Datos del trabajo


Título

CARACTERISTICAS E TATICAS DE RESOLUÇAO DE CONFLITOS CONJUGAIS E PARENTAIS

Introdução

A emergência de conflitos é inerente a todos os relacionamentos humanos, ou seja, consiste em um fenômeno característico da vida e comum entre membros de uma mesma família. Assim, os subsistemas conjugal e parental costumam se envolver em diferentes interações conflitivas ao longo do ciclo vital. Além disso, compreende-se que os conflitos do casal podem transbordar para a relação pais-filhos, o que é denominado ‘efeito spillover’. Tal acepção implica no comprometimento da qualidade das relações conjugais e parentais, bem como se associa a práticas negativas usadas por mãe e pai na criação dos filhos. Entretanto, mais do que a ocorrência de conflitos familiares, o que importa são as táticas utilizadas para a sua resolução, as quais podem ser construtivas ou destrutivas. Conflitos construtivos abrangem táticas de resolução bem-sucedidas, progressos no sentido da solução dos problemas e respeito mútuo. Quando os conflitos ocorrem na presença dos filhos, explicações por parte dos pais de como esses foram resolvidos e, até mesmo, explicações otimistas sobre a não resolução de conflitos são consideradas táticas construtivas, pois ensinam às crianças comportamentos positivos em situações de interações conflitivas. Em contrapartida, conflitos destrutivos abarcam táticas de agressão ou violência física, hostilidade não verbal, evitação, retirada abrupta durante a interação conflitiva, causando a obstrução desta, ameaças à estabilidade da família e brigas sobre temas relacionados aos filhos na presença destes. Estudos sobre essa temática são escassos no contexto brasileiro, evidenciando, portanto, a relevância de aprofundar a compreensão dos fenômenos que envolvem táticas de resolução de conflitos entre casais e pais-filhos.

Objetivos

O objetivo do presente estudo foi compreender as características e as táticas de resolução de conflitos conjugais e parentais em famílias com crianças.

Método

Trata-se de um estudo empírico, de abordagem qualitativa, que contou com a participação de 12 casais (n = 24), pais de crianças de 5 a 7 anos de idade, cujo tempo de união conjugal foi de seis a 24 anos. Os membros de cada casal responderam em conjunto a uma entrevista semiestruturada. As entrevistas foram gravadas, transcritas e formaram um corpus que foi categorizado por meio de análise de conteúdo categorial temática. A categorização ocorreu via processo de acervo, com recursos do software Atlas.ti. Duas juízas experts no tema avaliaram e aprovaram essa categorização para uso, com pequenos ajustes. A porcentagem de concordância de cada uma das juízas foi, respectivamente, de 84.6% e 92.3%.

Resultados

Os resultados foram apresentados em três categorias temáticas, quais sejam: 1) Conflitos conjugais e táticas de resolução; 2) Conflitos parentais e táticas de resolução; e 3) Reações parentais e filiais frente ao conflito conjugal na presença da criança. Os achados do estudo evidenciaram que os conflitos conjugais englobaram conteúdos diversificados, que envolveram motivos pessoais (dificuldades de deixar a vida de solteiro, abuso de álcool e depressão); relacionais (ciúme, suspeita de infidelidade e brigas); e contextuais (desentendimentos sobre a organização da casa, distanciamento em virtude do trabalho de um dos cônjuges e crise financeira). No que diz respeito às táticas de resolução de conflitos, tanto as construtivas quanto as destrutivas foram referidas pelos casais participantes. As táticas construtivas se caracterizaram por conversas entre os cônjuges, orientadas à comunicação aberta, avaliação de alternativas e solução de problemas. As táticas destrutivas se caracterizaram pela evitação do conflito, temporária ou permanente, ou pelo uso de hostilidade verbal para sua resolução. Os conflitos pais-filhos envolveram motivos relacionados à dificuldade parental para imposição de limites em situações em que os filhos fizeram birra, manha ou algo para chamar a atenção dos pais. As táticas construtivas usadas pelos pais envolveram disciplina não violenta, ou seja, conversas, explicações, repreensões e privação de privilégios. As táticas destrutivas parentais foram caracterizadas pela agressão física e psicológica. A agressão física abarcou palmadas ou chineladas, utilizadas em situações nas quais os pais visavam a castigar, obrigar os filhos a fazer algo ou cessar determinado comportamento. A agressão psicológica abrangeu situações em que os pais referiram ameaçar, enganar, incitar culpa ou medo nos filhos. As reações parentais frente ao conflito conjugal na presença da criança envolveram táticas construtivas (interrupção do conflito e fornecimento de explicações) e destrutivas (pedir para a criança sair do recinto no momento da interação conflitiva ou não lhe fornecer explicações). As reações da criança na ocorrência de conflitos conjugais, na presença dela, foram indicadas como de reatividade emocional (demonstração de tristeza ou raiva) ou manifestações comportamentais (intervenção no sentido de fazer parar o conflito, tampar os ouvidos, roer as unhas, chorar).

Considerações Finais

O presente estudo, oriundo da tese de doutorado da primeira autora, contribuiu para a caracterização de conflitos conjugais e parentais, evidenciando o uso de táticas construtivas e destrutivas de resolução de conflitos nos dois subsistemas pesquisados. Ademais, os resultados apontaram que o clima emocional tenso que emerge da situação conflitiva do casal transborda para o relacionamento pais-filhos, corroborando a perspectiva de efeito spillover. Os resultados deste estudo podem oferecer subsídios a profissionais que atuam junto a casais e famílias, no sentido de contribuir para o planejamento de intervenções visando a promoção de táticas construtivas de resolução de conflitos, as quais têm o potencial de favorecer o funcionamento das relações conjugais e parentais

Palavras Chave

conflito conjugal; conflito parental; relações conjugais; relações pais-filhos; resolução de problemas

Area

Saúde da Família

Autores

Simone Dill Azeredo Bolze, Beatriz Schmidt, Elisangela Böing, Maria Aparecida Crepaldi