Datos del trabajo


Título

A VIVENCIA DO ALEITAMENTO MATERNO EM UM CONTEXTO DE VIOLENCIA POR PARCEIRO INTIMO NA VOZ DE PUERPERAS

Introdução

No estudo populacional realizado por Silverman et al.1 sobre o efeito da VPI antes ou imediatamente após a gestação na prática do aleitamento pôde verificar que a VPI, independentemente do período em que ocorre, antes ou após a gestação, diminuía sutilmente o início do aleitamento e contribuía para cessá-lo mais rapidamente. Fato semelhante foi observado no estudo longitudinal desenvolvido por Nakano2 com 315 puérperas da região de Ribeirão Preto (SP), no qual se concluiu que as participantes que não sofreram violência tiveram quase três vezes mais chance de manter o aleitamento materno exclusivo (AME) com 30 dias quando comparadas as que sofreram. Da mesma forma que as mulheres que não sofreram violência física tiveram 3,5 vezes mais chance de manter o AME com 30 dias. No entanto, a análise da confiança materna para amamentar e a sua relação com a violência por parceiro íntimo (VPI) não se demonstrou estatisticamente significativo. Desse modo, e diante da baixa produtividade literária acerca desta temática na vertente qualitativa1,3-10 e tendo em vista a necessidade de estudos acerca da temática VPI no ciclo gravídico-puerperal, com destaque para a fase do AM devido a carência de estudos sobre o assunto, tanto em âmbito nacional, como apontado por Lourenço e Deslandes9, quanto internacional, como mencionado por Devries et al.11, é que se propõe o presente estudo a fim de se identificar e entender as vivências maternas da amamentação no contexto de VPI em maior profundidade.

Objetivos

Entender as vivências da amamentação e sua relação com a situação de VPI.

Método

Trata-se de estudo qualitativo, que teve como referenciais teóricos a Dominação Masculina e o Poder Simbólico, de Pierre Bourdieu; em relação à metodologia, os dados foram tratados por meio do Método da Interpretação dos Sentidos. Participaram do estudo 21 puérperas, que se encontravam em situação de VPI em uma das fases do ciclo gravídico-puerperal e que tinham, no mínimo, 180 dias de pós-parto. Foi obtida, por meio de entrevista, a condição sociodemográfica, econômica, familiar e da VPI. E as questões norteadoras sobre a experiência de amamentar e da VPI contribuíram para a confecção dos dados qualitativos.

Resultados

Quanto à VPI na gestação, nove participantes sofreram algum tipo de violência, enquanto que, no período puerperal, esse número subiu para dezenove. Sobre o AM, apenas uma seguiu em AM exclusivo até o sexto mês. Os relatos obtidos originaram a categoria temática: “A violência por parceiro íntimo e as repercussões no aleitamento materno e na criança”, a qual abarcou as temáticas sobre as repercussões da VPI para a lactação, o impacto da VPI para o bebê e a vivência do aleitamento materno, temas esses abordados em três subcategorias distintas: “...Se não tivesse as brigas, o M. (filho) mamaria mais...”; “...eu me arrependo muito de ter brigado na frente do meu filho porque ele viu tudo, tinha vez que ficava nervoso e chorando de noite [enquanto estava] dormindo...” e “Vivência do aleitamento materno”. Desse modo, sendo o AM parte integrante do ciclo gravídico-puerperal foi possível observar, que em contextos violentos, o mesmo sofreu repercussão desta VPI impactando tanto na duração como no seu tipo. A VPI para estas participantes também foi responsável para o desmame precoce e/ou para a introdução precoce de alimentos. Segundo as participantes, a VPI fez com que as mamadas fossem interrompidas, e por vezes, gerou reflexos no bebê, tais como: choro, irritabilidade, problemas no ciclo do sono e predileção pela figura materna e em contrapartida afastamento da figura paterna. As mesmas também relataram que o estresse e os sinais de depressão, oriundos deste contexto de VPI, interferiram na vinculação, na afetividade e nos cuidados para com o filho. As participantes também disseram sobre as dificuldades no estabelecimento do manejo do AM, e que, os companheiros concordavam com a amamentação, no entanto, não as apoiava nem física e nem emocionalmente e, além disso, costumavam desmotivar a prática do AM ao proferir ofensas quanto ao corpo das mesmas, o que, de certa forma, destruía a imagem corporal da mulher e abalava sua estima, que por consequência repercutia na maneira como amamentavam. Observou-se ainda que a maior parte das participantes tiveram o desejo de amamentar, entretanto, além da VPI, as dificuldades iniciais no manejo do AM, assim como a volta ao trabalho, foram situações que desmotivaram a prática do AM, em especial, o AME até o sexto mês de vida do bebê.

Considerações Finais

Diante dos achados provenientes dos relatos puerperais pode-se compreender que ao dar voz às puérperas envolvidas em situação de VPI pode-se desvelar e entender em maior profundidade o fenômeno do AM em um contexto de VPI fato este que não se apresenta em pesquisas com recorte quantitativo. Desse modo, propõe-se maior visualização da temática no meio acadêmico, no âmbito da saúde e também no meio relacional dessas mulheres a fim de que esse assunto possa ser visualizado e discutido de forma individualizada e integralista.

Palavras Chave

ALEITAMENTO MATERNO; VIOLÊNCIA POR PARCEIRO ÍNTIMO; SAÚDE MATERNO-INFANTIL; PESQUISA QUALITATIVA

REFERÊNCIAS:

1. Silverman JG, Decker MR, Reed E, Raj A. Intimate partner violence around the time of pregnancy: association with breastfeeding behavior.J Womens Health. 2006;15(8):934-40.

2. Nakano AMS. A violência por parceiro íntimo no ciclo gravídico puerperal: implicações na amamentação [relatório de pesquisa]. Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 2016.

3. World Health Organization. Intimate partner violence during pregnancy. Geneva: World Health Organization, 2011.

4. Jardini L. A violência por parceiro íntimo e sua relação com a vivência da amamentação [tese]. São Paulo (SP): Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo; 2013.

5. Mariano LMB, Monteiro JCS, Stefanello J, Gomes-Sponholz FA, Oriá MOB, Nakano MAS. Aleitamento materno exclusivo e autoeficácia materna entre mulheres em situação de violência por parceiro íntimo. Texto Contexto Enferm. 2016; 25(4):1-10


6. Kendall-Tackett KA.Violence against women and the perinatal period: the impact of lifetime violence and abuse on pregnancy, postpartum, and breastfeeding. Trauma, Violence Abuse. 2007; 8(3):344-53.

7. Lau Y, Chan KS. Influence of Intimate Partner Violence during pregnancy and early postpartum depressive symptoms on breastfeeding among Chinese women in Hong Kong. J MidwiferyWomens Health. 2007;52(2):15-20.

8. Kendall-Tackett KA. Violence against women and the perinatal period: The impact of lifetime violence and abuse on pregnancy and postpartum. Trauma Psychology. 2008;3(1):1-8.

9. Lourenço MA, Deslandes SF. Experiência do cuidado materno e amamentação sob a ótica de mulheres vítimas de violência conjugal. Rev Saúde Públ. 2008; 42(2): 615-21.

10. James JP, Taft A, Amir LH, Agius P. Does intimate partner violence impacto n women’s initiation and duration of breastfeeding?. Breastfeeding Review. 2014; 22(2):11-9.

11. Devries KM, et al. Intimate partner violence during pregnancy: analysis of prevalence data from 19 countries. Reprod Health Matter. 2010; 18(36): 158-70.

Area

Saúde da Mulher

Autores

NAYARA GIRARDI BARALDI, JULIANA STEFANELLO, ANGELINA LETTIERE, DANIELA TAYSA RODRIGUES PIMENTEL, NATÁLIA REJANE SALIM, MÁRCIA REGINA CANGIANI FABBRO, ANA MÁRCIA SPANO NAKANO