Datos del trabajo


Título

ASPECTOS NUTRICIONAIS DO CUIDADO DE ENFERMAGEM NA ATENÇAO PRIMARIA A SAUDE

Introdução

No Brasil, mais de 50% das crianças de dois a cinco anos apresentam algum tipo de inadequação alimentar1 e em 2016, o excesso de peso afetava 54% dos brasileiros com 18 anos ou mais de idade e a obesidade quase 20%, com aumento de 62% e 14% nas prevalências de diabetes e hipertensão, respectivamente, na última década2. Assim, a vigilância alimentar e nutricional é recomendada como atribuição de todos os profissionais da saúde como parte da rotina dos serviços de saúde3, porém são escassos os estudos sobre a abordagem dos aspectos nutricionais no cuidado de enfermagem.

Objetivos

Analisar a percepção de enfermeiros sobre a abordagem dos aspectos nutricionais no cuidado prestado na Atenção Primária à Saúde.

Método

Estudo exploratório de abordagem qualitativa realizado com 17 enfermeiras de Unidades Básicas de Saúde da região oeste do município de São Paulo. Dados foram coletados de janeiro a maio de 2018 por meio de entrevista com roteiro semi-estruturado com as seguintes questões norteadoras: Abordar os aspectos nutricionais faz parte de sua rotina de trabalho? O que representa para você a abordagem dos aspectos nutricionais na prática? Como você faz essa abordagem? O que você destacaria como facilidades ou desafios e limitações para a sua atuação nessa área? As entrevistas foram gravadas, transcritas e submetidas à análise de conteúdo5. Estudo aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa.

Resultados

Foram entrevistadas 17 enfermeiras com idade média de 32 anos e tempo de atuação de 1 mês a 16 anos. Análise preliminar de 60% das entrevistas mostrou que na percepção das enfermeiras, a abordagem nutricional refere-se apenas a orientação alimentar realizada individualmente nas consultas, conforme o excerto: “Como eu abordo? a gente sempre questiona a questão alimentar, costuma perguntar o que ela come, se ela toma café da manhã, como é a prática alimentar dela no café da manhã, almoço, janta (...)”(E3). A abordagem da alimentação é feita especialmente para os grupos prioritários, ou seja, nas consultas de puericultura, gestantes, hipertensos e diabéticos: “em todos os ciclos de vida em algum momento a gente aborda questões nutricionais. Então, do recém-nascido o aleitamento, depois a transição alimentar, o desenvolvimento dessa transição. Com os pacientes hipertensos, diabéticos, de alimentação restritiva, na obesidade, alimentação restritiva, em todos os momentos a gente acaba abordando a nutrição” (E7). Contudo, as enfermeiras não reconhecem a abordagem nutricional como uma atribuição da categoria profissional e não se sentem preparadas: “eu acho que ela (nutricionista) tem outras estratégias de abordagem na questão nutricional que isso é um pouquinho diferente do enfermeiro, a gente aborda numa questão mais ampla” (E1). “ela (nutricionista) se especializou nisso, ela se formou nisso, ela sabe o que está fazendo, melhor do que eu que sou enfermeira” (E2). As enfermeiras atribuem a dificuldade na abordagem nutricional ao precário ensino de nutrição na:“o enfermeiro não recebe um treinamento específico para isso, a gente não tem essa formação (...) na graduação não tem especificamente essa abordagem, como abordar a parte nutricional, a gente vai nessa prática diária, vai aprendendo na vivência do dia a dia” (E6). Ter experiência pessoal ou familiar com situações que requerem cuidado alimentar contribui para sua atuação: “toda experiência que a gente tem pessoal, influencia muito na gente enquanto profissional. O aleitamento é uma das coisas que mudou muito minha atuação, eu sou uma enfermeira antes e depois da maternidade para tudo (...) a gente muda muito a visão” (E7). A atuação na Estratégia Saúde da Família é considerada como um aspecto facilitador para a abordagem nutricional, atribuída especialmente à longitudinalidade do cuidado: “ter um relacionamento mais próximo com paciente, você tem vínculo com ele, então você faz um acompanhamento longitudinal daquele paciente. Você consegue ali ver o que está acontecendo, quais são as transformações que estão tendo, você consegue fazer visita domiciliar também, então é algo que também pode ajudar bastante” (E9). Ao mesmo tempo, representa um desafio pelas condições do processo de trabalho: “você tem que atender no tempo mais corrido, às vezes você quer até dar um pouquinho mais de atenção, mas não dá tempo, a gente tem que bater meta” (E5). A pobreza e a precariedade social também foram apontadas como desafios à abordagem nutricional: “um grande nó é o problema social, porque não é só abordar as coisas, ah... então a partir de hoje você vai comer pão integral duas vezes por dia. Eles não têm acesso, não têm dinheiro, não têm o que precisa primeiro. Isso é o dia-a-dia, é a prática”(E3);“uma dificuldade, é dar umas orientações para o paciente de baixa renda, que um pacote de bolacha recheada é bem mais barato do que uma maçã, sabe?” (E5).

Considerações Finais

Análise preliminar aponta uma visão reduzida da abordagem nutricional pelo enfermeiro, que é pautada basicamente em orientações individuais quanto à alimentação nos diferentes ciclos da vida. Fica evidente que o enfermeiro não reconhece o cuidado dos aspectos nutricionais como atributo de sua prática profissional, justificada pelo déficit na formação acadêmica e também em serviço. Ademais, na percepção das enfermeiras deste estudo, o processo de trabalho, que impõe um ritmo acelerado à produção do cuidado, aliado aos aspectos sociais e econômicos da comunidade, representam grandes desafios na abordagem dos aspectos nutricionais na atenção primária à saúde.

REFERÊNCIAS
1. Alves MN, Muniz LC, V MFA. Consumo alimentar entre crianças brasileiras de dois a cinco anos de idade: Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS), 2006. Ciênc saúde coletiva. 2013;18(11):3369-77.
2. Vigitel 2016: Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília: Ministério da Saúde.
3. Brasil. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: obesidade. Brasília: Ministério da Saúde, 2014a. 212p. (Cadernos de Atenção Básica, n. 38).
4. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 11. Ed. São Paulo: Hucitec, 2008. 407 p.

Palavras Chave

Cuidado de enfermagem, Atenção Primária à Saúde, Vigilância Nutricional

Area

Saúde Coletiva

Autores

Carla Fernandes dos Santos Magalhães, Claudia Nery Teixeira Palombo, Luciane Simões Duarte, Aline Yukari Kurihayashi, Katherine Solís-Cordero, Elizabeth Fujimori