAÇAO CORPORAL E RESPOSTAS AO ESTIGMA RELACIONADO AO PESO CORPORAL EM MULHERES BRASILEIRAS GORDAS.

Introdução

A obesidade é um problema de saúde pública, devido a doenças associadas e sua alta prevalência global e, nestede interesse para este estudo, no Brazil. Apesar de sua alta prevalência, a obesidade é altamente estigmatizada e as pessoas gordas sofrem muitas formas de preconceito. Goffman descreveu o estigma como um atributo que desacredita e desqualifica profundamente uma pessoa da aceitação social plena. Esta questão emana de interações sociais onde o "desviante" é rotulado como aquele que se distancia daqueles que são supostamente "normais". Uma vez atribuído, o recurso de estigmatização valida várias discriminações sociais, depreciações e exclusões. Brewis definiu o estigma relacionado ao peso corporal como “o descrédito moral ou 'morte social' que as pessoas experimentam devido aos significados sociais negativos ligados ao excesso de peso ou obesidade” (como preguiça e falta de autocontrole, força de vontade, motivação, disciplina, competência, inteligência e conformidade). Pesquisas mostraram que o estigma relacionado ao peso corporal é prejudicial para a saúde física e mental e vida social e pode contribuir para a perpetuação da obesidade. Estratégias voltadas a reduzir o estigma relacionado ao peso corporal e/ou ajudar as pessoas a lidar com isso tornaram-se de suma importância, tanto do ponto de vista clínico quanto científico. Os trabalhos da abordagem do Health at Every Size® (HAES®) foram inicialmente desenvolvidos para leigos e focados na promoção de comportamentos saudáveis para pessoas com diferentes tamanhos corporais. Um dos princípios do HAES® incentiva o desenvolvimento de uma imagem corporal positiva e a aceitação da diversidade corporal.
Alguns estudos mostraram que as intervenções baseadas no HAES® podem diminuir a insatisfação corporal, mas esse construto não é igual à aceitação corporal e não indica como os participantes começaram a lidar com o estigma. Além disso, novos autores contribuíram para a abordagem, afirmando que ela promove a aceitação corporal como uma orientação para o tratamento e o ativismo e uma chave para reduzir o estigma relacionado ao peso corporal. Não obstante, as críticas feitas pelos sociólogos à abordagem HAES® - como o distanciamento de questões socioculturais - mostraram que ela poderia ser melhorada.

Objetivos

O objetivo deste trabalho foi analisar qualitativamente os efeitos de uma intervenção HAES® intensificada e recentemente desenvolvida, compreendendo aconselhamento nutricional, atividade física e oficinas filosóficas, em comparação com uma intervenção tradicional baseada na abordagem HAES®, sobre a aceitação corporal e nas respostas ao estigma relacionado ao peso corporal em mulheres brasileiras gordas.

Método

Este estudo faz parte de um ensaio clínico de 7 meses, randomizado, controlado, de métodos mistos (Estudo Saúde e Bem-Estar na Obesidade). Para os fins deste artigo, usamos apenas dados qualitativos. As participantes da nova intervenção (I-HAES®, n = 26) foram envolvidas em um programa de atividade física. sessões de aconselhamento nutricional e oficinas filosóficas, todos alinhados com os princípios do HAES®. O grupo de controle (CTRL, n = 13) participou de um programa tradicional baseado na abordagem HAES®, em formato de grupo, caracterizado por palestras bimestrais sobre os mesmos temas oferecidos ao grupo I-HAES®: a adoção de um estilo de vida saudável. Após o período de 7 meses, realizamos entrevistas semi-estruturadas em profundidade com participantes de ambos os grupos. As entrevistas foram analisadas por análise exploratória de conteúdo.

Resultados

O grupo I-HAES® foi caracterizado por um movimento em direção aos temas mais relacionados à aceitação corporal, como “Aceitar o corpo”, “Fazer novas coisas”, “Sentir mais bem-estar”, “Perder peso como processo” e “Sentir-se bem com as roupas". O foco do tema “Aceitar o corpo” foi a mudança na forma como as participantes viam e percebiam seus corpos e elas próprias. Em relação às respostas ao estigma, esse grupo foi caracterizado por respostas que de alguma forma se opuseram ao estigma, identificado pelos temas “Não se importar”, “Afirmar-se”, “Lidar de maneira diferente” e “Confrontar o estigma”.
O grupo CTRL caracterizou-se por uma tendência para os temas de "não aceitação", como "Desprezar o corpo" e "Sentir-se mal com as roupas". Os temas “Fazer coisas novas” e “Sentir-se bem com as roupas” não foram identificados entre esse grupo. Quanto às respostas ao estigma, esse grupo caracterizou-se por uma tendência a temas que não se opunham ao estigma da gordura, como “Sentir-se mal” e “Concordar com o estigma”, com exceção do tema “Não se importar”. Os temas “Afirmar-se” e “Confrontar o estigma” não foram identificados neste grupo.

Considerações Finais

Em suma, a intervenção HAES® intensificada e recentemente desenvolvida promoveu uma mudança em direção à aceitação do corpo e a respostas proativas ao estigma relacionado ao peso corporal. Enquanto os programas tradicionais baseados na abordagem HAES® são capazes de promover importantes benefícios relacionados à saúde, nossos resultados sugerem que essas intervenções devem ser complementadas com abordagens adicionais para lidar efetivamente com a aceitação corporal e com o estigma relacionado ao peso corporal em mulheres gordas. Nesse sentido, esforços devem ser envidados para colocar essas ações em prática clínica.

Palavras Chave

estigma, obesidade, mulheres

Area

Saúde da Mulher

Autores

Fernanda Scagliusi, Mariana Ulian, Bruno Gualano, Odilon Roble, Ramiro Unsain, Priscila Sato, Cindi SturtzSreetharan, Alexandra Brewis, Amber Wutich